quinta-feira, 6 de abril de 2017

Capítulo XLIII - A Morte de Cristo


Capítulo XLIII

A Morte de Cristo

O Cristianismo, diferente das outras religiões, está baseado primariamente sobre a morte de seu Fundador. O sacrifício de Cristo é o tema fundamental do evangelho (1 Coríntios 15:1-4). Paulo declarou: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Coríntios 2:2). Ele explicou: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1 Coríntios 1:18). A história da salvação brota do madeiro da cruz e de uma sepultura vazia.

A cruz era o objetivo do ministério terreno de Cristo. Jesus nasceu para morrer. Em certo sentido, Ele nasceu “crucificado”. A sombra da cruz estendeu-se pelos anos até a manjedoura de Belém. “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores” (1 Timóteo 1:15). “Ele se manifestou para tirar os nossos pecados” (1 João 3:5). “Agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9:26). No princípio de Seu ministério, Ele foi revelado como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1:29). Nosso Salvador explicou: “O Filho do Homem veio... para dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10:45).

O sacrifício de Cristo é essencial para a salvação. É um importante fator no plano eterno de Deus. Se Jesus não houvesse morrido como um Sacrifício, a humanidade não teria um Salvador. Todos os homens são pecadores e dignos de destruição. Além disso, eles não são aptos a se salvarem pelas suas próprias obras. Jesus é a única pessoa qualificada para ser o sacrifício do homem; sem a Sua morte, portanto, não pode haver salvação. “... se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (João 12:24). Os santos do Antigo Testamento foram capazes de experimentar a salvação porque os benefícios do sacrifício de Cristo alcançaram o passado e cobriram seus pecados. O sacrifício de animais somente apontava para frente para o Seu suficiente sacrifício.


I. Profecias do Antigo Testamento

Existem duas importantes profecias sobre a morte de Cristo no Antigo Testamento: Salmos 22 e Isaías 53. Esses dois capítulos são complementares; eles formam um conjunto. Eles são duas metades de uma imagem completa. Salmos 22 prediz os detalhes históricos da morte de Cristo; Isaías 53 explica o significado doutrinal de Sua morte. Salmos 22 narra Sua trágica crucificação; Isaías 53 revela Seu amável sacrifício. Salmos 22 diz como Jesus morreu; Isaías 53 explica porque Jesus morreu. Salmos 22 é narrado como se o Próprio Crucificado estivesse falando. Cristo é referido na primeira pessoa do singular (eu, meu, mim). Isaías 53 é narrado como se o observador da crucificação estivesse falando. Cristo é referido por pronomes na terceira pessoa do singular (ele, dele, nele). O estudo detalhado desses dois capítulos é imensamente recompensador.

1. Salmos 22. Estude especialmente versos 1, 6-8, 14-18, 22 e 25-31 do Salmos 22. Observe a maravilhosa previsão sobre as palavras de Cristo na cruz (verso 1), o fato de que Ele foi desprezado (verso 6), o escárnio do povo (versos 7 e 8), os resultados físicos da crucificação (verso 14), o fato de que Ele sentiu sede (verso 15), o fato de que Suas mãos e pés foram furados e que Ele foi cercado por malfeitores (verso 16), Sua nudez parcial (verso 17), lançaram sorte pelas Suas vestes (verso 18). O restante desse capítulo está relacionado aos resultados espirituais de Seu sacrifício.

2. Isaías 53. Isaías tem sido descrito como uma caixa de joias do Antigo Testamento, e Isaías 53 é a joia dessa caixa. É possivelmente o capítulo mais importante no Antigo Testamento. Apresenta uma explanação e descrição gráfica do sacrifício de Cristo. Cristo é descrito como nosso Substituto. Sua morte foi uma oferta pelo pecado, uma satisfação para a santidade de Deus. É o meio pelo qual os crentes são justificados e reconciliados com Deus.

Profecias adicionais do Antigo Testamento sobre a morte de Cristo incluem: Gênesis 3:15; Daniel 9:26 e Zacarias 13:7.


II. Tipos do Antigo Testamento

O Antigo Testamento é abundante em incidentes que simbolizam e apontam para a morte de Cristo. Tipos podem ser utilizados para ilustrar, mas talvez não possam ser usados para provar a verdade bíblica. Numerosos objetos e homens no Antigo Testamento são empregados pelos estudiosos da Bíblia como tipos da morte de Cristo. Nós sentimos que uma consideração das cinco principais e nítidas figuras da morte de Cristo seja de maior valor que a consideração de tipos que dão abertura a questionamentos ou requerem a força da imaginação.

Uma outra palavra sobre os tipos bíblicos é que nem todos os detalhes de um incidente ou objeto da Bíblia necessariamente fazem parte do tipo. Alguns ensinos ridículos e fantásticos têm resultado de estudiosos bíblicos que “pressionam” demais os tipos em busca de significados típicos em detalhes. Ao comprovar a doutrina pelos textos e ilustrar a doutrina por meio de tipos, é melhor selecionar poucos textos fortes e poucos tipos nítidos do que confundir as pessoas com uma infinidade de textos e tipos que sejam obscuros.

1. O Cordeiro de Abel. “E aconteceu, ao cabo de dias, que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou” (Gênesis 4:3-5). O Senhor aceitou a oferta de Abel, mas rejeitou a oferta de Caim. Abel era justo e tinha fé (Hebreus 11:4). Ele trouxe um sacrifício de sangue (Hebreus 9:22). Caim era injusto, não tinha fé e trouxe um sacrifício sem sangue. O cordeiro de Abel tipifica o sangue do sacrifício do Cordeiro de Deus.

2. Abraão Oferecendo a Isaque. O segundo maior tipo da morte de Cristo na Bíblia está registrado em Gênesis 22. Em obediência a Deus, Abraão tomou Isaque, seu único filho, e o levou para a terra de Moriá para oferecer como oferta queimada. Quando a fé de Abraão foi demonstrada, a vida de Isaque foi poupada e um carneiro foi oferecido em seu lugar. Nesse tipo, Abraão representa Deus; Isaque representa Jesus, o Filho unigênito de Deus. O fato de Isaque ter carregado a lenha para a oferta queimada, tipifica Cristo carregando a Sua cruz. O fato de Isaque obedientemente permitir o seu idoso pai oferecê-lo é uma figura de Cristo oferecendo-Se voluntariamente em sacrifício. A diferença entre o tipo e o antítipo é que Cristo efetivamente morreu e Isaque não morreu.

3. O Cordeiro Pascal. Ao libertar Sua nação da escravidão Egípcia, Deus trouxe uma série de pragas sobre o Egito. As pragas tinham como objetivo persuadir o Faraó a libertar os israelitas, enfatizar aos israelitas o preço de sua redenção e mostrar que as deidades egípcias não tinham poder. A décima e última praga foi a morte dos primogênitos (Êxodo 11:4-7).

Os israelitas foram salvos dessa praga pela provisão feita pelo sangue do cordeiro pascal (Êxodo 12:3-14). Cada família deveria selecionar um cordeiro no décimo dia do mês. No décimo quarto dia o cordeiro seria imolado e o seu sangue espargido sobre a verga da porta na casa em que a família iria comer o cordeiro assado. Quando o anjo da morte visitou o Egito e trouxe morte aos primogênitos, ele não parou nas casas dos israelitas; o anjo da morte passou sobre elas (no inglês: passed over). O cordeiro, portanto, foi chamado cordeiro Pascal (passover lamb), e a festa anual comemorando o evento foi chamada a Festa da Páscoa (Passover Feast).

O Cordeiro Pascal é uma figura de Jesus, o imaculado Cordeiro de Deus, sacrificado pelos primogênitos, a Igreja. “Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Coríntios 5:7). Como o cordeiro Pascal, Jesus era “sem mácula, um macho de um ano”. Ele foi imolado por “todo o ajuntamento da congregação de Israel” no mesmo dia e hora, assim como foi com o cordeiro Pascal. O fato de o cordeiro ser assado retrata o sofrimento de Jesus. O pão não fermentado mostra que Ele não tinha pecado; as ervas amargas, Sua aflição. O fato de que o cordeiro deveria ser assado “a cabeça com os pés, e com a fressura” tipifica que nenhum osso do corpo de Cristo foi quebrado. Os israelitas no Egito representam os pecadores sob a escravidão do pecado. Os pecadores estão sentenciados à destruição na segunda morte. Deus providenciou a sua redenção através do sangue de Cristo. Para experimentar a redenção, os pecadores devem reconhecer a Cristo como seu Cordeiro Pascal e apropriarem-se dos benefícios advindos de Seu sacrifício, revestindo-se d’Ele. O fato de os israelitas estarem na casa, estarem sob o sangue e banqueteando-se com o cordeiro assado, indica que o crente deve se revestir de Cristo e alegrar-se n’Ele, que sofreu como seu Substituto.

4. Altar de ofertas queimadas. O altar das ofertas queimadas no tabernáculo e posteriormente no templo é um tipo do sacrifício de Cristo. O altar foi construído em madeira e era coberto de bronze; bronze é um símbolo Bíblico de julgamento pelo pecado. Animais mortos e queimados sobre o altar figuram Jesus. O fato de que a pessoa que oferecia o sacrifício imolado colocava suas mãos sobre a cabeça do animal tipifica a identificação do crente com Cristo e sua fé n’Ele.

5. Serpente de bronze. No deserto, Deus enviou serpentes mortais para picar os israelitas como punição pelos seus murmúrios contra Ele. Em resposta à oração de intercessão feita por Moisés, Deus instruiu que uma serpente de bronze fosse construída e colocada em um poste. Se um israelita que tivesse sido picado pela serpente olhasse para a serpente de bronze, ele viveria (Números 21:5-9).

A serpente de bronze é uma figura de Cristo na cruz. “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:14,15). As serpentes representam o pecado e a sua punição. O poste tipifica a cruz. A serpente tipifica a Cristo que levou nossos pecados (2 Coríntios 5:21). Olhar para a serpente de bronze tipifica o pecador olhando para o Cristo crucificado por fé. Olhando e crendo são sinônimos bíblicos.

6. Outros tipos da morte de Cristo. Outros objetos, incidentes e indivíduos no Antigo Testamento que tipificam o sacrifício de Cristo incluem: o animal que morreu para prover vestes de pele para Adão e Eva (Gênesis 3:21); a arca que protegeu Noé e sua família das águas do juízo porque foi selada com betume (Gênesis 6:14); a palavra hebraica para betume kaphar significa “expiação” ou “cobrir”; José, rejeitado por seus irmãos; a rocha, que trouxe água para os israelitas sedentos, ferida por Moisés no deserto (Êxodo 17:6; 1 Coríntios 10:4; Isaías 55:1); os dois bodes usados no Dia da Expiação, um sendo enviado ao deserto como bode emissário, e o sangue do outro bode sendo oferecido sobre o propiciatório no Lugar Santíssimo do tabernáculo; o véu do templo (Hebreus 10:20), as cinco oferendas de Levíticos 1-7; o sacrifício da novilha vermelha (Números 19:2); e a lei do parente remidor (Levíticos 25:47-54; Rute).


III. A morte de Cristo no Novo Testamento

A morte de Cristo é mencionada mais de 175 vezes no Novo Testamento. Visto que o Novo Testamento contém 7.959 versículos, significa que a grosso modo, no Novo Testamento, um verso a cada cinquenta refere-se à morte de Cristo. Mais de um quinto dos quatro evangelhos, que descrevem o ministério terreno de Cristo, é devotado à Sua morte e ressurreição.

O sacrifício de Cristo é o ensino central do Novo Testamento. Os quatro Evangelhos apresentam detalhes históricos da morte de Cristo. O Atos dos Apóstolos relata a história da aplicação dos benefícios de Seu sacrifício. O livro nos conta sobre os pecadores tendo seus pecados lavados por Seu sangue. As Epístolas explicam o significado doutrinário de Sua morte, elas dizem porquê Jesus morreu. O Apocalipse descreve a consumação da salvação tendo como base a morte do Cordeiro de Deus.

1. A Morte de Cristo nos Evangelhos. Nosso Senhor previu o fato de Sua morte: Mateus 16:21; 17:22, 23; 20:17-19; 26:12,31; João 2:19-21; 12:32,33. Jesus explicou o significado de Sua morte nos seguintes versos: Mateus 26:28; Marcos 12:24; Lucas 22:20; João 12:24,31,32; Lucas 24:46,47; Mateus 20:28; João 10:11,15,17; 15:13; 3:14-16; 6:51; 1:29.

2. A Morte de Cristo nos Escritos de Paulo. O sacrifício de Cristo ocupa o lugar mais importante na pregação e nos escritos de Paulo: Romanos 3:23-26; 4:25; 5:6-10; 6:3-6,10; 7:4-6; 8:3,4,32,34; 1 Coríntios 1:18,22-24; 5:7; 8:11; 15:3; 2 Coríntios 5:14-21; 8:9; Gálatas 1:4; 2:20; 3:13; 4:4,5; 6:14; Efésios 1:7; 2:13; 5:1,2, 25-27; Filipenses 2:8; 3:10; Colossenses 1:14,20-23; 1 Tessalonicenses 1:10; 4:14; 5:9,10; 1 Timóteo 2:5,6; 2 Timóteo 1:10; 2:8; Tito 2:14; Hebreus 2:9-18; 5:7,8; 7:27; 9:12,14,15,26,28;10:4, 10, 12, 19; 12:2; 13:12.

3. A Morte de Cristo nos Sermões e Cartas de Pedro. Pedro enfatiza a morte de Cristo em seus sermões: Atos 2:23; 3:14,15; 10:39; e em suas epístolas: 1 Pedro 1:2,18,19; 2:21-24; 3; 18; 4:1,13.

4. A Morte de Cristo nos Escritos de João. João, o apóstolo, revelou o Filho de Deus como o Cordeiro que morreu como sacrifício pelo pecador: João 1:29; 3:14-16; 6:51; 10:11; 11:49-52; 12:24,32,33; 15:13; 1 João 1:7; 2:2; 3:16; 4:10; Apocalipse 1:5; 5:6,9; 7:14; 13:8.


IV. Sete doutrinas de Salvação

As sete doutrinas ou elementos de salvação, considerados sob a Hamartiologia e Soteriologia, são baseadas na morte sacrificial de Cristo. Sem a Sua morte, a salvação seria impossível. Os três fatores da salvação são a Graça de Deus, a morte de Cristo e a fé do homem. A graça de Deus é a origem da salvação; a morte de Cristo é a base da salvação; a fé do homem é a condição da salvação. Cada uma das sete doutrinas da salvação está relacionada com a graça de Deus, a morte de Cristo e a fé do homem. Por exemplo, o homem é justificado pela graça de Deus (Tito 3:7), o sangue de Cristo (Romanos 5:9) e a fé do homem (Romanos 3:28). No momento, nosso interesse é observar a relação do sacrifício de Cristo com essas sete doutrinas de salvação.

1. Perdão. O perdão dos pecados se torna possível através do sangue de Cristo: Mateus 26:28; Lucas 24:46,47; Efésios 1:7; 1 João 1:7.

2. Justificação. Os crentes são justificados diante de Deus com base na morte de Cristo como seu Substituto: Romanos 3:25; 4:25; 5:9.

3. Reconciliação. O sacrifício de Cristo possibilita a reconciliação dos pecadores com Deus. A Sua morte removeu a inimizade entre o homem e Deus: Romanos 5:9-11; Efésios 2:16; Colossenses 1:20-23.

4. Redenção. Deus, o Redentor, compra no mercado os escravos do pecado com o sangue redentor de Seu Filho, que voluntariamente entregou Sua vida como o preço do resgate pelos pecadores: 1 Pedro 1:18,19; Tito 2:14; Romanos 3:24,25; 1 Timóteo 2:6; Mateus 20:28; Marcos 10:45; Efésios 1:7; Colossenses 1:14.

5. Santificação. Os pecadores são separados do mundo, são colocados sobre solo sagrado e se tornam interiormente puros através do sacrifício de Cristo: Hebreus 10:10,14; 13:12; Efésios 5:25,26.

6. Novidade de Vida. Os crentes se tornam novas criaturas e recebem novidade de vida porque Jesus morreu por eles e ressuscitou dos mortos para a imortalidade: 2 Coríntios 5:14-17; Gálatas 2:20; Romanos 6:3,4.

7. Adoção. Com base no sacrifício de Cristo, Deus adota os crentes, os quais eram estranhos a Deus e miseráveis, e os coloca numa posição de filhos adultos com todos os privilégios de herdeiros: Gálatas 4:5,6.

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