quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Capítulo LXVIII - Formação Histórica da Igreja



Capítulo LXVIII

Formação Histórica da Igreja


A verdadeira Igreja do Novo Testamento foi fundada por nosso Senhor Jesus Cristo. Depois que Pedro fez sua histórica confissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16), Jesus declarou: “Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18). Jesus é o fundador e construtor da Igreja. A “pedra” sobre a qual Jesus construiria a Sua Igreja não era Pedro, a palavra grega petros, uma simples pedra ou cascalho; era sobre o próprio Jesus e a confissão de fé de Pedro em Sua filiação divina. A “pedra” vem da palavra grega petra, a borda de uma rocha ou bloco inamovível. Petra ocorre dezesseis vezes no Novo Testamento. Ela é usada cinco vezes simbolicamente para se referir a Cristo (Mateus 16:18; Romanos 9:33; 1 Coríntios 10:4; duas vezes; 1 Pedro 2:8). Jesus é o único fundamento da Igreja (1 Coríntios 3:11).

O fato de Jesus ter dito: “Eu edificarei a minha igreja” mostra que antes deste tempo a Igreja não existia. O corpo de Cristo não poderia funcionar até que Jesus se colocasse como cabeça “sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Efésios 1:22,23). Não poderia existir Igreja até que Jesus a comprasse com Seu próprio sangue (Atos 20:28; Efésios 5:25-27). A Igreja não poderia ter vida até que Cristo ressuscitasse dos mortos para dar a ela novidade de vida (Colossenses 3:1-3). A cabeça nasce antes do corpo; a fundação é lançada antes do edifício ser erguido; a noiva é buscada pelo noivo. Assim como Adão foi criado antes que Eva fosse formada, assim o ministério terreno de Cristo precedeu a formação da Igreja. Embora homens de fé tenham vivido durante a dispensação do Velho Testamento (Hebreus 11), e os fiéis de Israel estarão no futuro Reino, a Igreja como corpo de Cristo não existiu no Antigo Testamento.

Jesus proveu a base para a formação da Igreja em Suas palavras, Suas obras, Sua vida sem mácula, Sua morte sacrificial e Sua ressurreição para a imortalidade. Durante Seu ministério terreno, Jesus escolheu doze apóstolos para formar o núcleo de Sua Igreja, para serem “patriarcas” do novo povo de Deus e testemunhas dele mesmo. Antes que a Igreja fosse formada, Jesus deu duas ordenanças: batismo, por Seu próprio exemplo (Mateus 3:13-16) e por Seu preceito (Marcos 16:15,16; Mateus 28:18- 20); e a Ceia do Senhor (Mateus 26:26-29). Ele definiu o poder e a autoridade da Igreja; Ele mostrou sua missão e obra mundial. Ele prometeu que estaria com ela “até a consumação dos séculos”.

A Igreja teve sua origem histórica em Jerusalém, no Pentecostes, a Festa Judaica das Semanas, no mesmo ano em que Jesus foi crucificado. Quarenta dias depois de Sua ressurreição, Jesus ascendeu aos céus. Antes de Sua ascensão, Ele “determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes” (Atos 1:4; Lucas 24:49). Em obediência à instrução de Cristo, os discípulos esperaram em Jerusalém até que Ele lhes enviou o Seu poder, o Espírito (Lucas 24:52,53; Atos 1:11-14). Exaltado no céu e havendo recebido o Espírito de Seu Pai, Cristo enviou o Espírito na vida dos discípulos em Jerusalém (Atos 2:1-21,33). O Espírito era o meio pelo qual Cristo realizava Sua obra na Igreja. Através desse poder, o cabeça exaltado uniu os discípulos num só corpo, Sua Igreja. Ele transformou suas vidas e lhes deu poder para realizar a obra. O sermão de Pedro para a multidão (Atos 2:14-36) resultou na conversão de três mil pessoas no Pentecostes (Atos 2:37-41).

O Pentecostes marcou não somente o princípio da Igreja, o corpo de Cristo, mas também a fundação da Igreja local e visível de Jerusalém. Lucas descreveu a alegria fraternal daquela primeira congregação dos crentes: “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade. E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2:41-47).

Pentecostes, conhecido também como Festa das Semanas, era um festival anual de ação de graças dos judeus observado em reconhecimento pela conclusão da colheita na primavera (Levítico 23:15-21). Era conhecida como Pentecostes porque ocorria cinquenta dias depois da Festa das Primícias. Era conhecida como Festa das Semanas porque ocorria sete semanas depois do dia seguinte à Festa das Primícias. Ela durava um dia. Neste dia, uma fatia do pão feito com o término da colheita obtida na primavera era cortada diante do Senhor em ação de graças. O Pentecostes era a terceira das seis maiores festas religiosas anuais de Israel. As três festas observadas na primavera eram a Festa da Páscoa, a Festa das Primícias (Primeiros Frutos) e a Festa das Semanas. As três festas observadas no outono eram a Festa das Trombetas, o Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos. A Festa da Páscoa comemorava a libertação de Israel da escravidão no Egito. Era profética de Cristo, nosso Cordeiro Pascal, sacrificado por nós. A Festa das Primícias era profética da ressurreição de Cristo para a imortalidade. Ele é o Primeiro Fruto dos que dormem na morte e o primeiro a ressuscitar dos mortos para a imortalidade. A Festa das Semanas era profética da formação da Igreja, que ocorreu numa das celebrações anuais dessa antiga festa. A lei foi entregue a Israel no Monte Sinai no dia em que a Festa das Semanas era celebrada. O Espírito Santo foi concedido à Igreja anos mais tarde, no mesmo dia em que essa festa anual era observada. No Sinai, no dia de Pentecostes, Israel foi transformado numa nação. Em Jerusalém, no dia de Pentecostes, a Igreja foi transformada no corpo de Cristo. O fato de que a celebração religiosa da Festa das Semanas envolva o partir de uma fatia de pão diante do Senhor é profético da unidade dos membros da Igreja. Os membros da Igreja se tornam parte de um único pão, um corpo, um edifício e uma noiva.

De Jerusalém, os discípulos “tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com sinais que se seguiram” (Marcos 16:20). Eles eram testemunhas de Cristo “tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Durante o primeiro século, Pedro, Paulo e João foram os três principais líderes na Igreja. Atos 1-12 descreve principalmente o trabalho de Pedro em Jerusalém como a cidade central, e com o evangelho sendo anunciado primeiramente aos judeus. Atos 13-28 descreve principalmente o trabalho de Paulo, com Antioquia como a cidade central, e com o evangelho sendo anunciado principalmente aos gentios. Os Atos dos Apóstolos começam com Pedro em Jerusalém e termina com Paulo em Roma. Perto do fim do primeiro século, depois da morte de Paulo, o centro de atividade do evangelho é mudado para Éfeso, onde o apóstolo João era o líder principal (Apocalipse 1-3). Como resultado da obra missionária de Paulo, dos outros apóstolos e dos primeiros cristãos, foram estabelecidas igrejas locais em quase todos os países do mundo mediterrâneo incluindo Síria, Egito, Ásia Menor, Grécia, Itália, Espanha e outros.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Capítulo LXVII - O Novo Povo de Deus


Capítulo LXVII

O Novo Povo de Deus


A Igreja é o novo povo de Deus. Os crentes se tornam novas criaturas em Cristo Jesus e se tornam parte de um novo grupo da humanidade. Pedro disse aos cristãos: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia” (1 Pedro 2:9,10). No concílio em Jerusalém, Tiago declarou: “Simão relatou como, primeiramente, Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para seu nome” (Atos 15:14). Paulo escreveu que Cristo “deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14). “E que consenso tem o povo de Deus com os ídolos? Porque vós sois templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (2 Coríntios 6:16).


I. Três Grupos da Humanidade

A Igreja é um dos três grupos nos quais todos os homens são divididos. Paulo escreveu: “Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1 Coríntios 10:32 ARA). De acordo com essa classificação divina, todo homem é judeu, gentio ou parte da Igreja de Deus. Os judeus são a nação do conserto com Deus, Israel. Os gentios são as pessoas comuns não judaicas, as nações. A Igreja de Deus é o corpo de Cristo, composta por ambos judeus e gentios.

Esses três grupos nem sempre existiram. Durante  o tempo entre Adão e Abraão, havia unicamente um grupo, as nações ou gentios. Durante o tempo entre Abraão e o ministério terreno de nosso Senhor, houve dois grupos na humanidade, as nações e a nação, ou gentios e judeus. Hoje, durante os séculos entre o Pentecostes e o retorno de Cristo, existem três grupos: as nações, a nação e a Igreja; gentios, judeus e a Igreja de Deus. Cada um desses três períodos durou aproximadamente dois mil anos. Durante o primeiro período, Deus trabalhou com a massa da humanidade; durante o segundo, Ele trabalhou principalmente com a nação, Israel; durante o terceiro, Ele está trabalhando principalmente com a Igreja. Nós vivemos na dispensação da Igreja.

1. Gentios. Todos os homens, por natural nascimento, ou são gentios ou judeus. Gentios são as pessoas que não são judias. Israel, a nação escolhida de Deus, não existiu antes que Deus escolhesse Abraão para se tornar o seu ancestral. Antes da formação da nação do conserto de Deus, todos os homens eram gentios. Depois do dilúvio, as nações se originaram dos três filhos de Noé (Gênesis 9:19; 10:32). No princípio, todos os homens estavam unidos. Eles tinham uma mesma língua, viviam juntos como um só povo; eles conheciam o único Deus. A humanidade se degenerou, porém, da civilização para a selvageria e do monoteísmo para o paganismo. Havendo dado as costas para a luz, o homem mergulhou na escuridão. Como um juízo divino, Deus alterou a língua das nações e as espalhou por entre os continentes (Gênesis 11:1-9). A longa noite do paganismo havia começado.

2. Israel. Habitando no paganismo, a massa da humanidade não é agradável a Deus. Através de Seu plano de salvação, Deus propôs o resgate das nações da escuridão e a restauração para a luz. Ele desejou salvá-las do pecado para a justiça, da idolatria para o monoteísmo e da mitologia para a verdade. Ele queria que todas as nações O adorassem como único e verdadeiro Deus e vivessem de acordo com Seus princípios de justiça. Para cumprir Sua obra de reclamar para Si mesmo a humanidade, Deus planejou operar através de uma nação escolhida que seria um exemplo e testemunha missionária para outras nações. Porém, nenhuma das nações existentes sobre a terra estava qualificada para esta obra de redenção. Todas as nações haviam se degenerado para o paganismo. Todas as nações necessitavam igualmente de redenção. Dessa forma, Deus planejou formar Sua própria nação especialmente para esse propósito. Assim, Deus escolheu Abraão para ser o fundador de Sua nação missionária, Israel. Israel nunca teria existido se não fosse pela obra de Deus. A origem, continuação e preservação da nação resultou da obra miraculosa de Deus.

A nação escolhida de Deus foi exaltada sobre todas as nações (Êxodo 19:5,6; Deuteronômio 7:6; 14:1,2; 26:16-19). Deus colocou Sua nação na terra de Canaã, na ponte de três continentes, o cruzamento do mundo, o centro da terra. Israel deveria ser uma luz brilhando na escuridão, uma nação sacerdotal para trazer as nações pagãs de volta para Deus. Para se achegar a Deus, os gentios deveriam se tornar parte da nação escolhida de Deus. A história do Antigo Testamento descreve primariamente a obra de Deus com Sua única nação escolhida.

3. A Igreja. Durante os séculos desde o ministério terreno de Cristo, Deus tem trabalhado com um novo grupo da humanidade, a Igreja de Deus. A Igreja é o novo povo composto de ambos, judeus e gentios. “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). “Onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Colossenses 3:11). Quando os pecadores aceitam Jesus como Senhor e Salvador, eles não são mais considerados judeus ou gentios aos olhos de Deus; as velhas distinções desaparecem. Os homens se tornam novas criaturas e parte de um novo grupo da humanidade; eles são membros da Igreja.

Conceder aos gentios uma posição de igualdade com o povo do concerto do Velho Testamento significa ao mesmo tempo o cancelamento da posição privilegiada do judeu e o colocar à parte Israel como nação (Romanos 11:25). Visto da posição da nação de Israel na história da salvação, a presente era é assim um parêntese. O gentio pode agora beber do benefício público da salvação sem que antes tenha de obter a permissão do judeu (Romanos 10:12,13). Um endurecimento parcial cobriu Israel, mas a sua “queda” é a riqueza do mundo (Romanos 11:25,11,12). Estes que estavam longe se tornaram próximos (Efésios 2:11-13): os gentios crentes têm o mesmo direito que o judeu crente. Eles são coerdeiros e membros do mesmo corpo, coparticipantes da promessa e concidadãos com os santos (Efésios 3:6; 2:19). Eles compartilham as possessões espirituais (Romanos 15:27), e são juntamente com eles “um novo homem”, o corpo de Cristo (Efésios 2:15,16). Sendo assim, a distinção não mais governa na Igreja.
(Erich Sauer. Op. cit., pág. 64)


III. Três Grupos Relacionados

Para as nações, Cristo é a pedra que esmiúça (Daniel 2:34,35,44,45; Apocalipse 19:11-16). Para Israel, Cristo é a pedra de tropeço (Isaías 8:14,15; Mateus 21:33,34). Para a Igreja, Cristo é a pedra de esquina (Isaías 28:16; Efésios 2:20,21). As nações negligenciaram a Cristo; elas serão quebradas em pedaços. Israel rejeitou a Cristo; eles foram espalhados entre as nações. A Igreja aceitou a Cristo; está edificada sobre Ele.

Os gentios são retratados como um homem na imagem de metal no sonho de Nabucodonosor (Daniel 2:31-45). Israel é retratado como um homem e um exército que está sem vida e de quem os ossos estão separados, na visão de Ezequiel do vale dos ossos secos (Ezequiel 37:1-11). A Igreja é retratada como um homem, o novo homem em Cristo Jesus, um corpo composto de ambos judeus e gentios tendo Cristo como cabeça (Efésios 2:11-19).

A Festa das Trombetas, onde Israel se reunia pelo soar das trombetas (Levítico 23:23-25) é profética dos eventos que ocorrerão nos últimos dias da era da Igreja. As trombetas proféticas estão soando para ajuntar as nações para a batalha e o julgamento (Joel 2:1; 3:9-16), para ajuntar Israel na terra da Palestina (Isaías 27:12,13) e para ajuntar a Igreja na nuvem de glória no retorno de Cristo (1 Tessalonicenses 4:16,17; 1 Coríntios 15:51,52).

Durante a era do Reinado, Deus trabalhará com todos os três grupos da humanidade. A Igreja será completada e glorificada. Os cristãos mortos serão ressuscitados e os cristãos vivos serão transformados na segunda vinda de Cristo. A Igreja glorificada será arrebatada para encontrar o Senhor nos ares, e estará com Ele quando Ele aparecer para as nações como o Rei dos reis. Israel, espalhado entre as nações e perseguido durante a era da Igreja, será resgatado para a Palestina, convertido a Cristo como o Messias e exaltado entre todas as nações. Israel então cumprirá sua obra sacerdotal de trazer as nações até Deus. As nações ou gentios que forem salvos do dia da ira, servirão a Cristo, o Rei, e viverão em paz e justiça (Zacarias 14:16; Miquéias 4:1-4).

A qual grupo da humanidade você pertence? Você é judeu, gentio ou membro da Igreja de Deus? Uma pessoa só pode pertencer a um grupo de cada vez. Todo homem nasce judeu ou gentio; ninguém nasce como membro da Igreja. Aceitando as dádivas de salvação de Deus, o pecador, se ele é judeu ou gentio, pode se tornar um membro da Igreja, o novo povo de Deus.