Capítulo LXVIII
Formação Histórica da Igreja
A verdadeira Igreja do Novo Testamento foi fundada por nosso
Senhor Jesus Cristo. Depois que Pedro fez sua histórica confissão de fé: “Tu és
o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16), Jesus declarou: “Pois também eu
te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18). Jesus é o fundador e
construtor da Igreja. A “pedra” sobre a qual Jesus construiria a Sua Igreja não
era Pedro, a palavra grega petros,
uma simples pedra ou cascalho; era sobre o próprio Jesus e a confissão de fé de
Pedro em Sua filiação divina. A “pedra” vem da palavra grega petra, a borda de uma rocha ou bloco
inamovível. Petra ocorre dezesseis
vezes no Novo Testamento. Ela é usada cinco vezes simbolicamente para se
referir a Cristo (Mateus 16:18; Romanos 9:33; 1 Coríntios 10:4; duas vezes; 1 Pedro
2:8). Jesus é o único fundamento da Igreja (1 Coríntios 3:11).
O fato de Jesus ter dito: “Eu edificarei a minha igreja” mostra
que antes deste tempo a Igreja não existia. O corpo de Cristo não poderia
funcionar até que Jesus se colocasse como cabeça “sobre todas as coisas, o
constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que
cumpre tudo em todos” (Efésios 1:22,23). Não poderia existir Igreja até que
Jesus a comprasse com Seu próprio sangue (Atos 20:28; Efésios 5:25-27). A
Igreja não poderia ter vida até que Cristo ressuscitasse dos mortos para dar a
ela novidade de vida (Colossenses 3:1-3). A cabeça nasce antes do corpo; a
fundação é lançada antes do edifício ser erguido; a noiva é buscada pelo noivo.
Assim como Adão foi criado antes que Eva fosse formada, assim o ministério terreno
de Cristo precedeu a formação da Igreja. Embora homens de fé tenham vivido
durante a dispensação do Velho Testamento (Hebreus 11), e os fiéis de Israel
estarão no futuro Reino, a Igreja como corpo de Cristo não existiu no Antigo
Testamento.
Jesus proveu a base para a formação da Igreja em Suas palavras,
Suas obras, Sua vida sem mácula, Sua morte sacrificial e Sua ressurreição para
a imortalidade. Durante Seu ministério terreno, Jesus escolheu doze apóstolos
para formar o núcleo de Sua Igreja, para serem “patriarcas” do novo povo de
Deus e testemunhas dele mesmo. Antes que a Igreja fosse formada, Jesus deu duas
ordenanças: batismo, por Seu próprio exemplo (Mateus 3:13-16) e por Seu
preceito (Marcos 16:15,16; Mateus 28:18- 20); e a Ceia do Senhor (Mateus 26:26-29).
Ele definiu o poder e a autoridade da Igreja; Ele mostrou sua missão e obra
mundial. Ele prometeu que estaria com ela “até a consumação dos séculos”.
A Igreja teve sua origem histórica em Jerusalém, no Pentecostes, a
Festa Judaica das Semanas, no mesmo ano em que Jesus foi crucificado. Quarenta
dias depois de Sua ressurreição, Jesus ascendeu aos céus. Antes de Sua
ascensão, Ele “determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que
esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes” (Atos 1:4; Lucas
24:49). Em obediência à instrução de Cristo, os discípulos esperaram em
Jerusalém até que Ele lhes enviou o Seu poder, o Espírito (Lucas 24:52,53; Atos
1:11-14). Exaltado no céu e havendo recebido o Espírito de Seu Pai, Cristo
enviou o Espírito na vida dos discípulos em Jerusalém (Atos 2:1-21,33). O Espírito
era o meio pelo qual Cristo realizava Sua obra na Igreja. Através desse poder,
o cabeça exaltado uniu os discípulos num só corpo, Sua Igreja. Ele transformou
suas vidas e lhes deu poder para realizar a obra. O sermão de Pedro para a
multidão (Atos 2:14-36) resultou na conversão de três mil pessoas no
Pentecostes (Atos 2:37-41).
O Pentecostes marcou não somente o princípio da Igreja, o corpo de
Cristo, mas também a fundação da Igreja local e visível de Jerusalém. Lucas
descreveu a alegria fraternal daquela primeira congregação dos crentes: “De
sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e,
naquele dia, agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina dos
apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia
temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. Todos os que
criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e
fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade. E,
perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam
juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo na graça de
todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se
haviam de salvar” (Atos 2:41-47).
Pentecostes, conhecido também como Festa das Semanas, era um
festival anual de ação de graças dos judeus observado em reconhecimento pela conclusão
da colheita na primavera (Levítico 23:15-21). Era conhecida como Pentecostes
porque ocorria cinquenta dias depois da Festa das Primícias. Era conhecida como
Festa das Semanas porque ocorria sete semanas depois do dia seguinte à Festa
das Primícias. Ela durava um dia. Neste dia, uma fatia do pão feito com o
término da colheita obtida na primavera era cortada diante do Senhor em ação de
graças. O Pentecostes era a terceira das seis maiores festas religiosas anuais
de Israel. As três festas observadas na primavera eram a Festa da Páscoa, a
Festa das Primícias (Primeiros Frutos) e a Festa das Semanas. As três festas
observadas no outono eram a Festa das Trombetas, o Dia da Expiação e a Festa
dos Tabernáculos. A Festa da Páscoa comemorava a libertação de Israel da
escravidão no Egito. Era profética de Cristo, nosso Cordeiro Pascal,
sacrificado por nós. A Festa das Primícias era profética da ressurreição de Cristo
para a imortalidade. Ele é o Primeiro Fruto dos que dormem na morte e o
primeiro a ressuscitar dos mortos para a imortalidade. A Festa das Semanas era
profética da formação da Igreja, que ocorreu numa das celebrações anuais dessa
antiga festa. A lei foi entregue a Israel no Monte Sinai no dia em que a Festa
das Semanas era celebrada. O Espírito Santo foi concedido à Igreja anos mais
tarde, no mesmo dia em que essa festa anual era observada. No Sinai, no dia de Pentecostes,
Israel foi transformado numa nação. Em Jerusalém, no dia de Pentecostes, a
Igreja foi transformada no corpo de Cristo. O fato de que a celebração
religiosa da Festa das Semanas envolva o partir de uma fatia de pão diante do
Senhor é profético da unidade dos membros da Igreja. Os membros da Igreja se
tornam parte de um único pão, um corpo, um edifício e uma noiva.
De Jerusalém, os discípulos “tendo partido, pregaram por todas as
partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com sinais que se
seguiram” (Marcos 16:20). Eles eram testemunhas de Cristo “tanto em Jerusalém
como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Durante
o primeiro século, Pedro, Paulo e João foram os três principais líderes na
Igreja. Atos 1-12 descreve principalmente o trabalho de Pedro em Jerusalém como
a cidade central, e com o evangelho sendo anunciado primeiramente aos judeus.
Atos 13-28 descreve principalmente o trabalho de Paulo, com Antioquia como a cidade
central, e com o evangelho sendo anunciado principalmente aos gentios. Os Atos
dos Apóstolos começam com Pedro em Jerusalém e termina com Paulo em Roma. Perto
do fim do primeiro século, depois da morte de Paulo, o centro de atividade do
evangelho é mudado para Éfeso, onde o apóstolo João era o líder principal
(Apocalipse 1-3). Como resultado da obra missionária de Paulo, dos outros
apóstolos e dos primeiros cristãos, foram estabelecidas igrejas locais em quase
todos os países do mundo mediterrâneo incluindo Síria, Egito, Ásia Menor,
Grécia, Itália, Espanha e outros.