Capítulo XXXIX
O Caráter de Cristo
Nosso Senhor Jesus Cristo é qualificado para ser o nosso
Sacrifício e Salvador porque Ele tem um caráter perfeito e sem pecado. Estando
sem pecado, Jesus é único entre os
homens. Se alguém desenhar um círculo para representar os pecadores, todos os
homens estariam incluídos, exceto Jesus. Se alguém desenhar um círculo para
representar os homens que são naturalmente justos, todos os homens estariam
excluídos, exceto Jesus. Jesus permanece sozinho como homem perfeito entre
homens imperfeitos. Todos os outros homens se colocam diante de Deus como
criminosos condenados, como inimigos estranhos a Deus, como criaturas mortas
para a esfera espiritual da vida. Todos os outros homens, antes de
experimentarem a redenção, são dominados pela mente carnal, pela carne, pelo
velho homem. As suas vidas estão cheias de pecados. Nosso Salvador, porém, é um
perfeito cidadão do reino eterno de Deus e mantém uma amizade viva e amorosa
com Deus. Seu caráter não é determinado pela mente carnal, mas por uma
submissão constante à vontade de Deus. Sua vida é a perfeita retidão.
1. Nosso Imaculado Salvador. Nosso perfeito Senhor, “como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado” (Hebreus 4:15). O Substituto do pecador “não conheceu pecado” (2 Coríntios
5:21). “Ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e nEle não há pecado”
(1 João 3:5). “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente,
imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hebreus
7:26). Como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29), Jesus
“ofereceu a si mesmo, imaculado a Deus” (Hebreus 9:14). Aquele que foi “ferido
pelas nossas transgressões” e “moído pelas nossas iniquidades” (Isaías 53:5)
“nunca fez injustiça nem houve engano na sua boca” (Isaías 53:9). Os crentes
foram redimidos “com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado
e incontaminado” (1 Pedro 1:19). Ele “não cometeu pecado, nem na sua boca se
achou engano, o qual, quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não
ameaçava; mas entregava-se àquele que julga justamente” (1 Pedro 2:22,23).
Nosso Salvador sem pecado é a Luz do mundo (João 8:12). Ele ama a justiça e
odeia a iniquidade (Hebreus 1:9). João escreveu: “E qualquer que nele tem esta
esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 João 3:3), e “quem
pratica a justiça é justo, assim como ele é justo” (1 João 3:7).
Jesus disse: “Porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada
tem em mim” (João 14:30). Nosso Senhor desafiou os seus críticos com a pergunta:
“Quem dentre vós me convence de pecado?” (João 8:46). Judas confessou: “Pequei,
traindo sangue inocente” (Mateus 27:4). A esposa de Pilatos advertiu: “Não
entres na questão desse justo” (Mateus 27:19). Pilatos declarou aos judeus: “Não
acho nele crime algum” (João 18:38); “Eis aqui vo-lo trago fora, para que
saibais que não acho nele crime algum” (João 19:4); “Tomai-o vós e
crucificai-o, porque eu nenhum crime acho nele” (João 19:6). Um malfeitor
crucificado disse ao outro: “Recebemos o que os nossos feitos mereciam, mas
este nenhum mal fez” (Lucas 23:41). Um
centurião romano no cenário da crucificação testificou o fato de que Cristo não
tinha pecado: “O centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus,
dizendo: na verdade este homem era justo” (Lucas 23:47).
O fato de nosso Senhor ser alguém sem pecados é demonstrado por
ele nunca ter oferecido um sacrifício animal e nunca ter orado pedindo perdão.
Não havia nada em Sua vida que pudesse ser mudado para melhor.
2. Reflexo do Caráter de Deus. A vida de nosso Salvador é o reflexo perfeito do caráter de Deus.
Ele reflete a santidade, amor e verdade de Deus. Ele mostra como Deus é. Ele
disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14:9). Jesus não quis dizer que Ele e
o Pai são idênticos. Ele quis dizer que seu caráter é como os atributos morais
de Deus. Várias escrituras afirmam que Jesus é a imagem de Deus (2Coríntios
4:4; Colossenses 1:15; 2:9.) Jesus é descrito como “o resplendor da sua glória,
e a expressa imagem da sua pessoa” (Hebreus 1:3). Esses registros não ensinam
que Jesus é Deus. E não indicam que Jesus é parte de uma trindade. A palavra
“imagem”, nesses versos, indicam “aparência” ou “caráter impresso”. Jesus era a
semelhança moral de Deus. Ele podia dizer: “Quem me vê a mim vê aquele que me
enviou” (João 12:45). Os homens podem conhecer como é o caráter e a imagem de
Deus olhando para a vida encantadora de Jesus. Jesus é piedoso, Ele é a semelhança
de Deus em caráter e conduta. Embora Jesus não seja Ele mesmo Deus, Ele
reflete, como um espelho, o caráter perfeito de Deus.
Em nosso estudo sobre a Doutrina de Deus, nós observamos que o
caráter de Deus consiste de Seus atributos morais: santidade, amor e verdade. A
santidade inclui retidão e justiça. O amor inclui a misericórdia, compaixão,
longanimidade e graça. A verdade inclui veracidade e fidelidade. O caráter de
Cristo revela todos esses atributos em perfeição. Jesus é santo (Lucas 1:35;
4:34; Atos 2:27; 3:14; 4:27; Apocalipse 3:7), justo (Isaías 53:11; Atos 3:14; 1
João 3:7; Apocalipse 19:11) e reto (João
5:30; Atos 22:14). Ele é amável (João 14:31; 15:10; 10:11; 13:1,34; 14:21-23;
15:13; Gálatas 2:20; Efésios 3:19; 5:2,25; Apocalipse 1:5), misericordioso
(Hebreus 2:17; Mateus 9:27), compassivo (Mateus 9:36; 14:14). Ele é verdadeiro
(João 1:17; 1 João 5:20), honesto, genuíno e fiel (Isaías 11:5; Hebreus 2:17).
3. Encarnação de Todas as Virtudes. A vida de nosso Senhor não somente é sem pecado, mas também é a
encarnação de todas as virtudes. Jesus é “totalmente desejável” (Cantares
5:16). Ele é o possuidor de toda a bondade. Ele é meigo, benevolente, paciente,
inocente, manso de coração, longânimo, perdoador, gentil, humilde, zeloso,
puro, amável, etc. Além disso, Ele possui todas essas virtudes em perfeita
proporção, de maneira que elas combinam e se harmonizam em Sua bela vida.
4. Obediência à Vontade de Deus. O nosso Salvador sem pecado viveu em completa e perfeita
obediência à vontade de Deus. “Eis que venho, ó Deus, para fazer a Tua vontade”
(Hebreus 10:7,9). “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar
a sua obra” (João 4:34). “Porque não busco a minha vontade, mas a vontade do
Pai, que me enviou” (João 5: 0). “Porque eu desci do céu não para fazer a minha
vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). “Eu faço sempre o
que lhe agrada” (João 8:29). “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas
22:42). Durante o Seu ministério terreno, nosso Senhor mostrou a si mesmo como
um servo de Deus (Mateus 12:18; Isaías 42:1-4; Zacarias 3:8; Filipenses 2:7,8;
Mateus 20:28; Lucas 22:27). Ele glorificou a Deus (João 7:16,18; 8:50; 12:49;
17:4). Ele O obedeceu com perfeição (Romanos 5:19; Hebreus 5:8,9; Mateus 3:15;
Lucas 2:49; João 8:55; 14:31; 15:10).
A vida de Cristo se ajustou com precisão ao padrão moral de Deus
para a humanidade. Ele nunca falhou. Ele sempre atingiu o centro do alvo. Ele nunca
foi destituído da glória de Deus. Ele cumpriu a lei Moral de Deus. Ele viveu o
Sermão da Montanha. A Sua vida exibiu os frutos do Espírito.
5. As tentações do Nosso
Salvador. Depois de ser batizado no Rio Jordão, Jesus foi
conduzido pelo Espírito de Deus ao deserto, onde Ele foi tentado pelo diabo
(Mateus 4:1-11; Marcos 1:12,13; Lucas 4:1-13). O fato da recusa de Jesus em
render-se às tentações do diabo revelou sua qualidade de ser sem pecado. Provou
que Ele é o Cordeiro de Deus, sem mancha ou deformidade. Isso demonstrou uma
realidade que Deus anunciou previamente do céu: “Este é o meu filho amado, em
quem me comprazo” (Mateus 3:17). Pelo fato de haver sido tentado, Ele é capaz
de compreender e fortalecer os crentes quando estes são tentados (Hebreus 2:18;
4:15).
A palavra “tentação” tem dois significados. Primeiro, a tentação é
uma indução ao pecado. Qualquer
objeto, pessoa ou situação que se apresenta a alguém como um meio para induzir
a violação do padrão de justiça de Deus é uma tentação. A tentação atrai a pessoa
prometendo prazer ou ganho. Em seu
segundo significado, a tentação é um teste
ou prova com o propósito de revelar a
virtude ou desenvolver o caráter. Deus permite aos crentes entrarem em certas
situações para que suas virtudes possam ser reveladas (Gênesis 22:1). Ele
permite aos cristãos experimentarem dificuldades de forma que seu caráter possa
ser fortalecido e suas virtudes desenvolvidas (Tiago 1:2-4).
Ser tentado ao pecado não é o próprio pecado em si. O pecado resulta
quando alguém se rende à tentação. Alguém peca quando se rende, responde, cede,
consente e diz “sim” ao pecado. Jesus foi tentado, mas Ele não cedeu às
provocações do tentador. Ele “em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hebreus
4:15).
Existe uma afinidade entre a tentação de Cristo no deserto da Judeia
e Sua agonia no Jardim do Getsêmani. As Suas tentações no deserto ocorreram após
a Sua imersão no Rio Jordão; Sua agonia no Jardim ocorreu antes da Sua imersão
no sofrimento e na morte (Mateus 20:22,23; Lucas 12:50). No deserto, Jesus
disse “não” ao pecado, a si mesmo e a Satanás. No Jardim, Jesus disse “sim” a
Deus. Ambas as decisões envolveram o exercício da Sua vontade. O pecado começou
pela decisão errada que Adão e Eva tomaram. A salvação é possível porque nosso
Senhor tomou as decisões corretas. Jesus mostrou a Si mesmo como digno de ser o
nosso Sacrifício sem pecado pela Sua renúncia ao pecado no deserto e pela Sua
rendição à vontade de Deus no Jardim.
Existe um paralelo entre a tentação de Cristo e o êxodo dos
israelitas do Egito. Jesus foi batizado no Rio Jordão, e os israelitas foram
batizados simbolicamente no Mar Vermelho (1 Coríntios 10:2). Jesus foi tentado
quarenta dias, os israelitas foram provados quarenta anos. Jesus foi levado ao árido
deserto da Judeia, os israelitas foram levados a um outro deserto perto do
Sinai. O poder de Deus, o Espírito, levou Jesus a um lugar de prova; o poder de
Deus, simbolizado pela nuvem e pela coluna de fogo, levou os israelitas através
do deserto. Deus agradou-se de Seu Filho; Ele nem sempre esteve feliz com
Israel. A tentação do deserto provou a fidelidade
de Jesus. A provação no deserto revelou a infidelidade de Israel.
A Palavra de Deus era a defesa de nosso Salvador contra a
tentação. Em resposta ao Diabo, Jesus citou as escrituras do Antigo Testamento.
Em Sua primeira tentação (Mateus 4:3,4), Jesus citou Deuteronômio 8:3. Na Sua
segunda tentação (Mateus 4:5-7), Jesus citou Deuteronômio 6:16. Em Sua terceira
tentação (Mateus 4:8-10), Ele citou Deuteronômio 6:13. A Bíblia é a “espada do
Espírito” para o cristão. Ela é sua defesa contra a tentação. Davi escreveu: “Escondi
a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Salmos 119:11).
Alguém observou: “A Bíblia te protegerá do pecado, e o pecado te protegerá da
Bíblia.” Para vencer a tentação, o crente deve ser Cristocêntrico em lugar de
ser egocêntrico. Ele deve permitir que Jesus seja a influência controladora de
sua vida. O Senhor vitorioso habilita o crente a ser um vencedor.
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