Capítulo XXXVII
O Único Mediador
“Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para
servir de testemunho a seu tempo” (I Timóteo 2:5,6).
Existe um Deus, uma raça humana e um mediador entre os dois. O
único Deus é uma unidade que sozinho é a fonte de todas as coisas criadas. O
seu caráter é santidade, amor e verdade. A única raça humana descende de seus ancestrais
comuns, Adão e Eva. A raça humana teve uma origem comum e constitui uma
unidade. A raça humana inteira está em pecado e necessita de salvação. O único mediador
é Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus. Ele é a única pessoa que poderia
servir como mediador entre o único Deus e a única raça humana. Se Jesus nunca
tivesse cumprido seu trabalho como mediador, esse trabalho nunca teria sido
realizado. Incluído nessa verdade, portanto, estão os fatos da unidade de Deus,
da unidade da raça humana e da singularidade de Cristo.
I. A Necessidade do Homem por um Mediador
Antes de Adão pecar, a raça humana não precisava de um mediador. O
caráter do homem refletia a semelhança moral de Deus; ele vivia em submissão ao
governo de Deus; ele obedecia a vontade de Deus. O homem andou em comunhão com
Deus. Um relacionamento divino-humano satisfatório era sustentado entre O Criador
e a criatura.
Adão e Eva, porém, rebelaram-se contra a autoridade de Deus; eles se
recusaram a obedecer Sua vontade. A comunhão divina-humana original foi
quebrada. O homem caído caminhava só. Ao escolher o ego, Adão ergueu uma
barreira entre ele e Deus. Ele bateu a porta da amizade e trancou-se por dentro.
As janelas do seu coração que tinham sido abertas celestialmente agora estavam
fechadas. Seu coração estava cheio de escuridão. O seu contato vertical com
Deus foi destruído. E, portanto, a posteridade de Adão nasceu sem a semelhança do
caráter de Deus, oposta ao Seu governo e predisposta a transgredir as leis de
Deus.
Os pecadores estão diante de Deus como criminosos sob condenação,
como inimigos estranhos à comunhão com Deus e como mortos que não têm contato
vital com Deus. Considere a imagem sombria a respeito da posição do pecador diante
de Deus revelada em Efésios 2:12: “Naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados
da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo
esperança e sem Deus no mundo”. Que contraste existe entre o único Deus na sua
santidade e a única raça humana em seus pecados!
Visualize uma moderna rodovia no platô de uma alta montanha que
repentinamente chega a um fim abrupto na extremidade de um abismo profundo. Através
do desfiladeiro, pode-se ver a alta inclinação íngreme de uma grande ribanceira
que forma a parede oposta do precipício. Do alto dessa montanha se vê a
continuação da rodovia. Para alcançar o outro lado do vale seria necessário
descer uma parede vertical de rocha sólida, cortar caminho pela densa floresta
tropical e então escalar a íngreme ribanceira do lado oposto.
Essa é a imagem do abismo imenso entre Deus e o homem. A revolta
deliberada do homem contra Deus produziu um abismo intransponível entre a criatura
e O Criador. Um lado da montanha mostra Deus na sua santidade. O lado oposto da
fenda representa a raça humana em seus pecados.
Deus, na sua infinita santidade, não pode perdoar os pecadores a
menos que Sua justiça seja satisfeita pelo pagamento pela pena do pecado. O
homem em seus pecados não pode experimentar a vida eterna, autorrealização,
iluminação espiritual e a verdadeira liberdade sem uma comunhão adequada com
Deus. Deve existir uma ponte ao longo do abismo dando continuidade na via de
mão dupla entre o homem e Deus. Sem essa estrutura, os pecadores não podem
encontrar salvação e as bênçãos de Deus não podem fluir na vida dos homens.
O homem, através do seu esforço próprio, nunca poderia construir
uma ponte entre ele e Deus. A salvação não se origina no homem; não está alicerçada
na obra humana. A salvação tem origem em Deus. É planejada pela sua sabedoria,
preparada pelo seu amor e efetuada através do Seu poder. Jesus Cristo, como
mediador, é a ponte entre Deus e os homens. Essa ponte é uma realidade por
causa da iniciativa divina. “Deus amou o mundo de tal maneira que deu...” Deus
é Aquele que ergueu a ponte entre Ele e o homem.
II. Cristo, o Único Mediador
Jesus é o único mediador entre o único Deus e a única raça humana.
Ele é o único Salvador, o suficiente sacrifício, o eterno e perfeito Sumo sacerdote.
Somente Ele é qualificado para servir como Mediador. Ele é o único que se
requer. Ele exclui todos os outros. Nenhuma pessoa poderia jamais ocupar sua
posição ou executar Sua obra mediadora. Nenhum anjo, nem animal, nem pecador
poderia servir como mediador. Jesus está sozinho em sua habilidade para cumprir
os requisitos necessários de um mediador entre Deus e os homens.
Existe um sentimento crescente entre os modernos pensadores que
sugere a criação de uma religião universal para toda a humanidade. Eles sentem
que as religiões pagãs são tão válidas quanto o Cristianismo. Eles podem
concordar que o Cristianismo é superior a outras religiões, mas negam que ela
seja o meio exclusivo de salvação. Eles insistem que todas as religiões têm
alguns elementos bons. Cada religião tem algum fator no qual são superiores a
todas as outras. Eles sugerem que o Cristianismo desista de todas as
reivindicações de ser sobrenatural e supremo. Sugerem que ele deva combinar com
os melhores elementos de todas as religiões de forma a criar uma fé mundial e
uma igreja mundial.
A Universidade do Estado do Oregon, patrocinou por cinco dias um
parlamento de Religiões Mundiais como parte da celebração de seu 75º
aniversário. Além dos oradores representando o Protestantismo, Catolicismo e
Judaísmo, representantes do Hinduísmo, Budismo, Confucionismo, Taoismo, Islamismo
e Ortodoxos orientais foram convidados. O presidente da sociedade Muçulmana dos
E.U.A declarou: “Quer Ele seja Allah, Jeová ou Deus – Ele é o mesmo Deus. Para
chegar a Ele, os caminhos são diferentes, mas todas são veredas de verdade para
os que creem Nele”.
Dr. William Ernest Hocking, chefe do Departamento de Filosofia na
Universidade de Harvard, expressou um pensamento similar no seu livro Living Religions and the World Faith.
Dr. Wilbur M. Smith, que se opôs a essa crescente tendência em
direção a uma religião eclética, cita o professor Edgar Brightman, professor de
Filosofia na Universidade de Boston desde 19l9:
“A Igreja Cristã virá a reconhecer no Budismo,
e Hinduísmo, Confucionismo, e Modernismo, outros caminhos a Deus. O cristão
tratará os representantes dessas religiões como irmãos, não como pagãos
inimigos da fé” (Smith, Wilbur. Op. cit., pág. 94).
Um editorial na revista Life oferece o seguinte comentário sobre a
posição do nosso Senhor, de que nenhum homem pode vir ao Pai exceto por meio
d’Ele:
“Esta é certamente uma declaração simples,
ainda que poucas palavras apresentem mais dificuldades para a mente moderna.
Isso significa que uma única Igreja, ou uma única fé, seja o caminho para Deus?
Tomado literalmente, ele condenaria todos os homens santos que chegaram a Deus
através de outras religiões – o caminho do Tao, do Hinduísmo, do Gautama, ou
Maomé. Um Deus tão paroquial que exclui esses santos estrangeiros de seu reino
não soa como um Deus de misericórdia pregado por Cristo.
Como avisamos os leitores da série sobre
Grandes Religiões da revista Life, o
Cristianismo não é a única estrutura de uma verdadeira vida espiritual. O
estudo comparativo das altas religiões exige respeito para com todas elas e tem
ensinado os homens a encontrar em todas elas “alguma verdade”. Toynbee, por
exemplo, crê que há variações num único tema, então se todos os “componentes
destas esferas da música celestial pudessem ser ouvidos na terra
simultaneamente, e com igual clareza a um par de ouvidos humanos, o feliz
ouvinte se encontraria ouvindo não uma discórdia, mas uma harmonia (“Ways to
God.” Life, Abril 11, 1955, pág 48).
Os homens que estão trabalhando pela união de todas as religiões
admitem o fato de que todas as religiões são diferentes e apresentam alguma
variação da Regra de Ouro. O Hinduísmo diz: “A verdadeira norma é observar e
fazer pelas coisas dos outros como se faz por suas próprias”. O Budismo ensina:
“Alguém deve buscar para os outros a felicidade que deseja para si”. O Confucionismo
diz: “Não faça aos outros aquilo que não queres que te façam a ti”. O
Zoroastrismo: “Faça como você gostaria que fosse feito”. Islamismo: “Não
permita que nenhum de vós trate seu irmão de forma que não o agrade”; ou:
“Nenhum de vocês trate seu irmão de uma maneira que você mesmo não gostaria de
ser tratado”; ou: “Nenhum de vocês crê verdadeiramente até que deseje aos
outros o que deseja para si mesmo”. O Judaísmo ensina: “Qualquer coisa que não
desejes que teu próximo te faça, não faça a ele”. A Regra de Ouro Cristã diz:
“Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós”.
A Regra de Ouro, no entanto, não é o único fator que produz a
salvação. Um homem pode observar a Regra de Ouro e ainda assim ser um pecador
perdido. A salvação não pode resultar do esforço próprio do homem. O homem não
pode ser salvo por suas próprias obras. A salvação só pode vir através do
relacionamento redentor com Jesus Cristo.
O Cristianismo não é meramente uma religião entre muitas. Ele é a religião. Jesus é o único Salvador.
O Cristianismo é o único caminho para Deus. Todas as outras religiões são
estradas sem saída. Os líderes das religiões pagãs podem ter sido “homens santos”,
mas eles são pecadores perdidos separados de Cristo. Jesus disse: “Eu sou o
caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). Pedro
declarou: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12).
Paulo escreveu: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus, Jesus
Cristo, homem” (I Timóteo 2:5). Jesus é o único elo redentor entre o céu e a
terra. Ele é a única ponte entre o Criador e a criatura. Ele é a única porta
entre Deus e o homem. Se o homem fechar essa porta, não haverá outra
oportunidade para a salvação.
O Cristianismo é a religião perfeita de Deus para a raça humana
inteira. É o fim de todas as religiões, e ela mesma não terá fim. É a revelação
final de Deus aos homens. Todo novo progresso religioso será um crescimento para
a humanidade no (mas não além do) Cristianismo, ou uma mais completa percepção
e aplicação do espírito e exemplo de Cristo. O Reino de Deus na terra foi
planejado para abraçar todas as nações e durar para sempre.
O Cristianismo é a mais racional de todas as religiões e é
coerente com a mais alta cultura. Suas doutrinas e fatos são inclusive acima,
mas não contra a razão, e quanto mais a razão é elevada e purificada, mais ela se
aproxima da revelação. A religião cristã exige homenagens dos grandes
intelectos, assim como da mais humilde criança. Outras religiões não podem
tolerar o toque da crítica, nem sobreviver a um avançado estágio de cultura
intelectual.
O Cristianismo é a religião da humanidade. Ela é católica ou
universal, isto é, adaptada para toda a raça humana, enquanto que todas as
outras religiões em capacidade e extensão são étnicas, ou seja, limitadas a uma
ou mais nações.
O Cristianismo é universal não apenas quanto à extensão, mas
também internamente, no fato de ser adequada a todas as classes, estados e
condições do homem. Ele traz a mesma bênção a todos e requer as mesmas obrigações
de todos. Ele é compatível com todas as formas de governo, com todo tipo de
sociedade, com todo grau de cultura e com o maior progresso e desenvolvimento
físico, intelectual e moral. Ele nunca poderá ser substituído ou suplantado.
O Cristianismo é pleromático. É a plenitude e harmonia de todas as
verdades que estão espalhadas através das diferentes religiões, sem seus correspondentes
defeitos e erros. É a verdade central que compreende todas as outras verdades
(Schaff, Philip. Propedêutica Teológica,
New York: Scribners, 1904, págs. 59-62).
III. O Único Mediador Necessário
Jesus é o único mediador exigido; Sua obra é completa, toda-suficiente
e eternamente eficaz. Há uma só ponte que cruza o abismo entre Deus e o homem;
não há necessidade de nenhum outro. Nada poderia ficar entre o crente e Deus,
exceto Jesus Cristo. Quando Ele se coloca entre os dois, não é uma barreira nem
um bloqueio; Ele é uma janela pela qual alguém pode ver a Deus e uma porta
aberta pela qual se pode entrar em comunhão com Deus.
O sacrifício de animais e os sacerdotes humanos são desnecessários
hoje. A epístola aos Hebreus mostra que os sacrifícios e sacerdotes do Antigo
Testamento meramente apontaram na direção do trabalho perfeito de Cristo. Como
Sumo sacerdote eterno e todo-suficiente sacrifício, Jesus suplantou e substituiu
todos os outros. Não há necessidade de um sistema sacerdotal terreno para
mediar o crente e Deus. A igreja Católica Romana ensina que os pecadores têm
contato com Cristo através da direta união com a igreja; a Bíblia ensina que
eles se tornam parte da igreja pela união direta com Cristo. Os pecadores podem
vir direto a Deus através do trabalho mediador de Cristo. O catolicismo Romano
afirma que Maria e outros santos mortos são intercessores através dos quais alguém
pode orar a Deus. De acordo com a Bíblia, os homens mortos estão inconscientes
em suas sepulturas. “Porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria,
nem ciência, nem sabedoria alguma” (Eclesiastes 9:10). É inútil orar à Maria, a
Pedro, Paulo, João ou qualquer outra pessoa morta; eles não podem ouvir suas
orações e orar a Deus enquanto estiverem mortos. Os méritos de Jesus como
Sacrifício e Intercessor são infinitos. Seu sacrifício é todo-suficiente;
portanto, Ele é o único mediador que o homem necessita.
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