quarta-feira, 5 de julho de 2017

Capítulo LVIII - Perdão


Capítulo LVIII

Perdão

Uma bênção marcante incluída nas dádivas da salvação de Deus é o perdão dos pecados. A perdoada vida passada do pecador, independente do que possa estar incluído nisso, não existe mais. As pontes são queimadas atrás dele; os portões do ontem são fechados. Ele está morto para o passado. A história de sua vida anterior à sua conversão é considerada como inexistente. Ele é tratado como se o dia em que se tornou um cristão fosse o primeiro dia de sua vida.

Mediante o perdão divino, os pecados do homem foram lavados (Atos 22:16); ele se torna “branco como a neve” (Isaías 1:18; Salmos 51:7). Seus pecados foram removidos dele para tão longe “quanto está longe o Oriente do Ocidente” (Salmos 103:12). Suas iniquidades foram subjugadas, e seus pecados foram lançados para as profundezas do mar (Miquéias 7:19). Eles foram desfeitos (Isaías 44:22), “buscados... e não encontrados” (Jeremias 50:20), lançados para trás das costas de Deus (Isaías 38:17) e nunca mais serão lembrados (Jeremias 31:34).


I. Dívidas Canceladas

O pecado é uma dívida para com Deus. Pecados são débitos; os pecadores são os devedores (Mateus 6:12; Lucas 7:41-47; Mateus 18:21-35). Devedores precisam de perdão. O pecado é primeiramente contra Deus. Embora Davi houvesse cometido adultério e assassinato, ele reconheceu: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal” (Salmos 51:4). O filho pródigo confessou: “pequei contra o céu e perante ti”. Ainda que alguém possa pecar contra o seu vizinho e contra si mesmo, todo o pecado que a pessoa comete é primeiramente contra o próprio Deus. O pecado é uma dívida para com Deus. O devedor, perante o estabelecimento bancário, está irremediavelmente endividado. Mesmo que ele não contrate débitos adicionais, ele deve resolver os débitos que já possui. Ele deve responder pelos pecados já cometidos. Deus, como banqueiro ou credor, cancela as dívidas do pecado do homem porque o preço foi pago por Jesus Cristo. O pecador é perdoado; o endividamento é afastado.


II. Bases do Perdão

Como as outras doutrinas de salvação, o perdão encontra sua origem na graça de Deus (Efésios 1:7), sua base está no sacrifício de Cristo (Mateus 26:28) e sua condição de cumprimento é a fé do homem (Atos 10:43).

Mateus 26:28                      Derramado para remissão dos pecados
Lucas 24:46,47                   Pregasse a remissão dos pecados
João 1:29                              Tira o pecado do mundo
Atos 2:38                              Para remissão dos pecados
Atos 3:19                              Sejam apagados os vossos pecados
Atos 5:30,31                         Dar a remissão dos pecados
Atos 10:43                            Receber perdão dos pecados
Atos 13:38,39                      Perdão dos pecados
Atos 22:16                            Lava os teus pecados
Atos 26:18                            Recebam a remissão dos pecados
Romanos 3:25                      Pela remissão dos pecados
2 Coríntios 5:19                   Não lhes imputando os seus pecados
Efésios 1:7                             A remissão das ofensas
Efésios 4:32                          Deus vos perdoou em Cristo
Colossenses 1:14                 A saber, a remissão dos pecados
Colossenses 2:13                 Perdoando-vos todas as ofensas
Colossenses 3:13                 Cristo vos perdoou
1 João 1:7,9                            Nos purifica de todo pecado
Apocalipse 1:5,6                   Nos lavou dos nossos pecados

O perdão de Deus aos pecadores está baseado na morte sacrificial de Cristo. A pena pelo pecado deve ser paga antes que o pecado seja perdoado. “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9:22). O perdão é encontrado através do sacrifício de Cristo, o Substituto do pecador, de quem o sangue foi derramado para remissão dos pecados. Paulo explicou: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça” (Efésios 1:7). Deus pode manter Sua santidade enquanto perdoa os pecadores porque a pena do pecado foi paga através do sacrifício vicário de Cristo (Romanos 3:24-26). Deus não estava obrigado a prover um sacrifício para os pecadores; o perdão dos pecados, portanto, resulta do amor, misericórdia e graça de Deus.

O perdão dos pecados está relacionado ao batismo do cristão. A conversão do pecador é a condição sobre a qual o perdão do pecado é concedido. A conversão, que inclui arrependimento, fé e batismo, é a maneira pela qual o pecador entra numa relação redentora com Deus através de Cristo. Mediante o arrependimento, fé e batismo, a remissão dos pecados se torna eficaz na vida do pecador. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (Atos 2:38). “E, agora, por que te deténs? Levante-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” (Atos 22:16). Como os egípcios foram afogados no Mar Vermelho (Êxodo 14:13-31), assim os pecados dos crentes são afogados nas águas do batismo (1 Coríntios 10:1,2,11).


III. Boas Novas Para a Humanidade

O perdão de Deus é a boa notícia que a humanidade anseia. As religiões pagãs sabem muito sobre o pecado, mas não sabem muito sobre o perdão dos pecados. As religiões pagãs são caracterizadas pelo desespero; a fé cristã produz verdadeira alegria e paz interior. “É tão natural para um pecador perdoado estar alegre como é para uma flor o florescer ou para um pássaro o cantar”. A primeira coisa que os israelitas fizeram depois de cruzar o Mar Vermelho foi cantar. (Êxodo 15:1-21.) “Há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15:10). O perdão dos pecados traz alegria não somente para os anjos no céu, mas também para o próprio pecador. É natural que o pecador perdoado exclame junto com Philip Doddridge:

                       Ó dia feliz que corrigiu minha escolha
                       Sobre Ti, meu Salvador e meu Deus!
                       Bem pode este coração brilhante alegrar,
                       E contar os seus êxtases em todo lugar.
                       Dia feliz, dia feliz,
                       Quando Jesus lavou meus pecados!

As boas-novas do perdão divino em relação ao pecado foi uma parte vital do evangelho anunciado pelos apóstolos. Pedro disse: “E nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos. A esse dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nEle creem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome” (Atos 10:42,43). Paulo declarou: “Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado todo aquele que crê” (Atos 13:38,39).


IV. Motivo Para o Perdão Humano

O fato de que Deus tenha perdoado os crentes deve causar neles o desejo de perdoar os outros. O perdão divino deve ser a base motivadora para o perdão humano. “Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Efésios 4:32). “Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazeis vós também” (Colossenses 3:13). O perdão do cristão para os demais deve ser a resposta ao perdão de Deus para ele.


V. O Pecado dos Cristãos

O perdão de Deus está disponível para o pecado dos cristãos do mesmo modo que o pecado está disponível aos pecadores. O filho de Deus busca viver sem pecado; ele deseja andar em Espírito, portanto não cumpre o desejo da carne. Ele se separa do mundo e vence as provações pela dependência da Palavra de Deus e do poder de Cristo. Ainda assim, o filho de Deus, de tempos em tempos, encontra o pecado em sua vida e reconhece a necessidade do perdão divino. Através do poder de Cristo, o crente “não é capaz de pecar”, mas, durante esta vida, ele nunca alcança a posição em que “não é capaz de pecar”. O pecado tem um resultado trágico sobre o cristão. Quando o cristão peca, uma sombra cai sobre sua mente e seu caminho. A sua consciência o condena; ele experimenta aflição do coração e da mente. Ele sente a perda da paz, a perda de alegria e a perda da confiança em Deus na oração. O pecado esconde a face de Deus para o crente.

Qual é o remédio para o pecado dos cristãos? Como o pecado pode ser removido e a alegria da salvação de Deus ser restaurada sobre o crente? (Salmos 51:12). Todo e qualquer pecado cometido pelo crente destrói a relação básica de redenção entre ele e Deus? Pode um filho de Deus cancelar o relacionamento redentor para com o Pai e o Filho cada vez que peca? Cada pecado do cristão o remove da posição “em Cristo” e o coloca uma vez mais “no mundo”? Quando uma pessoa peca depois de haver se tornado um cristão, deve ser reconvertida e ser rebatizada?

É possível, obviamente, que um cristão volte as costas para Deus, rejeite a Cristo, negue a verdade e perca sua posição diante de Deus em Cristo. O filho de Deus, porém, não perde sua novidade de vida e sua filiação cada vez que peca. Um filho pode ficar doente, pode tropeçar e cair, pode desobedecer seus pais, mas ainda assim é um filho. Um filho de Deus pode cometer erros e pode desagradar ao Pai, mas ainda é um filho de Deus. Quando o pecado do crente é removido e a experiência e o relacionamento normais em relação ao Pai e o Filho são restauradas, o crente não tem necessidade de se tornar um filho de Deus novamente. Quando o cristão peca, não existe a necessidade de se reconverter ou rebatizar. Os seus pecados são removidos através da sua confissão do pecado a Deus e através do sangue de Jesus, o Advogado do crente.

João escreveu aos cristãos: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:1,2). A base para a remoção dos pecados dos cristãos é o sangue de Jesus Cristo, o Substituto do crente, Intercessor e Advogado. O sangue de Cristo remove não somente os pecados cometidos pelos crentes antes da conversão, mas também os pecados cometidos depois da conversão. Ele é a propiciação pelos pecados dos cristãos, assim como pelos pecados de todo o mundo. Como propiciação pelos pecados, Jesus satisfez os santos requisitos da lei de Deus, pagou a pena do pecado e proveu uma base de justiça mediante a qual Deus pode remover de forma justa o pecado das pessoas. Como Advogado ou Parakletos, Jesus defende o crente diante de Deus, o Juiz, na corte do céu. Ele responde todas as acusações contra o crente pecador (Apocalipse 12:10) apresentando a evidência de Seu próprio sacrifício em benefício do crente. “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Romanos 8:33,34).

A responsabilidade do cristão que peca é confessar seu pecado a Deus. “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:8,9). Deus pode ser “justo” quando Ele perdoa o pecado do cristão porque Jesus pagou a pena por esse pecado. Deus limpará o cristão de toda a injustiça se o cristão confessar seus pecados a Deus. A conversão é para os pecadores; a confissão dos pecados para os cristãos. A conversão inclui arrependimento, fé e batismo. A confissão dos pecados individuais não é um elemento ou passo para a conversão. A Bíblia retrata a confissão dos pecados como um ato do filho de Deus que está na família e no lar do Pai. Paulo enfatizou a necessidade dos cristãos julgarem a si mesmos e confessarem seus pecados para Deus quando escreveu: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Coríntios 11:31,32).

O exame diário dos pensamentos, das palavras e ações de alguém e a confissão do pecado a Deus é necessário a todos os cristãos. Como um comerciante checa o resultado de sua atividade ao final do dia, os crentes precisam diariamente examinar suas vidas à luz dos padrões de Deus para a humanidade. Como Davi, o crente deve orar: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Salmos 139:23,24). Na medida que o crente progride na vida espiritual, ele constantemente reconhecerá fatores adicionais em sua vida que são contrários à vontade de Deus e que necessitam ser mudados. A atitude do cristão em relação ao pecado é ódio ao pecado em sua própria vida e perdão do pecado na vida dos outros. Ele fará uma imediata e específica confissão de todos os pecados conhecidos a Deus.

A confissão diária e particular do pecado é melhor do que uma confissão semanal e geral do pecado. O trabalho litúrgico de muitas igrejas contém uma confissão geral do pecado, onde se ora por todos os adoradores (os Episcopais, O Livro de Oração Comum; os Luteranos, O Livro de Culto; os Presbiterianos, o Manual de Culto; e outros). Essas confissões gerais de pecado são válidas quando sinceramente rogadas pelo crente. Entretanto, elas são inadequadas, porque não presumem a confissão de pecados específicos de forma individual. William Law (1686-1761), em seu clássico devocional A Serious Call to a Devout and Holy Life, escreveu:

Visto que uma confissão formal e geral, considerada apenas como uma obrigação ao entardecer, que passa por alto os erros particulares do dia, e é a mesma, seja um dia bem ou mal aproveitado, tem pequeno ou nenhum efeito sobre a mente; um homem pode fazer uma confissão diária, e ainda seguir pecando e confessando toda a sua vida, sem nenhum remorso na mente, ou verdadeiro desejo de aperfeiçoamento.

Pois se os seus próprios pecados particulares são deixados de lado em sua confissão, sua confissão geral de pecados não tem mais efeito sobre sua mente do que se houvesse confessado que todos os homens são em geral pecadores. E não há nada em qualquer confissão que mostre que seja tua, até o ponto em que seja uma autoacusação, não do pecado em geral, ou que seja comum a todos os outros, mas de pecados particulares, como sendo sua própria vergonha e reprovação.

O cristão deve confessar a Deus imediatamente e em detalhes todos os pecados conhecidos. O cristão deve aceitar o perdão de Deus por seus pecados e depender do poder de Cristo para vencer as provas e corrigir sua vida.

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