sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Capítulo LXXVI - A Ressurreição


Capítulo LXXVI

A Ressurreição

Os cristãos não podem dizer uns aos outros que estão se vendo pela última vez. Embora eles possam ser separados pelos anos no tempo, distância em quilômetros ou pela sombra da morte, eles sabem que novamente se encontrarão porque eles têm a promessa da ressurreição para a imortalidade. A bendita esperança dos crentes é serem levantados da morte para a imortalidade quando Cristo vier.

A ressurreição é o processo pelo qual uma pessoa morta é trazida à vida. A ressurreição difere da criação e do nascimento. Nem a criação de Adão nem o nascimento de uma criança podem ser descritos como ressurreição. Para ser ressuscitado, alguém deve ser uma pessoa morta que anteriormente esteve em vida. Além disso, os sujeitos da ressurreição são os membros da raça humana. A Bíblia nunca se refere a plantas, animais ou anjos celestiais tendo sido ressuscitados, nem que tenham a promessa da ressurreição. Os animais no reino de Cristo (Isaías 11:6-8) serão os nascidos naquela época, não animais ressuscitados dos mortos. Os anjos que não morrem não terão necessidade de ressurreição.

A ressurreição é uma obra divina. Cientistas médicos têm feito muitas realizações maravilhosas, mas não podem criar a vida nem ressuscitar o morto. Um princípio básico da ciência é que a vida deve derivar da vida. Os cientistas nunca produzirão uma droga, uma radiação ou uma máquina que possa restaurar a vida de alguém que está morto. Somente Deus e Cristo podem levantar os mortos. Os homens da Bíblia que realizaram milagres de ressurreição estavam aptos a fazê-lo porque Deus lhes deu esse poder. Deus pode ressuscitar os mortos porque Ele é Onipotente; Ele tem poder infinito. Deus, o Autor da vida, tem a habilidade para criar o homem e Ele tem o poder para ressuscitar o homem da morte. Paulo perguntou: “Pois quê? Julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?” (Atos 26:8).


I. A Vida Futura Depende da Ressurreição

Visto que o homem é mortal e a morte é o término da vida, a vida futura do homem depende da sua ressurreição da morte. Todos os homens são mortais e tudo no homem é mortal. A mortalidade é universal entre os homens e total dentro do homem. Nenhuma parte do homem é imortal. Somente Deus é a fonte original da imortalidade (1 Timóteo 1:17; 6:16). Jesus nasceu mortal, mas Ele tornou-se imortal quando ressuscitou dos mortos. A imortalidade é uma das bênçãos prometidas pelo evangelho. Os crentes hoje “persistindo em fazer o bem, buscam... imortalidade” (Romanos 2:7 NVI). O fato dos crentes estarem em busca da imortalidade prova que não a possuem agora. Os crentes se tornarão imortais quando Jesus vier. A morte é o fim da vida. Morrer é parar de viver. Na morte, o homem está sem existência consciente; seu cérebro e sistema nervoso param de funcionar. Os mortos estão inconscientes (Jó 3:13-19; 14:7-15; Salmos 6:5; 88:11,12; 115:17; 146:4; Eclesiastes 9:5,6,10; Isaías 38:18). De acordo com a Bíblia, os mortos permanecem inconscientes até a ressurreição. Quando os homens morrem, eles não vão nem para o céu nem para um inferno em chamas; eles vão para a sepultura (João 3:13; Atos 2:29,34). Todos os homens mortos permanecem nas suas sepulturas até a ressurreição. Os crentes serão ressuscitados na primeira ressurreição na vinda de Cristo. Eles serão imortais e glorificados. Os pecadores serão ressuscitados na ressurreição final para a mortandade e juízo. Se não houvesse ressurreição, o homem não teria vida futura. Paulo considerou: “Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:16-19).

A recompensa dos crentes e a punição dos pecadores são dependentes de duas futuras ressurreições. Os homens não são recompensados no momento de suas mortes. Os homens não podem ser recompensados ou punidos enquanto estão mortos porque estão inconscientes na morte. Eles devem ressuscitar para que possam receber a recompensa ou punição. Os crentes serão recompensados quando Jesus vier (Apocalipse 22:12; Lucas 19:15). Os pecadores serão punidos depois que se levantarem na ressurreição final e forem julgados. Se o homem fosse imortal e recebesse sua recompensa ao morrer, ele não necessitaria de uma ressurreição. Portanto, o homem é mortal e precisa ser ressuscitado para que receba a vida futura.

II. A Crença da Ressurreição no Antigo Testamento

Os crentes fiéis do Antigo Testamento esperavam pela ressurreição futura. Eles reconheceram que o homem é mortal e que necessita ressuscitar dos mortos para ter a vida futura.

Jó escreveu: “Porque há esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Mas, morto o homem, é consumido; sim, rendendo o homem o espírito, então, onde está? Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota e fica seco, assim o homem se deita e não se levanta; até que não haja mais céus, não acordará, nem se erguerá de seu sono. Tomara que me escondesses na sepultura, e me ocultasses até que a tua ira se desviasse, e me pusesses um limite, e te lembrasses de mim! Morrendo o homem, porventura, tornará a viver? Todos os dias de meu combate esperaria até que viesse a minha mudança. Chamar-me-ias, e eu te responderia; afeiçoa-te à obra de tuas mãos” (Jó 14:7,10-15). Ele também escreveu: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; e, por isso, o meu coração se consome dentro de mim” (Jó 19:25- 27).

Davi creu na ressurreição. Ele escreveu: “Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar” (Salmos 17:15). Isaías profetizou: “Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos” (Isaías 26:19). Daniel escreveu: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno. Tu, porém, vai até ao fim; porque repousarás e estarás na tua sorte, no fim dos dias” (Daniel 12:2,13). Oséias referiu-se à ressurreição: “Eu os redimirei do poder da sepultura; e os resgatarei da morte: Onde estão, ó morte, as suas pragas? Onde está, ó sepultura, a sua destruição?” (Oséias 13:14 NVI).

Abraão mostrou sua fé no poder de Deus em ressuscitar os mortos quando ofereceu Isaque em obediência ao comando de Deus. “Pela fé, ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado, sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar. E daí também, em figura, ele o recobrou” (Hebreus 11:17-19).

Abraão, Isaque e Jacó creram na futura ressurreição porque Deus lhes deu a terra de Canaã por possessão eterna. Eles sabiam que ressuscitariam da morte no futuro para herdarem as promessas de Deus (Hebreus 11:13-16,39,40). Nós sabemos que Abraão, Isaque e Jacó ressuscitarão porque Jesus disse que eles estariam em Seu reino. “Mas eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no Reino dos céus” (Mateus 8:11).

O Velho Testamento também contém muitas profecias e tipos que retratam a ressurreição de Cristo. Isso já foi considerado no capítulo “A Ressurreição de Cristo”.

III. Milagres de Ressurreição


1. Milagres de Ressurreição no Antigo Testamento. O Antigo Testamento menciona três milagres de ressurreição. O profeta Elias ressuscitou o filho da viúva de Sarepta (1 Reis 17:17-24). Eliseu, o sucessor de Elias, ressuscitou o filho da mulher Sunamita (2 Reis 4:18-37). A terceira pessoa que o Antigo Testamento menciona ter a vida restaurada foi um homem que estava sendo sepultado e cujo corpo morto tocou nos ossos de Eliseu. “Depois, morreu Eliseu, e o sepultaram. Ora, as tropas dos moabitas invadiam a terra, à entrada do ano. E sucedeu que, enterrando eles um homem, eis que viram um bando e lançaram o homem na sepultura de Eliseu; e, caindo nela o homem e tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se levantou sobre os seus pés” (2 Reis 13:20,21).

2. Milagres de Ressurreição de Jesus. Três milagres de ressurreição de Jesus são mencionados nos Evangelhos. Jesus ressuscitou uma filha, um filho e um irmão. Ele ressuscitou a filha de Jairo (Mateus 9:18-26; Marcos 5:22-43; Lucas 8:41-56), o filho da viúva de Naim (Lucas 7:11-17) e Lázaro, o irmão de Maria e Marta (João 11:1-44). A filha havia acabado de morrer; o filho estava no cortejo para o sepultamento; o irmão estava morto há quatro dias e tinha sido sepultado. Como nos outros milagres de ressurreição, essas pessoas foram restauradas à vida mortal que possuíam antes de morrerem. Todos eles morreram novamente. Somente Jesus ressuscitou para a imortalidade.

3. Outros Milagres de Ressurreição. O Novo Testamento menciona outros três milagres de ressurreição. O número total de ressurreições na Bíblia, além da ressurreição de Cristo, é de nove milagres. Pedro ressuscitou Tabita, também conhecida como Dorcas, em Jope (Atos 9:36-42). Paulo ressuscitou Êutico, um jovem rapaz que dormiu durante o culto da Igreja em Trôade e morreu ao cair de uma janela (Atos 20:7-12). Quando Jesus morreu na cruz, alguns santos ressuscitaram dos mortos em Jerusalém. “E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitos” (Mateus 27:52,53). Como os outros que foram ressuscitados, esses santos morreram novamente e foram sepultados pela segunda vez. É falsa a teoria de que Jesus levou esses santos com Ele para o céu. Jesus ascendeu ao céu sozinho. Nem Davi ou qualquer outro santo do Antigo Testamento foi para o céu com Jesus (Atos 2:29,34). Ninguém foi para o céu, exceto Jesus (João 3:13).


IV. A Ressurreição de Cristo

Em Sua gloriosa ressurreição, nosso Salvador ressuscitou dentre os mortos para a imortalidade. Agora Ele pode proclamar: “fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém! E tenho as chaves da morte e do inferno” (Apocalipse 1:18). Ele não está mais sujeito à morte. “... havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele” (Romanos 6:9).

Jesus é a primeira pessoa a ressuscitar dentre os mortos com uma natureza imortal. Ele é descrito como o “primogênito dentre os mortos” (Colossenses 1:18) e “primícias dos que dormem” (1 Coríntios 15:20). Paulo disse a Agripa que Cristo era “o primeiro da ressurreição dos mortos” (Atos 26:23). Alguém poderia questionar o significado da afirmação bíblica de que Cristo é o primeiro a ressuscitar dentre os mortos. “Não existiram homens vivendo antes da primeira Páscoa que passaram pela ressurreição?” Jesus foi o primeiro e o único que ressuscitou dos mortos para não morrer outra vez. Os outros ressuscitados foram restaurados à vida mortal que possuíam antes de morrerem. Todos eles morreram novamente. Jesus, por outro lado, foi ressuscitado para um novo tipo de vida. Ele ressuscitou imortal; Ele não pode morrer outra vez.

A ressurreição de Cristo garante a ressurreição dos crentes. Ele disse: “Porque eu vivo, vós também vivereis”. Paulo escreveu: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória” (Colossenses 3:4). Sua ressurreição assegura a ressurreição do crente para a imortalidade. Porque Cristo ressuscitou na condição de primeiro fruto dos que dormem, podemos confiar que os crentes serão ressuscitados da morte como numa colheita. Porque Cristo, o Cabeça da Igreja, foi ressuscitado para a imortalidade naquela primeira Páscoa; o corpo de Cristo, será ressuscitado quando Ele retornar.

Jesus é a única pessoa na história que experimentou a ressurreição para a imortalidade. Nenhuma outra pessoa experimentou esta transformação física gloriosa. Jesus permanece como a única ilustração e uma prévia daquilo que Deus fará com todos os verdadeiros crentes quando Jesus voltar. Nenhum escarnecedor pode negar a capacidade de Deus em ressuscitar os mortos, nem opor objeção à realidade da futura natureza imortal dos crentes. Deus demonstrou o funcionamento de Seu poder quando ressuscitou Cristo dentre os mortos (Efésios 1:19,20) e Ele revelou a natureza da imortalidade na ressurreição do corpo de nosso exaltado Senhor. Quando os infiéis escarnecem da futura ressurreição do homem, os crentes podem responder: “Deus fez uma vez; Ele pode fazer novamente!”


V. Duas Ressurreições Futuras
O Amanhã de Deus incluirá duas ressurreições, a primeira ressurreição e a última ressurreição. A primeira ressurreição ocorrerá quando Jesus voltar; a última ressurreição ocorrerá depois do milênio e do “pouco de tempo” (Apocalipse 20:4-6,12-15). Os crentes se levantarão na primeira ressurreição; os pecadores se levantarão na última ressurreição. Somente os justos, “os que morreram em Cristo” (1 Tessalonicenses 4:16) levantarão na primeira ressurreição. “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram” (Apocalipse 20:5).

As duas ressurreições diferem não somente em relação ao tempo e aos participantes, mas também quanto à qualidade. O futuro inclui duas ressurreições separadas, em dois períodos de tempo, para dois grupos de homens, que resultará em dois destinos diferentes.

Paulo informou Félix, o governador: “Há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos” (Atos 24:15). A primeira ressurreição é “do justo”; a última ressurreição é “do injusto.” Jesus declarou: “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação” (João 5:28,29). A primeira ressurreição é para vida; a última ressurreição é para condenação. A primeira é a ressurreição “para sair dentre os mortos”; a última é a ressurreição “para a morte”.

A primeira ressurreição é para a glória; a última ressurreição é para o julgamento. Os crentes, ressuscitados na primeira ressurreição, serão glorificados com Cristo. Eles estarão diante Dele como a noiva diante do Noivo. Os pecadores, levantados na ressurreição final, serão julgados, condenados e punidos. Eles estarão diante d’Ele como criminosos culpados diante do Juiz.

Os crentes, que tomarem parte na primeira ressurreição, serão ressuscitados para a imortalidade. A morte não terá mais poder sobre eles. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos” (Apocalipse 20:6). “O que vencer não receberá o dano da segunda morte” (Apocalipse 2:11). No entanto, os pecadores que serão levantados na ressurreição final serão ressuscitados para a mortalidade e juízo (Apocalipse 20:11-15). A natureza física dos crentes será transformada da mortalidade para a imortalidade. Os pecadores, por outro lado, ressuscitarão mortais. Eles terão a mesma natureza física que possuíam antes de morrerem a primeira morte. Se os pecadores ressuscitassem imortais, eles não poderiam ser destruídos na segunda morte.

Contudo, a esperança do crente não é somente ser ressuscitado dentre os mortos. Todos os homens experimentarão a ressurreição. Sua esperança é que esteja apto a tomar parte na primeira ressurreição, que ocorrerá na vinda de Jesus. Não é simplesmente o fato da ressurreição; é a qualidade da ressurreição que os crentes vislumbram com esperança.

Cada pessoa que já viveu será levantada para a vida em uma das duas ressurreições futuras (João 5:28,29; 1 Coríntios 15:21-24; Apocalipse 20:5,12,13). Se alguém mantém uma relação adequada com Cristo, ele voltará à vida na primeira ressurreição. Se ele é um pecador, sem Cristo, ele será vivificado na ressurreição final.

Alguém pode questionar: “Por que os pecadores ressuscitariam dentre os mortos? Visto que o salário do pecado é a morte e os pecadores já morreram uma vez, por que é necessário que eles sejam ressuscitados dentre os mortos e então morram pela segunda vez?” Os pecadores devem ser ressuscitados dentre os mortos para que possam ser julgados e punidos (Eclesiastes 12:14; Mateus 12:36; Atos 17:30,31; Romanos 2:2-11). “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Romanos 14:12). A morte não é o tempo de recompensa para os crentes ou para os pecadores. Os crentes não são recompensados por ocasião da morte; eles serão recompensados na sua ressurreição quando Jesus voltar (Apocalipse 22:12). Os pecadores não são completamente punidos pela primeira morte; eles serão julgados e punidos depois que forem levantados na última ressurreição. Os pecadores serão destruídos na segunda morte, da qual não existe ressurreição. O pecador não pode escapar do juízo futuro. Não existe lugar oculto para Deus. Um pecador não pode fugir do julgamento futuro cometendo suicídio ou sendo cremado. Deus sabe onde cada pecador está sepultado. O pecador será ressuscitado dos mortos e terá que enfrentar seu destino eterno.

Embora hoje os pecadores sejam dados como culpados e estejam sob condenação, Deus dará a cada pecador um “julgamento justo”. Quando um homem comete um crime hediondo contra a sociedade, a multidão enraivecida negaria a ele um julgamento diante da justiça. Eles “o enforcariam” num poste; o matariam sem muita demora. Mesmo quando se sabe que o criminoso é culpado e digno de morte, a democracia garante a todo homem um julgamento justo diante da Justiça. Seria Deus menos justo que os governos humanos? Deus destruirá os pecadores sem permitir que eles compareçam diante d’Ele para julgamento? Embora hoje os pecadores sejam considerados culpados e sob condenação, Deus em justiça dará a cada pecador um julgamento justo. Todo homem terá permissão para estar diante do Juiz. Por toda a eternidade ninguém poderá dizer que Deus não é santo ou foi injusto. Deus sempre faz o que é correto. Quando o Livro da Vida for aberto e o nome do pecador não estiver registrado, a boca do pecador deixará de vangloriar-se. Quando ele for julgado de acordo com as suas obras de pecado, ele reconhecerá sua culpa diante de Deus.

Os pecadores devem ressuscitar da primeira morte e serem destruídos na segunda morte porque a primeira morte não é a completa punição pelo pecado. O salário final do pecado é a destruição na segunda morte. Se a primeira morte fosse a punição final pelos pecados pessoais, os cristãos não morreriam a primeira morte porque os seus pecados foram lavados no sangue do Cordeiro, e eles estão perante Deus sem nenhuma condenação (Romanos 8:1). Se os ímpios fossem destruídos na primeira morte, os cristãos por certo não morreriam a primeira morte. No entanto, os cristãos, assim como os pecadores, morrem a primeira morte. Duas mortes são mencionadas na Bíblia. A primeira morte é para todos os homens, a segunda é somente para o ímpio. A primeira morte é temporária; a segunda será permanente. A primeira morte terá fim nas ressurreições; a segunda nunca findará. Os homens morrem a primeira morte porque eles são mortais; os homens morrerão a segunda morte porque eles são pecadores.


VI. A Primeira Ressurreição

Quando Jesus voltar, todos os verdadeiros cristãos, “os mortos em Cristo”, ressuscitarão para a imortalidade. Esse levantamento dos crentes que estavam mortos constituirá a primeira ressurreição. Os crentes que morreram estão inconscientes nas suas sepulturas; eles permanecerão na morte até a ressurreição. Na primeira ressurreição, todos os crentes serão ressuscitados da morte para a imortalidade e receberão sua recompensa ao mesmo tempo. Os cristãos vivos serão transformados instantaneamente da mortalidade para a imortalidade por ocasião da primeira ressurreição e, com os cristãos ressuscitados, serão arrebatados para encontrar Cristo nos ares. Eles serão glorificados com Cristo e serão feitos coerdeiros com Ele.

1. O Tempo da Primeira Ressurreição. A primeira ressurreição ocorrerá na segunda vinda de Cristo. “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (1 Tessalonicenses 4:16,17). O tempo da primeira ressurreição está indicado pelas frases dos seguintes textos:

1 Coríntios 15:23                           Na sua vinda
1 Coríntios 15:52                           Ante a última trombeta
1 João 3:2                                         Quando ele se manifestar
Filipenses 3:20,21                         Esperamos o Salvador
1 Tessalonicenses 4:16                O mesmo Senhor descerá
Lucas 21:18                                     Quando essas coisas começarem a acontecer
João 6:39,40,44                               No último dia
Jó 14:12-15                                      Até que não haja mais céus
Jó 19:25-27                                      E que no fim se levantará sobre a terra

2. Os Participantes da Primeira Ressurreição. A primeira ressurreição é para os cristãos. Os pecadores mortos permanecerão em seus sepulcros até a ressurreição final. Aqueles que participam da primeira ressurreição são designados como: “mortos em Cristo” (1 Tessalonicenses 4:16), “os que são de Cristo” (1 Coríntios 15:23), “os que fizeram o bem” (João 5:29) e “justos” (Atos 24:15).

Quando Jesus vier, todos os cristãos estarão divididos pela vida e pela morte em dois grupos. Primeiro, os crentes que dormiram na morte durante séculos estarão inconscientes esperando em suas sepulturas até o retorno de Cristo. Segundo, alguns crentes estarão vivos quando Jesus voltar. Os benefícios do retorno de Cristo serão concedidos sobre ambos os grupos de cristãos, aqueles que estão vivos e aqueles que estão mortos. “... tanto se estivermos vivos como se estivermos mortos quando ele vier” (1 Tessalonicenses 5:10 NTLH).

Cristãos Mortos. Durante a era apostólica, os crentes começaram a morrer como mártires na perseguição sofrida pelos cristãos. Os crentes na igreja de Tessalônica começaram a imaginar se os cristãos mortos receberiam algum benefício na segunda vinda de Cristo. Por estarem dormindo na morte, os cristãos perderiam a imortalidade, glória e alegria que serão resultantes do retorno de Cristo? Paulo escreveu sua primeira carta à igreja, a igreja de Tessalônica, para explicar que os cristãos vivos não terão prioridade sobre os cristãos mortos quando Jesus vier. Ele disse: “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem” (1 Tessalonicenses 4:13-15). Quando Jesus vier, os cristãos em vida não terão vantagem sobre os cristãos mortos. Na verdade, os cristãos mortos serão ressuscitados antes que os cristãos vivos sejam transformados. “... e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Tessalonicenses 4:16). Portanto, os crentes não precisam ter medo de dormir o sono da morte porque eles têm a esperança da ressurreição para a imortalidade. A morte é como um sono sem sonhos; não existe noção do tempo que passa. Depois da morte, a próxima experiência consciente do cristão será a sua ressurreição da morte. E não importa quanto tempo uma pessoa esteve morta nem onde foi sepultada. Deus conhece o lugar de repouso de cada santo. Alguém pode ser enterrado num cemitério sombrio; seu sepulcro pode estar coberto de ervas daninhas; sua lápide pode estar coberta pelo pó; os homens podem ter esquecido o seu nome. Mas nada disso importa. Deus não esqueceu; Ele sempre se lembra. No tempo determinado, Ele ressuscitará o crente da morte para a imortalidade.

Cristão Vivos. Os cristãos que estiverem vivos quando Jesus vier serão glorificados com aqueles que ressuscitarem da morte. Os cristãos vivos serão transformados, transfigurados, mudados da mortalidade para a imortalidade. Essa mudança ocorrerá instantaneamente quando Cristo voltar. Paulo explicou esse fato: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Coríntios 15:51,52). Os cristãos vivos serão transformados antes que percebam o que está acontecendo. A transformação ocorrerá “num piscar de olhos”. Quer estejam os crentes andando pelas ruas, trabalhando numa fábrica, lavando pratos na cozinha, sentado na cadeira escolar ou no escritório, ou pescando de bote num lago, eles serão transformados instantaneamente da mortalidade para a imortalidade e serão arrebatados para encontrar o Senhor nos ares. Jesus disse: “Digo-vos que, naquela noite, estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado, e outro será deixado” (Lucas 17:34-36).

3. Natureza da Primeira Ressurreição. Quando ressuscitados ou transformados, os crentes possuirão a imortalidade. Imortalidade é a capacidade de não morrer. Uma pessoa imortal é aquela que não é mortal, não está sujeita à morte. Ela não pode ser tentada, não pode experimentar sofrimento e não pode morrer.

O homem precisa experimentar uma mudança física para que possa habitar no Reino eternal de Deus. Paulo escreveu: “E, agora, digo isto, irmãos: que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção” (1 Coríntios 15:50). Suponha que alguém seja mortal durante a eternidade e seu corpo ainda esteja sujeito à enfermidade, deterioração e declínio. Antes que a pessoa tenha seiscentos anos de idade, ela estará fraca e frágil, sua visão estará empobrecida e ela não estará apta a caminhar muito bem. Ela não estaria em condição física apropriada para alegrar-se durante o Reino vindouro. Sendo assim, os homens necessitam mais do que uma extensão da vida; eles precisam de uma nova natureza física. 

Como serão os crentes depois de se tornarem imortais? Eles serão transformados em anjos? Eles terão corpos? Se eles tiverem corpos, serão corpos imateriais, invisíveis e espirituais? Os redimidos serão como criaturas míticas da ficção científica vindos de um novo sistema solar? Eles serão reencarnados em uma outra pessoa? É desnecessário especulação. A Bíblia revela como serão os crentes imortais. Na imortalidade, os crentes terão um corpo de carne e ossos, real, literal e material. Eles serão como o Cristo glorificado. “Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1 João 3:2). Ele “... transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso...” (Filipenses 3:21).

Podemos saber como será a aparência dos cristãos na imortalidade conhecendo a aparência de Cristo. Depois de Sua ressurreição, Jesus tinha o mesmo corpo que possuía antes de morrer, exceto pelo fato de que tinha sido transformado da mortalidade para a imortalidade. Quando Jesus apareceu aos seus discípulos, eles o reconheceram como seu amado Mestre que havia ressuscitado dos mortos. Durante os quarenta dias entre Sua ressurreição e ascensão, Jesus apareceu muitas vezes aos Seus discípulos e revelou-se em Sua natureza ressurreta. Ele queria que os discípulos soubessem que Ele realmente tinha levantado da sepultura e que Ele tinha um corpo real. Ele lhes disse que não era imaterial, indefinido e espiritual, mas que tinha um corpo real de carne e ossos (Lucas 24:36-39). Os discípulos O viram (Lucas 24:40) e tocaram n’Ele (Lucas 24:39). Ele caminhou entre eles e conversou com eles. Ele comeu peixe e mel na presença deles. Ele lhes mostrou as marcas de pregos em Suas mãos e pés.

Quando os crentes se tornarem imortais na primeira ressurreição, eles também terão corpos reais. Eles serão capazes de caminhar e falar; eles reconhecerão uns aos outros e serão reunidos aos seus amados. O sofrimento, lamento e tristeza serão removidos. O redimido terá eterna alegria na eternidade perfeita de Deus. O plano de salvação de Deus para os crentes inclui não apenas a redenção a partir do corpo, mas a redenção do próprio corpo. O corpo do crente não será trocado, ele será mudado. Os cristãos serão glorificados, mas não de forma separada de seus corpos numa condição indistinta, mística, imaterial, mas em seus próprios corpos que serão transformados da mortalidade para a imortalidade.

Considere esta gloriosa transformação que espera pelo crente na primeira ressurreição. Quando o crente morre, ele talvez estivesse doente, aflito e debilitado, mas quando for ressuscitado, ele terá um corpo perfeito, saudável e glorioso. Paulo fez um contraste da natureza do homem na morte com a natureza imortal na ressurreição. Ele escreveu: “Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em corrupção, ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor. Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Coríntios 15:42-44). A natureza mortal do homem é descrita como um corpo “natural”; sua futura natureza imortal é descrita como um corpo “espiritual”. A palavra “natural” está relacionada com as forças da natureza; a “palavra” espiritual está relacionada ao Espírito ou poder de Deus. Deus sustenta o corpo mortal natural do homem através das forças da natureza. O homem mortal é capaz de viver através de sua relação com o ambiente. Ele precisa respirar, comer, descansar e exercitar-se para que possa viver. O futuro corpo imortal do homem será mantido diretamente pelo Espírito de Deus. Embora a Bíblia indique que o homem imortal será capaz de comer, ele não terá necessidade disso para continuar vivo. Uma pessoa imortal não pode morrer; ele não depende do seu ambiente físico para viver. O corpo do crente redimido será material, imortal e espiritual. A palavra “material” refere-se à sua composição; a palavra “imortal” refere-se à sua natureza em relação à morte; a palavra “espiritual” refere-se à sua fonte de poder e vida.

Na ressurreição, os crentes serão como os anjos no aspecto de não se casarem nem morrerem (Lucas 20:34-36), mas não se tornarão anjos. Os redimidos serão superiores aos anjos; eles serão como Cristo e coerdeiros com Ele que é “feito tanto mais excelente do que os anjos” (Hebreus 1:4).


VII. A Última Ressurreição

A ressurreição dos crentes, que ocorrerá quando Jesus voltar, é designada na Bíblia como a primeira ressurreição. No entanto, a Bíblia não dá nome para a ressurreição na qual os pecadores serão levantados. Alguns estudiosos chamam essa ressurreição de segunda ressurreição porque a morte final para os pecadores é descrita como a segunda morte. Alguns descrevem essa ressurreição como ressurreição geral porque todos os pecadores em geral serão ressuscitados da morte. Nós preferimos os termos “ressurreição “final” e “última ressurreição”.

1. Tempo da Última Ressurreição. A última ressurreição ocorrerá depois do milênio e do “pouco de tempo” (Apocalipse 20:3). A primeira ressurreição precede o milênio; a ressurreição final ocorrerá depois que Cristo reinar mil anos sobre a terra. “Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram” (Apocalipse 20:5).

2. Participantes na Última Ressurreição. A última ressurreição é para aqueles que não foram levantados na primeira ressurreição. Os cristãos não tomarão parte na última ressurreição porque eles ressuscitarão quando Jesus voltar. A última ressurreição é para o “injusto” (Atos 24:15), para aqueles “que fizeram o mal” (João 5:29) e para “o restante dos mortos” (Apocalipse 20:5 NVI).

3. Descrição da Última Ressurreição. A última ressurreição ou ressurreição final é descrita em Apocalipse 20:11-15: “E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Essa é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”.