terça-feira, 25 de abril de 2017

Capítulo XLVI - Falsas Teorias a Respeito da Sua Morte

Capítulo XLVI

Falsas Teorias a Respeito da Sua Morte

Embora a Bíblia ensine claramente que o sacrifício de Cristo foi o pagamento da pena do pecado, uma substituição pelos pecadores e o cumprimento das santas exigências de Deus, os teólogos têm inventado muitas teorias falsas a respeito do propósito da morte de Cristo. Algumas delas contêm elementos de verdade, mas elas falham em reconhecer que Sua morte foi primariamente um sacrifício e substituição pelos pecadores.


I. Teoria do Acidente

Os racionalistas extremos afirmam que a morte de Cristo foi um acidente. Eles declaram que a crucificação não estava nos planos de Deus para Seu Filho; foi um imprevisto na vida de Jesus. Eles ensinam que a situação saiu do controle e que Jesus foi preso e crucificado antes que Deus e Jesus soubessem o que estava acontecendo. Eles dizem que Deus fez o melhor possível numa situação lamentável e usou este trágico acidente no Seu plano de salvação depois de refletir a respeito. A Bíblia, entretanto, declara que a morte de Cristo era conhecida por Deus desde o princípio. Ele é o Cordeiro “que foi morto desde a fundação do mundo”. A Sua morte cumpriu as profecias do Antigo Testamento e Suas próprias previsões. Não foi um acidente; isso foi parte de um plano glorioso.


II. Teoria Militar

A Teoria Militar, conhecida também como a Teoria do Resgate Pago a Satanás, foi defendida por Justino Mártir, Irineu de Lyon, Orígenes, Gregório de Níssa, Teodoreto, Basílio, Cirilo de Jerusalém, Jerônimo, Hilário, Leão o Grande, Pedro Lombardo e outros. De acordo com essa teoria, Satanás, como um grande guerreiro, conquistou a raça humana e fez todos os homens seus escravos. A morte de Cristo, ensinam eles, foi um resgate com o qual Deus ou Cristo pagou a Satanás para que os pecadores fossem libertos da jurisdição de Satanás. Eles afirmam que Satanás aceitou Jesus em troca da raça humana. Deus, afirmam eles, enganou a Satanás, ressuscitando Jesus dentre os mortos. De acordo com uma variante dessa teoria, o poder de Satanás sobre os pecadores estava fundamentado na pecaminosidade do homem. Quando Satanás provocou a morte do imaculado Filho de Deus, ele excedeu sua autoridade e perdeu por completo o seu poder sobre o homem. Adeptos dessa teoria ensinam que Satanás foi enganado pensando que Jesus era simplesmente um homem, quando na verdade era o Filho de Deus. Pedro Lombardo ensinou: “O que fez o Remidor ao nosso captor? Ele lhe ofereceu sua cruz como uma ratoeira; e nela Ele colocou seu sangue, como uma isca” (Strong. Op. cit., pág. 747). Alguns ensinam que Jesus, em Sua natureza humana, dominou Satanás e assim adquiriu o direito de libertar os escravos de Satanás e destruí-lo. A Teoria Militar foi substituída pela Teoria Comercial de Anselmo (1033-1109).


III. Teoria do Mártir

Alguns homens acreditam que a morte de Cristo foi a de um mártir. Eles ensinam que Ele foi simplesmente um exemplo para o homem seguir. Os adeptos dessa teoria, conhecida também como Teoria do Exemplo, declaram que o homem é capaz de salvar a si mesmo desde que tenha um bom motivo e um exemplo apropriado para seguir. Tudo o que precisa ser mudado, afirmam eles, é a atitude do homem. Eles afirmam que a pecaminosidade subjetiva do homem é a única barreira entre o homem e Deus, e que não há nada na natureza de Deus que reclame o pagamento da penalidade pelo pecado. De acordo com eles, a morte de Cristo não satisfez ou apaziguou a santidade de Deus; os resultados de Sua morte foram inteiramente na esfera humana. Eles ensinam que o martírio de Cristo salva o homem mostrando a ele o caminho da fé, da obediência e da vida eterna através da definição de um exemplo de verdadeira obediência e inspirando o homem a imitar Sua fidelidade.

A Teoria do Exemplo ou do Mártir é baseada sobre a doutrina Pelagiana do pecado. Ela foi defendida na Polônia do século 16 por Lélio Socino e seu sobrinho Fausto Socino. Sua Teologia é expressa pelo Catecismo Racoviano (1605). Os Socinianos estavam certos em rejeitar a trindade, mas estavam errados na visão de Jesus como um mero homem e em sua teorias do pecado, da expiação e da justificação. Os defensores modernos da Teoria do Exemplo são os Unitarianos e grupos similares.

Essa teoria é falsa. O homem necessita mais do que um exemplo; ele necessita de um Substituto e um Sacrifício. Essa teoria falha em reconhecer que a santidade de Deus demanda que a penalidade do pecado deve ser paga se o ofensor vai sair livre. Essa teoria é centrada no homem; ela não glorifica a Deus.

Além disso, conquanto seja perfeitamente verdadeiro que Cristo está representado como um exemplo na escritura, em nenhum lugar Ele é representado como um exemplo diante do qual os pecadores descrentes devem ter como padrão, e pelo qual se salvarão se imitarem; e sim, esse é o pressuposto necessário da teoria em consideração. O exemplo de Cristo é tal que somente Seu povo pode seguir, e mesmo eles mal podem chegar perto. Ele é nosso Redentor antes de ser o nosso exemplo. (Berkhof. Op. cit., 388).

A influência do exemplo de Cristo nem é declarada na Escritura, nem é encontrada na experiência cristã, para ser o principal resultado obtido por Sua morte. Um mero exemplo nada mais é que a nova pregação da lei, a qual repele e condena. A cruz tem poder de liderar os homens à santidade, somente se antes mostrar a reparação feita por seus pecados. Consequentemente, a maioria das passagens que representam a Cristo como exemplo também contém referências a Sua obra propiciatória (Strong. Op. cit., pág. 732).


IV. Teoria da Influência Moral

Uma outra explicação inadequada para a morte de Cristo é a Teoria da Influência Moral. Algumas vezes chamada de Teoria do Amor de Deus, essa interpretação da morte de Cristo possui muitos pontos em comum com a Teoria do Exemplo ou do Mártir. Essa teoria ignora a santidade de Deus, a culpa pelo pecado e o sacrifício vicário de Cristo. Os homens que sustentam essa teoria insistem que nada há na natureza de Deus que demande que a pena pelo pecado deva ser paga. Eles negam que Cristo morreu como Substituto pelos pecadores. Eles afirmam que Cristo sofreu com os pecadores ao invés de em lugar dos pecadores. Eles creem que o único propósito da morte de Cristo foi manifestar o amor de Deus pelos pecadores, apelar para a emoção do homem e mover seu coração ao arrependimento.

Horace Bushnell (1802-1876), um americano congregacionalista, defendeu essa teoria em seu livro The Vicarious Sacrifice. Essa visão é chamada algumas vezes de Teoria Bushnelliana. Outros defensores incluem Abelardo (1079-1142); F. E. D. Schleiermacher (1768-1834) e Albrecht Ritschl (1822-1889) da Alemanha; e John M. Campbell (1800-1872) e F. W. Robertson (1816-1853) da Inglaterra. Teólogos liberais e modernistas defendem hoje essa teoria.

A Teoria da Influência Moral contém certos elementos de verdade, a saber, que a morte de Cristo é uma manifestação do amor de Deus e que isso provê um motivo para o arrependimento. É inadequada, entretanto, ao enfatizar o amor de Deus à custa de Sua santidade. Defensores dessa teoria mostram um resultado secundário da morte de Cristo como o único propósito da expiação. Eles negam que Ele tenha morrido como Substituto pelo pecador.

Para esta teoria nós respondemos que, embora a morte de Cristo seja uma expressão do amor de Deus (João 3:16; Romanos 5:6-8), os homens sabiam que Deus os amava antes da vinda de Cristo (Deuteronômio 7:7; Isaías 38:17; Jeremias 31:3; Malaquias 3:6); que a simples agitação das emoções não leva ao arrependimento, o que pode ser provado pelo efeito dessa comoção num teatro; que a teoria contradiz as representações da Escritura de que Deus deve ser aplacado antes que Ele possa perdoar (Hebreus 9:14; 2 17; Romanos 3:25,26; 1 João 2:2; 4:10); que o fundamento da morte de Cristo está no amor de Deus mais do que em Sua santidade; e que nessa teoria é difícil explicar como os crentes do Antigo Testamento foram salvos, visto que eles não tiveram esta lição objetiva do amor de Deus. Nós não devemos reduzir a expiação a um jogo de paixão, na qual o ator parece ser movido por motivos sinceros, quando na realidade ele simplesmente trabalha com as emoções da sua audiência (Thiessen. Op. cit., pág. 317).
Embora não haja dúvida de que a verdade da cruz de Cristo foi a suprema manifestação do amor de Deus, ela pode ser considerada assim somente sob o ponto de vista da doutrina da expiação por substituição penal, de acordo com a qual o sofrimento e a morte de Cristo foram absolutamente necessários para a salvação dos pecadores. Mas de acordo com a teoria da influência moral, eles serviram meramente ao propósito de causar uma impressão no homem, o que Deus já havia feito de várias outras maneiras; e, portanto, não era necessário. E se isso não era necessário, foi de fato uma manifestação cruel do amor de Deus – uma contradição. O sofrimento e a morte de Cristo foram uma manifestação do amor de Deus somente, se isto era o único meio de salvar os pecadores (Berkhof. Op. cit., págs. 386,387)


V. Teoria Comercial

A Teoria Comercial foi formulada por Anselmo de Cantuária (1033-1109) e foi apresentada em seu famoso livro Cur Deus Homo. Sua visão foi estabelecida como substituta da Teoria Militar ou a Teoria do Resgate Pago a Satanás. De acordo com a teoria de Anselmo, a morte de Cristo se deu para satisfazer a honra de Deus ou Sua majestade, a qual foi violada pelo pecado. Devido a honra ou majestade de Deus ser infinita, ele conclui, o pecado requer uma punição infinita. Ele ensinou que o perfeito Filho de Deus, em vista da dignidade de Sua pessoa, suportou a infinita punição pelos pecados dos eleitos, Sua punição foi um equivalente exato do sofrimento merecido pelos pecadores. Anselmo apresentou sua teoria numa época em que o maior pecado conhecido na lei era ofender a honra ou a majestade de um rei ou papa. A Teoria Comercial está correta em reconhecer a morte de Cristo como uma satisfação dada a Deus. Está errada em afirmar que o sacrifício de Cristo foi uma satisfação à majestade e honra de Deus e não à Sua santidade.


VI. Teoria Governamental

A Teoria Governamental foi formulada por Hugo Grócio, um jurista e teólogo alemão (1538-1645). Seu livro é chamado Defensio Fidei Catholicae de Satisfactione. Essa teoria, a explicação Arminiana e Wesleyana da morte de Cristo, é exposta nos escritos de Richard Watson e John Miley. De acordo com essa teoria, o governo do universo por Deus requer que Ele mostre Sua ira contra o pecado. Aqueles que defendem esse ponto de vista ensinam que Deus não pode perdoar os pecadores a menos que alguma amostra seja dada revelando a alta consideração que Ele tem por Sua lei e Seu governo. Eles dizem que Deus deu esse exemplo na morte de Seu Filho, na qual Ele revelou a Sua ira contra o pecado. Desse modo, Deus é capaz de manter o controle de Seu governo do universo enquanto Ele perdoa o pecado. Os defensores dessa teoria declaram que Cristo não sofreu a pena da lei, mas Deus graciosamente aceitou Seu sofrimento em substituição pela pena.

Essa teoria falha em revelar o verdadeiro propósito da morte de Cristo. A morte de nosso Salvador foi requerida, não meramente por causa do governo de Deus, mas por causa de Sua santidade. O pecado não é simplesmente contra o governo de Deus, é contra o próprio Deus. Essa teoria faz da morte de Cristo, não uma execução da lei, mas uma exibição do respeito de Deus pela lei. A Bíblia ensina que a morte de Cristo foi a pena pelo pecado dos pecadores. Sua morte não foi simplesmente substituta da pena; ela foi o pagamento da pena.

O verdadeiro propósito da morte de Cristo é que ela foi o pagamento pela pena do pecado, uma substituição pelos pecadores e o cumprimento dos requisitos da santa natureza de Deus. Somente o Seu sacrifício pode satisfazer a consciência culpada do homem e inspirá-lo à humildade, arrependimento e verdadeira justiça. Pela eternidade, Jesus será adorado como o Cordeiro que foi imolado para prover a base da salvação para os pecadores. Deus será revelado em Seu verdadeiro caráter de santidade e amor.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Capítulo XLV - O Propósito da Morte de Cristo

Capítulo XLV

 

O Propósito da Morte de Cristo

 

O propósito da morte de nosso Salvador é uma das doutrinas mais importantes da Teologia. Esse ensino vital é um elo chave na corrente da verdade Bíblica; é o eixo principal na linha dourada da Teologia Sistemática. Entenda o propósito da morte de Cristo e você entenderá a natureza de Deus, a natureza do pecado e o significado da salvação.

 

 

I. Propósito Primário e Secundário

 

A morte de nosso Salvador envolve um duplo propósito. Dois grandes acontecimentos resultaram de Sua morte. 1) Primeiro, o sacrifício de nosso Senhor resolveu o problema do pecado do homem em relação à santidade de Deus. Pagando a pena do pecado como Substituto do pecador, o Cordeiro de Deus (João 1:29) providenciou a base através da qual Deus pode perdoar os pecadores sem a violação de Seu santo caráter. Sua morte foi uma propiciação pelo pecado, uma satisfação à santidade de Deus. 2) Em segundo lugar, a morte de Cristo resolveu o problema do livre arbítrio do homem em relação ao poder transformador de Deus. Revelando o amor infinito de Deus, o Bom Pastor (João 10:11) providenciou um motivo para a reconciliação do homem com Deus. Seu amor apela à vontade do homem para que se renda ao poder transformador de Deus.

 

Para o crente, portanto, o sacrifício de Cristo é tanto objetivo como subjetivo; é externo e também interno. Possui ambos os aspectos moral e legal. Sustenta uma relação com a santidade de Deus e o pecado do homem; relaciona o amor de Deus e a vontade do homem. Ele revela a sabedoria e o poder de Deus. Paulo escreveu: “Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (I Coríntios 1:22-24). O sacrifício de Cristo é a sabedoria de Deus porque resolveu o problema do pecado do homem em relação à santidade de Deus. É o poder de Deus porque ele proveu uma razão adequada para que os homens rendessem suas vontades ao poder transformador de Deus.

 

1. Cordeiro Sacrificial. Jesus morreu na cruz para pagar a pena do pecado, para ser um substituto dos pecadores e para preencher os requisitos da natureza santa de Deus. A morte de Cristo removeu a barreira criada pelo pecado do homem em relação ao caráter imaculado de Deus. Quando Deus perdoa o pecador, Ele não age de forma contrária à Sua natureza santa porque a pena do pecado foi paga através do sacrifício de Cristo (Romanos 3:24-26). Deus pode continuar sendo santo e justo enquanto Ele perdoa e justifica o crente pecador porque a demanda de sua santidade foi satisfeita na cruz. O resultado primário da morte de Cristo é que ela estabeleceu um relacionamento legal e judicial entre Deus e o homem.

 

2. Pastor Amoroso. Como um propósito secundário, a morte de Cristo manifesta o amor de Deus e de Cristo de tal forma que move o coração dos homens ao arrependimento. O que Cristo fez por nós provê um incentivo motivador para que possamos cumprir o que devemos fazer por Ele. O amor sacrificial do Bom Pastor serve de estímulo moral para Suas ovelhas. Como um exemplo de perfeito amor, a Sua morte inspira os homens a se libertarem do egoísmo (Lucas 9:22-24; II Coríntios 5:15; Gálatas 1:4; Efésios 5:25-27; Colossenses 1:22; Tito 2:14; I Pedro 2:21-24). A manifestação do amor de Deus, entretanto, não é somente o primário ou único propósito da morte de Cristo. A Teoria da Influência Moral da expiação contém certos elementos de verdade, mas é inadequada quando enfatiza o amor de Deus à custa de Sua santidade. A morte de Cristo foi primariamente um sacrifício e substituta para os pecadores. 

 

“Sendo assim, a expiação responde à demanda ética da natureza divina na qual o pecado seja punido se o transgressor está para ir em liberdade. Os interesses do governo divino são assegurados como um primeiro resultado subordinado desta satisfação para o próprio Deus, de quem a natureza do governo é uma expressão; enquanto, como um segundo resultado subordinado, a provisão é feita para as necessidades de natureza humana – por um lado a necessidade de uma satisfação objetiva para a sua demanda ética de punição para o pecado, e de outro a necessidade da manifestação do amor e da misericórdia divina que alcançará ao coração e o moverá ao arrependimento” (Strong. Op. cit., pág. 753).

 

Cristo, o Senhor, morreu na cruz de forma que possamos ser salvos da cruz. Isso para nós é a exclusão, o lado judicial de Sua morte, a libertação providenciada pelo Gólgota. Não obstante, ao contrário disso, Cristo morreu lá na cruz de forma que nós fôssemos para a cruz junto com Ele. Isso para nós é a inclusão, o lado moral de Sua morte, a obrigação do Gólgota. Nós somos “plantados juntamente” com O crucificado e somos associados organicamente à “semelhança de Sua morte” (Romanos 6:5). Nós somos seguidores, tomamos a cruz (Mateus 10:38), grãos de trigo como Ele foi, que somente através da morte realmente viverão (João 12:24,25). Nós somos chamados para compartilhar o caráter realmente obscuro, mas, entretanto, fundamento precioso de nossa própria redenção. Nós fomos “crucificados com Cristo” (Gálatas 2:20) (Sauer, Erich. The Triunph of the Crucified. Grand Rapids: Eerdmans, 1592, pág. 36,37).

 

 

II. Pagamento da pena do pecado

 

“O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A natureza santa de Deus exige que a pena para todo pecado cometido no universo deva ser paga. A morte de Seu Filho sobre a cruz foi o pagamento da pena dos pecados dos crentes. Estando sem pecado, Jesus não tinha necessidade de morrer por Si mesmo. Através do amor, Jesus voluntariamente sacrificou a Si mesmo e morreu como substituto daquele que crê. Portanto, os crentes que estão unidos com Cristo mediante a conversão estão livres da condenação (Romanos 8:1) e estão isentos da segunda morte (Apocalipse 2:11; 20:6), pela qual o ímpio pagará a pena do pecado. A justiça de Cristo é imputada aos crentes na conversão e é na realidade transmitida a eles na medida em que permitem a Cristo exercer uma influência em suas vidas.

 

1. Porque o Pecado Deve Resultar em Morte. O salário do pecado deve ser a morte, o oposto da vida, porque o pecado é contrário a Deus, e Deus é vida. O pecado viola as leis morais de Deus, as quais são a expressão de Seus atributos morais: santidade, amor e verdade. O próprio Deus é a referência para o certo e o errado. A piedade é ser semelhante a Deus. Ser devoto é ser semelhante a Deus em caráter e conduta. Deus é santo, e Ele disse: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:16). Deus é amor, e Jesus explicou que o amor resume os mandamentos de Deus (Mateus 22:37-40). Quando os crentes são transformados de acordo com os planos de Deus, eles se tornam reflexos do caráter de Deus e Jesus.

 

As leis morais de Deus não são arbitrárias. Elas não resultaram de uma vontade arbitrária ou um capricho divino. As leis de Deus não expressam somente a Sua vontade, mas também Seu santo caráter. O pecado é contrário à natureza interior de Deus. A santidade, retidão e justiça de Deus exigem que o pecado resulte em morte. Pecado é contrário a Deus. Deus deve condenar o pecado ou viola Seu próprio caráter. O pecado deve resultar em destruição. A pena para todo o pecado deve ser paga (Romanos 6:23; Gênesis 2:17; 3:19; Romanos 1:32; 5:12).

 

2. A Segunda Morte Pagará a Pena do Pecado. Os pecadores pagarão a pena por seus pecados sendo destruídos na segunda morte (Apocalipse 20:15; 21:8). A primeira morte não é o pagamento final da pena do pecado. Se ela fosse o pagamento final, os cristãos, cujos pecados foram perdoados, não morreriam a primeira morte. Todos os homens morrem a primeira morte; somente os pecadores, entretanto, morrerão a segunda morte. Porque Deus não destruiu a raça humana no momento em que Adão e Eva pecaram? Por misericórdia, graça, e longanimidade Deus postergou a data para a execução da pena do pecado. Ele “adiou” a execução até a segunda morte de maneira que os pecadores tenham a oportunidade de se arrependerem.

 

A primeira morte não remove a culpa do pecador. O pagamento completo do salário do pecado será efetuado pelo pecador quando ele for destruído na segunda morte. Levantados para a vida na ressurreição final, os pecadores ainda estarão debaixo da ira e da condenação de Deus. O fato de serem culpados não terá mudado. Eles serão responsabilizados pelos pecados cometidos nesta vida. Eles serão julgados de acordo com as obras pecaminosas cometidas hoje. Na segunda morte, a pena do pecado será paga; os pecadores serão destruídos.

 

3. Porque é Preciso Um Substituto. A morte eterna e a vida eterna são mutuamente exclusivas. Se alguém paga pelos próprios pecados, sendo destruído na segunda morte, ele não pode viver eternamente. A segunda morte será a destruição, a extinção da vida. Desde que a natureza de Deus demanda que a pena do pecado deva ser paga, e visto que o pecador não pode pagar a pena por si mesmo e ainda assim experimentar a vida eterna, fica evidente que se alguém deve ser salvo, a pena pelo pecado deve ser paga por um substituto.

 

Através do Seu plano de salvação, Deus providenciou um meio através do qual a pena do pecado pudesse ser paga e o pecador perdoado pudesse viver pela eternidade. Jesus, o imaculado Filho de Deus, voluntariamente se tornou o Substituto do pecador. Em Sua morte sacrificial, Ele pagou o salário do pecado pelos pecadores. Ele tomou o lugar deles. Jesus é a única pessoa que poderia servir como Substituto do homem. Somente Ele era sem pecado. Se Jesus não se fizesse sacrifício pelo homem, o homem estaria sem salvação.

 

4. Conservação da Natureza Santa de Deus. O sacrifício vicário de Cristo torna possível a Deus conservar Sua santidade, retidão e justiça enquanto Ele perdoa e justifica o pecador que crê em Cristo. Em perdoando o pecador, Deus não age de forma contrária ao Seu santo caráter. Paulo explicou: “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:24-26). Através de Sua morte, Jesus satisfez a demanda da lei e os requisitos do santo governo de Deus sobre o universo. Deus pode seguir sendo santo enquanto Ele justifica os pecadores porque a demanda de Sua santidade foi satisfeita no Calvário.

 

5. Somente Duas Alternativas. O salário do pecado pode ser pago por uma das duas formas. O pecador pode pagar a pena de seus pecados por si mesmo, sendo destruído na segunda morte, ou ele ainda pode aceitar os benefícios da morte sacrificial de Cristo. De qualquer maneira, o salário do pecado seria pago e as demandas da santidade de Deus seriam satisfeitas. Se o homem pagar a pena de seu próprio pecado na segunda morte, ele estaria dando uma satisfação pessoal por seus pecados. Se ele se tornar vitalmente unido com o Cordeiro de Deus e aceitar os benefícios de Seu sacrifício, ele estaria dando uma satisfação vicária por seus pecados. O pecador, portanto, só tem duas alternativas. Ele deve aceitar o sacrifício de Cristo ou ser destruído na segunda morte. Não há outra escolha possível. Sem Cristo, o pecador encara a destruição.

 

 

III. O Substituto do Pecador

 

Jesus morreu como o Substituto do pecador. Ele tomou o lugar do pecador e suportou a penalidade do pecado no Seu sofrimento e morte. Ele morreu na cruz, então os crentes não deverão morrer a segunda morte. Cristo satisfez perfeitamente todos os requisitos da lei. A lei exigia que seus preceitos fossem obedecidos; para a desobediência, sua pena deveria ser paga. Como Substituto dos pecadores, Jesus fez as duas coisas: obedeceu os preceitos da lei e sofreu a penalidade da lei. Ele pagou a pena do pecado, não por Si mesmo, mas pelos pecadores. “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). O pecado do crente é imputado a Cristo, e a justiça de Cristo é imputada ao crente.

 

Quando os pecadores recebem a Jesus como Substituto, Sacrifício e Salvador, eles se tornam vitalmente unidos com Ele. Eles entram em Cristo, e Cristo entra neles. Em consequência dessa relação vital, Deus pode tratar o pecador justamente como se ele houvesse obedecido os preceitos da lei e sofrido a sua pena. Com base na imputação da justiça de Cristo, Deus como Juiz declara que o pecador está justificado em relação à lei. O sacrifício vicário de Cristo é o único meio pelo qual os pecadores podem adquirir os padrões de justiça perante Deus.

 

Jesus é qualificado para ser o Substituto do pecador porque Ele é o Filho de Deus e o Filho do Homem. Por ser o Filho do Homem, Ele tem o direito absoluto e inerente para agir como representante do Homem. Por ser o Filho de Deus, Sua morte adquire um valor infinito e é suficiente para todos os pecadores. Jesus é a única pessoa qualificada para ser o Substituto do homem. Somente Ele é sem pecado, somente Ele é o Filho de Deus e o Filho do Homem. Um pecador não poderia ter servido como substituto do homem porque todos os homens têm pecados e devem responder a Deus por seus próprios pecados. Um anjo não poderia ter servido como substituto do homem porque os anjos não se identificam com a raça humana e não podem morrer (Lucas 20:36). Um animal não poderia servir como substituto do homem porque o reino animal é inferior à raça humana. Um ser humano tem mais valor do que inúmeros animais. Um animal não poderia ser um substituto equivalente para um homem. “Porque é impossível que o sangue de touros e dos bodes tire pecados” (Hebreus 10:4). Unicamente Jesus é o Substituto do homem.

 

Um sinônimo para substituição é vicário. Quando se diz que o sacrifício de Cristo foi vicário, significa que Sua morte foi uma substituição pelas outras.

 

“Sofrimento vicário é o sofrimento suportado por uma pessoa ao invés de outra, isto é, em seu lugar. Isso necessariamente supõe a isenção da parte no lugar de quem o sofrimento é suportado. O vicário é um substituto, alguém que toma o lugar de outro, e age em seu lugar... O que o substituto faz pela pessoa de quem toma o lugar é vicário, e absolve a pessoa da necessidade de fazer ou sofrer a mesma coisa. Portanto, quando se diz que o sofrimento de Cristo foi vicário, isto significa que Ele sofreu em lugar dos pecadores. Ele foi o substituto deles. Ele assumiu a obrigação deles para satisfazer a justiça (Hodge, Charles. Op. cit., vol. II, pág. 475).

 

 

IV. Seu Sacrifício Vicário na Escritura

 

1. Escrituras que Indicam a Substituição. A Bíblia retrata a morte de Cristo como uma substituição pelos pecadores. Os textos a seguir mostram a morte de Cristo pelos pecadores e Sua morte pelos pecados.

 

Sua morte pelos pecadores

Mateus 20:28                        Em resgate de muitos

Mateus 26:28                                    Derramado por muitos

Marcos 10:45                                    Em resgate de muitos

Lucas 22:19,20                                 Meu sangue, que é derramado por vós

João 6:51                                           Darei pela vida do mundo

João 10:11,15                                    Pelas ovelhas

João 11:50,51                                    Um homem morra pelo povo                     

João 15:13                                         Dar a sua vida pelos seus amigos

João 18:14                                         Um homem morresse pelo povo

Romanos 5:6                                     Cristo morreu pelos ímpios

Romanos 5:8                                     Cristo morreu por nós

Romanos 8:32                                  O entregou por todos nós

Romanos 14:15                                Por quem Cristo morreu

1 Coríntios 5:7                                  Foi sacrificado por nós

1 Coríntios 8:11                               Pelo qual Cristo morreu

2 Coríntios 5:14                               Um morreu por todos

2 Coríntios 5:15                               Ele morreu por todos

2 Coríntios 5:21                               Se fez pecado por nós

Gálatas 2:20                                      Se entregou por mim

Gálatas 3:13                                      Fazendo-se maldição por nós

Efésios 5:2                                         Se entregou por nós

Efésios 5:25                                      Se entregou

1 Tessalonicenses 5:10                 Que morreu por nós

1 Timóteo 2:6                                   Redenção por todos

Tito 2:14                                            Deu a si mesmo por nós

Hebreus 2:9                                      Provasse a morte por todos

1 Pedro 2:21                                     Cristo padeceu por nós

1 Pedro 3:18                                     O justo pelos injustos

1 João 3:16                                        Deu a sua vida por nós

 

Sua Morte pelos Pecados

Isaías 53:5                             Ferido pelas nossas transgressões

Isaías 53:6                             Fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós

Isaías 53:8                             Pela transgressão do meu povo

Isaías 53:10                           Sua alma por expiação do pecado

Isaías 53:11                           As iniquidades deles levará sobre si

Isaías 53:12                           Levou sobre si o pecado de muitos

Romanos 4:25                       Por nossos pecados foi entregue

Romanos 8:3                         Pelo pecado

1 Coríntios 15:3                    Cristo morreu por nossos pecados

Gálatas 1:4                             Deu a si mesmo por nossos pecados

Hebreus 2:17                        Expiar os pecados do povo

Hebreus 9:28                        Tirar os pecados de muitos

Hebreus 10:12                      Um único sacrifício pelos pecados

1 Pedro 2:24                         Levando em seu corpo os nossos pecados

1 Pedro 3:18                         Padeceu pelos pecados

1 João 2:2                              Pelos pecados de todo o mundo

1 João 4:10                            Propiciação pelos nossos pecados

 

2. Expressões Indicando Substituição. O sacrifício vicário de Cristo está indicado por várias expressões na Bíblia mostrando que nossos pecados são imputados a Cristo e que Ele morreu no lugar dos pecadores. Algumas destas expressões são: “... fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Isaías 53:6); “Contado com os transgressores” (Isaías 53:12); “Se fez pecado por nós” (2 Coríntios 5:21); “Fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13); “Levou” (Isaías 53:11; Isaías 53:12; 1 Pedro 2:24); “Tirou” (Hebreus 9:28); “Tomou” (Isaías 53:4); “Tira o pecado” (João 1:29).

 

3. Preposições Mostrando Substituição. O fato de que Jesus morreu como Substituto do pecador é indicado pelo uso de preposições gregas. As quatro principais preposições gregas aplicadas em conexão com a obra de Cristo pelos pecadores são: anti, huper, peri e dia. Todas as quatro são traduzidas para o português pelas palavras “por”, “pelo” e “para”. Com relação à morte de Cristo, as duas últimas palavras são usadas com menos frequência do que as duas primeiras. Peri (Mateus 26:28; Gálatas 1:4; 1 João 2:2; 4:10) significa “no que diz respeito a” ou “sobre”. Dia usualmente significa “por meio de”, mas quando usada com o caso acusativo (1 Coríntios 8:11; Romanos 4:25) significa “por causa de”.

 

Anti é a preposição grega para “preço”, “equivalência” e “troca.” Ela significa “em lugar de”. Essa preposição é a que melhor se aplica à doutrina da substituição. “O Filho do Homem veio não para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28; Marcos 10:45). Cristo, o Substituto, deu a Sua vida por resgate “em lugar de” muitos. A palavra para resgate em 1 Timóteo 2:6 é antilutron; e é uma combinação da preposição “em lugar de” e lutron, a palavra para resgate em Mateus e Marcos. O fato de anti significar “em lugar de” é evidenciado pelo seu uso nos seguintes textos: Mateus 2:22; 5:38; Lucas 11:11; Romanos 12:17; 1 Tessalonicenses 5:15; Hebreus 12:16; 1 Pedro 3:9. No Antigo Testamento em Grego, anti é traduzido “em lugar de” (Gênesis 22:13) e “em seu lugar” (Gênesis 36:33-35). O uso dessa preposição em relação ao sacrifício de Cristo prova que Ele morreu como o Substituto do pecador.

 

Huper, a preposição mais frequentemente usada em referência ao sacrifício de Cristo, é uma palavra mais ampla que anti. Ela significa “em lugar de”, “em nome de” e “em benefício de”. Nosso Salvador morreu não apenas em lugar do pecador, mas também em benefício do pecador. Os escritores do Novo Testamento, entretanto, usaram a palavra huper com mais frequência do que a palavra anti em referência à morte de Cristo, porque assim ambos os pensamentos poderiam ser incluídos. Cristo morreu em lugar do ímpio, e Cristo morreu para o benefício do ímpio (Romanos 5:6). A palavra huper “pelo” inclui esses dois pensamentos. Em muitas escrituras, o significado exato de “em lugar de” é dado pela palavra huper. Por exemplo: “Gostaria de mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto estou preso por causa do evangelho” (Filemom 13, NVI). Outros exemplos incluem: João 11:50,51; 18:14; 2 Coríntios 5:14,15,20; Gálatas 3:13. O sacrifício vicário de Cristo também é evidente em Romanos 5:6; 1 Timóteo 2:6; 1 Pedro 3:18. W. G. T. Shedd cita muitos exemplos dos escritores clássicos gregos que mostram que huper e anti foram usadas indistintamente, e que huper foi usada para significar “no lugar de” (Op. cit., II, pág. 380).

 

4. A Morte de Cristo Como Sacrifício. O fato da morte de Cristo ser descrita como um sacrifício prova que Ele morreu como Substituto do pecador. Os sacrifícios do Antigo Testamento direcionavam para aquele sacrifício do Cordeiro de Deus, todo suficiente e eternamente eficaz. Os sacrifícios de animais providenciaram a base para o perdão dos pecadores (Hebreus 9:22). Os animais eram oferecidos como substitutos dos pecadores. A lei requeria que o animal sacrificado fosse de propriedade do ofertante. O pecador impunha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava seu pecado. Essa ação simbolizava sua identificação com o sacrifício e a transferência da sua culpa para o substituto. O animal era então imolado e seu sangue era derramado ou aspergido no altar de sacrifício.

 

O Novo Testamento descreve a morte de Cristo como um sacrifício vicário. Como o imaculado Cordeiro de Deus, Jesus morreu como Substituto do pecador. Com a culpa do pecado imputada a Ele, Jesus, “que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). Por um ato de fé, o pecador se identifica com o Cordeiro de Deus e reconhece que seus pecados foram imputados a Cristo.

 

A Palavra de Deus ensina que a morte de Cristo foi um sacrifício quando se refere a Jesus como um Cordeiro (João 1:29,36; 1 Coríntios 5:7; 1 Pedro 1:19; Isaías 53:4-12). Ele também é designado como Cordeiro vinte o oito vezes no Apocalipse. A morte de nosso Senhor é descrita como uma oferta e um sacrifício (Isaías 53:10; 1 Coríntios 5:7; Efésios 5:2; Hebreus 1:3; 9:14,26,28; 10:10,12). Frases sacrificiais são usadas em referência à Sua morte: fez cair sobre Ele o pecado de nós todos; Ele se fez pecado; Ele levou nossos pecados, carregou os pecados e tirou pecados; Seu sangue foi derramado ou vertido. Os crentes, como participantes do sacrifício, são descritos comendo Sua carne (João 6:52-59). A importância que a Palavra de Deus atribui ao sangue de Cristo em relação à salvação mostra que a Sua morte foi um sacrifício vicário (Mateus 26:28; Marcos 14:24; Lucas 22:20; Atos 20:28; Romanos 3:25; 5:9; Efésios 1:7; 2:13; Colossenses 1:14; Hebreus 9:12,14,22; 10:19; 12:24; 13:12; 1 Pedro 1:2,19; 1 João 1:7; Apocalipse 1:5; 5:9; 7:14; 12:11; 19:13).

 

Os benefícios do sacrifício de Cristo atingiram o passado e serviram como propiciação pelos pecados perdoados aos santos do Antigo Testamento (Romanos 3:25; Hebreus 9:15). Os sacrifícios de animais por si mesmos não tiravam os pecados. “Porque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire pecados” (Hebreus 10:4). Os animais não eram substitutos equivalentes aos pecadores, mas Deus temporariamente os aceitou em lugar do futuro sacrifício de Cristo, o qual foi planejado “desde a fundação do mundo”. A. A. Hodge escreveu:

 

Os sacrifícios de touros e de bodes eram como um dinheiro simbólico, como cheques ou notas promissórias, que são aceitos pelo valor nominal até o dia do pagamento. Mas o sacrifício de Cristo foi o ouro que extinguiu absolutamente todo o débito pelo seu valor intrínseco. Consequentemente, quando Cristo morreu, o véu que separava o homem de Deus rasgou-se de alto até abaixo por mãos sobrenaturais. Quando a expiação real foi concluída, todo o sistema simbólico que a representava se fez functum officio, e foi abolido. Logo depois disso, o templo foi demolido até ao chão, e o ritual foi impossibilitado definitivamente (Citado por Strong. Op. cit., pág. 728).

 

5. A Morte de Cristo Como Propiciação. O propósito da morte de Cristo é revelado pelo fato de ser descrita como uma propiciação. Através de Seu sacrifício, Ele removeu a causa da condenação do homem. Dessa forma, a santidade de Deus foi satisfeita; Sua ira foi aplacada. Propiciação e reconciliação estão ligadas entre si: a propiciação é para Deus, a reconciliação é para o homem. Deus é aplacado, o homem é reconciliado (Romanos 3:25,26; 1 João 2:2; 4:10; Hebreus 2:17; 9:5; Lucas 18:13). A palavra grega “hilaskomai” em Hebreus 2:17 deveria ser traduzida como propiciação no lugar de reconciliação (Nota do tradutor: a Nova Versão Internacional em português (NVI) já incluiu a palavra propiciação, como indicado pelo autor). Essa palavra também ocorre em Lucas 18:13. A palavra grega “hilasterion”, traduzida como propiciação em Romanos 3:25, é traduzida como propiciatório em Hebreus 9:5. O propiciatório, a tampa de ouro da arca da aliança que ficava no Lugar Santíssimo do tabernáculo, era o lugar onde era feita a propiciação pelos pecados de Israel. O sacrifício de Cristo fez a propiciação pelos pecados do mundo. Havendo pago a pena pelo pecado, o Cordeiro de Deus é o propiciatório para os pecadores. A ira de Deus permanece sobre os pecadores (João 3:36; Romanos 1:18; 2:5; Efésios 5:6; Colossenses 3:6), mas para os cristãos “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1). Eles são salvos da ira através de Cristo (Romanos 5:9; 1 Tessalonicenses 1:10; 5:9).

 

6. A Morte de Cristo é Um Resgate. A Bíblia também demonstra a natureza vicária da morte de Cristo descrevendo-a como um resgate ou o preço da redenção (Mateus 20:28; Marcos 10:45; 1 Timóteo 2:6; Atos 20:28; 1 Coríntios 6:20; 7:23; Tito 2:14; 1 Pedro 1:18,19; Apocalipse 5:9).

 

 

V. Natureza da Substituição de Cristo

 

1. Substituição Equivalente. A morte de Cristo no Calvário foi mais do que equivalente em valor do que as incontáveis mortes dos pecadores na segunda morte. O sacrifício de Cristo foi equivalente e não uma substituição idêntica. Sua morte não foi a mesma que a morte daqueles por quem Ele foi Substituto. A morte de um não pode ser a mesma que a morte de muitos. A morte de Cristo na cruz não foi igual à segunda morte na qual os pecadores serão destruídos. A morte de Cristo, depois de três dias, finalizou com a ressurreição; a segunda morte, por outro lado, será sem fim. A morte de Cristo, portanto, não foi idêntica à morte dos pecadores pelos quais Ele era o Substituto.

 

A filiação divina de nosso Senhor dá infinito valor à Sua morte sacrificial. Esse fato explica a capacidade de Cristo em ser Substituto de muitos pecadores. Uma moeda de um dólar é menor em número do que noventa e nove centavos, mas é maior em valor. Jesus é uma única pessoa, mas a Sua morte é de maior valor que a morte de um infinito número de pecadores. Nosso Salvador, portanto, poderia ser o Substituto de todos os pecadores que já viveram. Sua morte não precisava ser a mesma morte que o ímpio experimentará na segunda morte. Como Substituto, Jesus pagou o débito equivalente por todos os pecadores em Sua morte sobre a cruz. Sua morte tem um valor infinito porque Ele é o Filho de Deus.

 

2. Extensão de Seu Sacrifício. Por quem Jesus morreu? Ele morreu por todos os homens ou somente pelos eleitos? Se Ele morreu por todos os homens e nem todos os homens O aceitarem, seria o Seu sacrifício parcialmente desperdiçado? Qual a extensão de Seu sacrifício? As seguintes escrituras ensinam com clareza que o sacrifício de Cristo foi por todos os homens. O valor infinito de Sua morte é suficiente para cobrir o pecado de todos. O convite para aceitar os benefícios de Seu sacrifício é extensivo a todos os homens. “E quem ouve, diga: vem”. Não existem barreiras, não há discriminação. “O chão ao pé da cruz é a base de nivelamento”. Foi feita a provisão para todos no precioso sangue do Cordeiro.

 

João 1:29                   Pecado do mundo

Romanos 3:22         Para todos os que creem

1 Timóteo 2:6          Redenção por todos

1 Timóteo 4:10       Salvador de todos os homens

Tito 2:11                   Trazendo salvação a todos os homens

1 João 2:2                  Pelos de todo o mundo

 

Os defensores de uma expiação limitada deduzem que, se Cristo morreu por todos os homens, Sua morte foi parcialmente desperdiçada porque nem todos os homens aceitam os benefícios de Sua morte. Eles afirmam que Deus já conhecia todos os pecadores que não aceitariam a Sua salvação e que Jesus não se incomodaria de morrer por eles. Eles insistem que Ele morreu somente pelos eleitos. Isso não é verdade. O sacrifício vicário de Cristo não foi simplesmente igual a um número definido de pecadores. Sua morte foi de tamanho valor que foi muito mais do que o equivalente a um número infinito de pecadores. Se existisse somente um pecador no universo, o mesmo sacrifício de Cristo seria exigido por esse pecador, assim como foi para incontáveis bilhões de pecadores cujos pecados Seu sacrifício potencialmente cobriu.

 

                        Senhor, eu creio que os pecadores

                             Eram mais que a areia na praia do mar,

                        Tu pagaste o resgate por todos,

                             Plena expiação por todos fizeste.

                                               (Zinzendorf, 1739)

 

3. Substituição Condicional. Existem duas formas de substituição: incondicional e condicional. A substituição incondicional concede completa e absoluta libertação para aqueles que dela se beneficiam. Não existem “pré-condições estabelecidas”. A substituição condicional oferece libertação somente sob a condição de que certos requisitos sejam cumpridos por quem a substituição é feita. A substituição de Cristo é condicional. Os homens não são salvos automaticamente simplesmente porque o preço já foi pago. O pecador deve atender a certas condições. O pecador deve unir-se vitalmente a Cristo através da conversão.

 

O sacrifício de Cristo é infinitamente suficiente para cada pecador; ele é eficaz, no entanto, unicamente para aqueles que o aceitam por meio da fé. A provisão para a salvação foi feita por todos; a aplicação da salvação é feita somente para aqueles que a aceitam. O Cordeiro de Deus potencialmente levou a culpa e pagou a pena do pecado de toda a raça humana. Contudo, os benefícios de Seu sacrifício na realidade se tornam efetivos na vida do pecador somente quando ele se relaciona apropriadamente com Cristo por meio da conversão.

VI. A morte de Cristo nos Hinos da Igreja

 

 

O propósito da morte de Cristo está revelado nos grandes hinos da Igreja. Os hinos não constituem uma fonte da Teologia, mas eles revelam os resultados da Teologia na experiência religiosa dos crentes.

 

Os autores dos grandes hinos da Igreja têm sido quase todos unânimes em reconhecer a morte de Cristo como um sacrifício. O propósito da morte de Cristo é apresentado como pagamento pela pena do pecado, como um sacrifício que fez a propiciação pelos pecados, como uma obra realizada em benefício dos pecadores e no lugar dos pecadores. Alguns dos hinos mais conhecidos são: O Sacred Head Now Wounded (Bernard of Clairvaux, 1091-1153; traduzido para o alemão por Paul Gerhardt, 1656; traduzido para o inglês por James W. Alexander, 1830); Jesus Thy Blood and Righteousness (Primeira estrofe, Leipziger Gesangbuch, 1538; outras estrofes, Nicolaus Ludwig v. Zinzendorf, 1739; traduzido para o inglês por John Wesley, 1740); When I Survey the Wondrous Cross (Isaac Watts, 1707); Rocha Eterna (Augustus M. Toplady, 1776); e Not What These Hands Have Done (Horatius Bonar, 1861).