terça-feira, 25 de abril de 2017

Capítulo XLVI - Falsas Teorias a Respeito da Sua Morte

Capítulo XLVI

Falsas Teorias a Respeito da Sua Morte

Embora a Bíblia ensine claramente que o sacrifício de Cristo foi o pagamento da pena do pecado, uma substituição pelos pecadores e o cumprimento das santas exigências de Deus, os teólogos têm inventado muitas teorias falsas a respeito do propósito da morte de Cristo. Algumas delas contêm elementos de verdade, mas elas falham em reconhecer que Sua morte foi primariamente um sacrifício e substituição pelos pecadores.


I. Teoria do Acidente

Os racionalistas extremos afirmam que a morte de Cristo foi um acidente. Eles declaram que a crucificação não estava nos planos de Deus para Seu Filho; foi um imprevisto na vida de Jesus. Eles ensinam que a situação saiu do controle e que Jesus foi preso e crucificado antes que Deus e Jesus soubessem o que estava acontecendo. Eles dizem que Deus fez o melhor possível numa situação lamentável e usou este trágico acidente no Seu plano de salvação depois de refletir a respeito. A Bíblia, entretanto, declara que a morte de Cristo era conhecida por Deus desde o princípio. Ele é o Cordeiro “que foi morto desde a fundação do mundo”. A Sua morte cumpriu as profecias do Antigo Testamento e Suas próprias previsões. Não foi um acidente; isso foi parte de um plano glorioso.


II. Teoria Militar

A Teoria Militar, conhecida também como a Teoria do Resgate Pago a Satanás, foi defendida por Justino Mártir, Irineu de Lyon, Orígenes, Gregório de Níssa, Teodoreto, Basílio, Cirilo de Jerusalém, Jerônimo, Hilário, Leão o Grande, Pedro Lombardo e outros. De acordo com essa teoria, Satanás, como um grande guerreiro, conquistou a raça humana e fez todos os homens seus escravos. A morte de Cristo, ensinam eles, foi um resgate com o qual Deus ou Cristo pagou a Satanás para que os pecadores fossem libertos da jurisdição de Satanás. Eles afirmam que Satanás aceitou Jesus em troca da raça humana. Deus, afirmam eles, enganou a Satanás, ressuscitando Jesus dentre os mortos. De acordo com uma variante dessa teoria, o poder de Satanás sobre os pecadores estava fundamentado na pecaminosidade do homem. Quando Satanás provocou a morte do imaculado Filho de Deus, ele excedeu sua autoridade e perdeu por completo o seu poder sobre o homem. Adeptos dessa teoria ensinam que Satanás foi enganado pensando que Jesus era simplesmente um homem, quando na verdade era o Filho de Deus. Pedro Lombardo ensinou: “O que fez o Remidor ao nosso captor? Ele lhe ofereceu sua cruz como uma ratoeira; e nela Ele colocou seu sangue, como uma isca” (Strong. Op. cit., pág. 747). Alguns ensinam que Jesus, em Sua natureza humana, dominou Satanás e assim adquiriu o direito de libertar os escravos de Satanás e destruí-lo. A Teoria Militar foi substituída pela Teoria Comercial de Anselmo (1033-1109).


III. Teoria do Mártir

Alguns homens acreditam que a morte de Cristo foi a de um mártir. Eles ensinam que Ele foi simplesmente um exemplo para o homem seguir. Os adeptos dessa teoria, conhecida também como Teoria do Exemplo, declaram que o homem é capaz de salvar a si mesmo desde que tenha um bom motivo e um exemplo apropriado para seguir. Tudo o que precisa ser mudado, afirmam eles, é a atitude do homem. Eles afirmam que a pecaminosidade subjetiva do homem é a única barreira entre o homem e Deus, e que não há nada na natureza de Deus que reclame o pagamento da penalidade pelo pecado. De acordo com eles, a morte de Cristo não satisfez ou apaziguou a santidade de Deus; os resultados de Sua morte foram inteiramente na esfera humana. Eles ensinam que o martírio de Cristo salva o homem mostrando a ele o caminho da fé, da obediência e da vida eterna através da definição de um exemplo de verdadeira obediência e inspirando o homem a imitar Sua fidelidade.

A Teoria do Exemplo ou do Mártir é baseada sobre a doutrina Pelagiana do pecado. Ela foi defendida na Polônia do século 16 por Lélio Socino e seu sobrinho Fausto Socino. Sua Teologia é expressa pelo Catecismo Racoviano (1605). Os Socinianos estavam certos em rejeitar a trindade, mas estavam errados na visão de Jesus como um mero homem e em sua teorias do pecado, da expiação e da justificação. Os defensores modernos da Teoria do Exemplo são os Unitarianos e grupos similares.

Essa teoria é falsa. O homem necessita mais do que um exemplo; ele necessita de um Substituto e um Sacrifício. Essa teoria falha em reconhecer que a santidade de Deus demanda que a penalidade do pecado deve ser paga se o ofensor vai sair livre. Essa teoria é centrada no homem; ela não glorifica a Deus.

Além disso, conquanto seja perfeitamente verdadeiro que Cristo está representado como um exemplo na escritura, em nenhum lugar Ele é representado como um exemplo diante do qual os pecadores descrentes devem ter como padrão, e pelo qual se salvarão se imitarem; e sim, esse é o pressuposto necessário da teoria em consideração. O exemplo de Cristo é tal que somente Seu povo pode seguir, e mesmo eles mal podem chegar perto. Ele é nosso Redentor antes de ser o nosso exemplo. (Berkhof. Op. cit., 388).

A influência do exemplo de Cristo nem é declarada na Escritura, nem é encontrada na experiência cristã, para ser o principal resultado obtido por Sua morte. Um mero exemplo nada mais é que a nova pregação da lei, a qual repele e condena. A cruz tem poder de liderar os homens à santidade, somente se antes mostrar a reparação feita por seus pecados. Consequentemente, a maioria das passagens que representam a Cristo como exemplo também contém referências a Sua obra propiciatória (Strong. Op. cit., pág. 732).


IV. Teoria da Influência Moral

Uma outra explicação inadequada para a morte de Cristo é a Teoria da Influência Moral. Algumas vezes chamada de Teoria do Amor de Deus, essa interpretação da morte de Cristo possui muitos pontos em comum com a Teoria do Exemplo ou do Mártir. Essa teoria ignora a santidade de Deus, a culpa pelo pecado e o sacrifício vicário de Cristo. Os homens que sustentam essa teoria insistem que nada há na natureza de Deus que demande que a pena pelo pecado deva ser paga. Eles negam que Cristo morreu como Substituto pelos pecadores. Eles afirmam que Cristo sofreu com os pecadores ao invés de em lugar dos pecadores. Eles creem que o único propósito da morte de Cristo foi manifestar o amor de Deus pelos pecadores, apelar para a emoção do homem e mover seu coração ao arrependimento.

Horace Bushnell (1802-1876), um americano congregacionalista, defendeu essa teoria em seu livro The Vicarious Sacrifice. Essa visão é chamada algumas vezes de Teoria Bushnelliana. Outros defensores incluem Abelardo (1079-1142); F. E. D. Schleiermacher (1768-1834) e Albrecht Ritschl (1822-1889) da Alemanha; e John M. Campbell (1800-1872) e F. W. Robertson (1816-1853) da Inglaterra. Teólogos liberais e modernistas defendem hoje essa teoria.

A Teoria da Influência Moral contém certos elementos de verdade, a saber, que a morte de Cristo é uma manifestação do amor de Deus e que isso provê um motivo para o arrependimento. É inadequada, entretanto, ao enfatizar o amor de Deus à custa de Sua santidade. Defensores dessa teoria mostram um resultado secundário da morte de Cristo como o único propósito da expiação. Eles negam que Ele tenha morrido como Substituto pelo pecador.

Para esta teoria nós respondemos que, embora a morte de Cristo seja uma expressão do amor de Deus (João 3:16; Romanos 5:6-8), os homens sabiam que Deus os amava antes da vinda de Cristo (Deuteronômio 7:7; Isaías 38:17; Jeremias 31:3; Malaquias 3:6); que a simples agitação das emoções não leva ao arrependimento, o que pode ser provado pelo efeito dessa comoção num teatro; que a teoria contradiz as representações da Escritura de que Deus deve ser aplacado antes que Ele possa perdoar (Hebreus 9:14; 2 17; Romanos 3:25,26; 1 João 2:2; 4:10); que o fundamento da morte de Cristo está no amor de Deus mais do que em Sua santidade; e que nessa teoria é difícil explicar como os crentes do Antigo Testamento foram salvos, visto que eles não tiveram esta lição objetiva do amor de Deus. Nós não devemos reduzir a expiação a um jogo de paixão, na qual o ator parece ser movido por motivos sinceros, quando na realidade ele simplesmente trabalha com as emoções da sua audiência (Thiessen. Op. cit., pág. 317).
Embora não haja dúvida de que a verdade da cruz de Cristo foi a suprema manifestação do amor de Deus, ela pode ser considerada assim somente sob o ponto de vista da doutrina da expiação por substituição penal, de acordo com a qual o sofrimento e a morte de Cristo foram absolutamente necessários para a salvação dos pecadores. Mas de acordo com a teoria da influência moral, eles serviram meramente ao propósito de causar uma impressão no homem, o que Deus já havia feito de várias outras maneiras; e, portanto, não era necessário. E se isso não era necessário, foi de fato uma manifestação cruel do amor de Deus – uma contradição. O sofrimento e a morte de Cristo foram uma manifestação do amor de Deus somente, se isto era o único meio de salvar os pecadores (Berkhof. Op. cit., págs. 386,387)


V. Teoria Comercial

A Teoria Comercial foi formulada por Anselmo de Cantuária (1033-1109) e foi apresentada em seu famoso livro Cur Deus Homo. Sua visão foi estabelecida como substituta da Teoria Militar ou a Teoria do Resgate Pago a Satanás. De acordo com a teoria de Anselmo, a morte de Cristo se deu para satisfazer a honra de Deus ou Sua majestade, a qual foi violada pelo pecado. Devido a honra ou majestade de Deus ser infinita, ele conclui, o pecado requer uma punição infinita. Ele ensinou que o perfeito Filho de Deus, em vista da dignidade de Sua pessoa, suportou a infinita punição pelos pecados dos eleitos, Sua punição foi um equivalente exato do sofrimento merecido pelos pecadores. Anselmo apresentou sua teoria numa época em que o maior pecado conhecido na lei era ofender a honra ou a majestade de um rei ou papa. A Teoria Comercial está correta em reconhecer a morte de Cristo como uma satisfação dada a Deus. Está errada em afirmar que o sacrifício de Cristo foi uma satisfação à majestade e honra de Deus e não à Sua santidade.


VI. Teoria Governamental

A Teoria Governamental foi formulada por Hugo Grócio, um jurista e teólogo alemão (1538-1645). Seu livro é chamado Defensio Fidei Catholicae de Satisfactione. Essa teoria, a explicação Arminiana e Wesleyana da morte de Cristo, é exposta nos escritos de Richard Watson e John Miley. De acordo com essa teoria, o governo do universo por Deus requer que Ele mostre Sua ira contra o pecado. Aqueles que defendem esse ponto de vista ensinam que Deus não pode perdoar os pecadores a menos que alguma amostra seja dada revelando a alta consideração que Ele tem por Sua lei e Seu governo. Eles dizem que Deus deu esse exemplo na morte de Seu Filho, na qual Ele revelou a Sua ira contra o pecado. Desse modo, Deus é capaz de manter o controle de Seu governo do universo enquanto Ele perdoa o pecado. Os defensores dessa teoria declaram que Cristo não sofreu a pena da lei, mas Deus graciosamente aceitou Seu sofrimento em substituição pela pena.

Essa teoria falha em revelar o verdadeiro propósito da morte de Cristo. A morte de nosso Salvador foi requerida, não meramente por causa do governo de Deus, mas por causa de Sua santidade. O pecado não é simplesmente contra o governo de Deus, é contra o próprio Deus. Essa teoria faz da morte de Cristo, não uma execução da lei, mas uma exibição do respeito de Deus pela lei. A Bíblia ensina que a morte de Cristo foi a pena pelo pecado dos pecadores. Sua morte não foi simplesmente substituta da pena; ela foi o pagamento da pena.

O verdadeiro propósito da morte de Cristo é que ela foi o pagamento pela pena do pecado, uma substituição pelos pecadores e o cumprimento dos requisitos da santa natureza de Deus. Somente o Seu sacrifício pode satisfazer a consciência culpada do homem e inspirá-lo à humildade, arrependimento e verdadeira justiça. Pela eternidade, Jesus será adorado como o Cordeiro que foi imolado para prover a base da salvação para os pecadores. Deus será revelado em Seu verdadeiro caráter de santidade e amor.

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