quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Parte Três - Hamartiologia - Capítulo XXIX - A Doutrina do Pecado


Parte Três
HAMARTIOLOGIA

Capítulo XXIX
A Doutrina do Pecado


A terceira divisão da Teologia Sistemática é a Hamartiologia, a doutrina do pecado. Essa divisão recebeu seu nome científico de hamartia, a palavra grega para pecado.

A doutrina do pecado segue naturalmente a doutrina de Deus e a doutrina do homem. As duas primeiras formam o alicerce para a terceira. Deus, homem, pecado - essa é a ordem lógica. Essa progressão de pensamento pode ser encontrada nos temas dos três primeiros capítulos da Bíblia. Gênesis 1 diz respeito a Deus, o Criador; Gênesis 2 descreve a formação do homem; Gênesis 3 relata a origem do pecado.

A Teologia revela Deus como Criador. A Antropologia revela o homem como criatura de Deus. A Hamartiologia mostra a raça humana se revoltando contra o único Deus. O pecado designa o rompimento da relação entre a criatura e o Criador, homem e Deus.

Antropologia e Hamartiologia estão conectadas. Em Antropologia nós estudamos a natureza física do homem; em Hamartiologia nós estudaremos a natureza moral do homem. A Antropologia mostrou a relação do homem para com Deus, o doador da vida; a Hamartiologia mostrará a sua relação com o Rei, Legislador e Juiz. A anterior figura o homem como mortal; a última o representa como pecador. Como mortal, o homem precisa de Cristo como a Ressurreição e a Vida. Como pecador, o homem precisa de Cristo como Sacrifício e Senhor. A Antropologia mostra a necessidade da ressurreição de Cristo para a imortalidade. A Hamartiologia mostra a necessidade da morte de Cristo como o Sacrifício pelo pecador.

A doutrina do pecado está intimamente associada à doutrina da salvação. Salvação é o processo mediante o qual Deus salva o homem do pecado e seus resultados. Pecado é a doença; salvação é o remédio. Pecado é o problema; salvação é a solução. Pecado é a pergunta; salvação é a resposta. Foi o homem que pecou; é Deus quem salva. Hamartiologia mostra a necessidade de salvação do homem; Soteriologia revela a providência de Deus para a salvação através de Cristo.

I. A Realidade do Pecado

O pecado é uma realidade trágica. Ele não é uma ilusão; ele realmente existe. Esse fato é reconhecido pela Bíblia, consciência, religiões da humanidade, histórias das nações, governos e literatura.
A Bíblia é um livro escrito em grande parte sobre pecadores. Ela relata a história do pecado do primeiro homem, a terrível consequência do pecado na história humana e o triunfo final sobre o pecado e sua remoção do universo. A Bíblia descreve o homem como indivíduo, e a totalidade da raça humana como estando em pecado e sob condenação.

Algumas vezes os fotógrafos retocam fotografias para remover marcas, manchas e verrugas, mas a Bíblia mostra o homem como ele é. Ela não se empenha em ocultar as falhas de seus heróis. Ela registra a embriagues de Noé, a mentira de Abraão, o assassinato e adultério de Davi, a negação de Pedro. Ela mostra os homens assim como eles são.

A Bíblia é um livro escrito para pecadores. A mensagem do evangelho para arrependimento e salvação é endereçada aos pecadores. Ela direciona os homens para o Cordeiro de Deus, que Se entregou para salvar o perdido. A Bíblia em todo lugar mostra o pecado como real e trágico.

O fato de que o pecado é uma realidade é reconhecido pelo testemunho da consciência e do julgamento geral da humanidade. Muitas pessoas compreendem que elas não são o que deveriam ser. Em momentos de completa honestidade, eles se reconhecem como pecadores. Julgando a si mesmo, o homem encontra culpa e condenação.

As religiões da humanidade pressupõem a existência do pecado. Essa verdade pode ser vista pelo fato de que os sacrifícios com sangue, sacerdócios e penitências sempre foram fatores importantes nas maiores religiões do mundo. O reconhecimento do pecado pode explicar o grande sentimento de tristeza que caracteriza as religiões pagãs. Os pagãos conhecem o pecado, mas não o seu remédio.

O pecado é algo real? Perguntam os historiadores. A história das nações é, em grade parte, um registro da impiedade humana e da espantosa consequência do pecado. O fato de que uma guerra existiu, em tudo indica que alguém pecou. Se alguém removesse dos relatos históricos todos os incidentes que de alguma forma estão relacionados ao pecado humano, pouca história restaria.

Os governos humanos sabem que o pecado existe. Eles reconhecem a natureza pecaminosa do homem. Sendo assim, eles editam leis e impõem penalidades no esforço de coibir a influência do pecado nas relações sociais. Se não houvesse pecado, não haveria a necessidade de leis, algemas, polícias e prisões; não haveria necessidade de proteção pessoal contra o crime.

A literatura descreve o pecado como realidade. O pecado geral da humanidade é retratado na ficção e não ficção, poesia e prosa. Algum pecado humano está associado ao enredo de quase todo drama ou história. Pode ser a ganância ou a inveja. Pode ser o assassinato ou a luxúria. Pode ser o egoísmo ou a vingança. O pecado como um fato está reconhecido por todo tipo de literatura, seja na mitologia grega, Shakespeare ou na ficção moderna.

Além disso, a realidade do pecado é um fato observado na vida diária. Podemos observar em quase todos os lugares, em qualquer tempo, e ver alguma evidência ou resultado do pecado. O pecado é uma trágica realidade.

II. A Universalidade do Pecado

O pecado é universal. Todos os homens são pecadores; tudo no homem é pecaminoso. O pecado é universal entre os homens; ele é pleno dentro do homem. Se alguém desenhasse um círculo para indicar os justos, o círculo deveria ficar vazio. Todos estariam excluídos. Se alguém desenhasse um círculo para indicar os pecadores, ele estaria cheio. Todos deveriam ser incluídos.

A universalidade do pecado é claramente ensinada por posições diretas na Bíblia. Todos os homens por nascimento natural são pecadores. Nota-se, é claro, que Jesus é uma exceção. “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha; e as nossas culpas como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64:6). “Todo o mundo está no maligno” (1 João 5:19).

1 Reis 8:46                Não há homem que não peque
Salmos 14:2,3          Não há quem faça o bem
Salmos 53:1-3          Não há ninguém que faça o bem
Salmos 130:3           Quem subsistirá?
Salmos 143:2            Justo nenhum vivente
Provérbios 20:9       Quem poderá dizer, limpo estou do meu pecado?
Eclesiastes 7:20        Não há homem justo sobre a terra
Isaías 53:6                 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas
Romanos 3:9             Todos estão debaixo do pecado
Romanos 3:10           Não há um justo
Romanos 3:12           Não há quem faça o bem
Romanos 3:19           Toda boca esteja fechada, todo mundo seja condenável
Romanos 3:23           Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus
Romanos 5:12           Todos pecaram
Gálatas 3:22               Tudo debaixo do pecado
Tiago 3:2                     Porque todos tropeçamos em muitas coisas
1 João 1:8,10              Se dissermos que não temos pecado

O fato de que o pecado é universal está implícito no ensinamento bíblico de que todos os homens sem Cristo estão sob condenação e ira. “Aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” (João 3:36).  “Éramos por natureza filhos da ira, assim como os outros” (Efésios 2:3). “Portanto és inexcusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas o outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo” (Romanos 2:1). Todos os homens estão debaixo de condenação perante Deus, pois todos os homens são pecadores.

A necessidade de arrependimento é universal porque o pecado é universal entre todos os homens. “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam” (Atos 17:30). O fato de que Deus ordena a todos os homens o arrependimento revela que todos os homens são pecadores.

A verdade de que Cristo morreu por todos os homens mostra que todos os homens são pecadores e necessitam da expiação que Ele providenciou. Jesus é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:2). “O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos” (1 Timóteo 2:6). O fato de que o evangelho deveria ser pregado a “toda criatura” (Marcos 16:15) mostra que todos os homens são pecadores e necessitam ouvir o evangelho.

III. A Culpa do Pecado

O pecado envolve culpa. Como pecadores, todos os homens são culpados diante de Deus. O pecado é um fator em suas vidas, pelo qual são responsáveis e culpados. Eles merecem condenação e punição. Eles são “dignos de morte” (Romanos 1:32).

A culpa tem duplo significado: 1) A culpa refere-se ao fato de que o pecador realmente peca. Ele é um pecador pelo que ele é e pelo que tem feito. Ele não é inocente; ele é culpado. 2) A culpa significa que a pessoa que comete pecado merece punição. Ele é obrigado a satisfazer os requisitos da justiça de Deus pelo pagamento da penalidade do pecado.

O primeiro significado da culpa é designado em Teologia como reatus culpae; o segundo significado, como reatus poenae. É com o segundo significado que a Teologia mais se ocupa.

Quando a Bíblia explica que a lei foi dada para que “toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Romanos 3:19), ela se refere ao segundo significado de culpa.

A culpa, portanto, designa a relação do transgressor com o governo moral de Deus. Ela se refere à condição e posição do pecador tendo em vista o fato de que ele tem violado os padrões morais de Deus. As leis morais são expressões dos atributos morais característicos de Deus: santidade, amor e verdade. O pecado contradiz a própria natureza de Deus. A atitude divina em relação ao pecado deve ser condenação e ira. O santo governo de Deus sobre o universo, portanto, requer a morte como pena para o pecado.

Dizer que o pecador é culpado diante de Deus é dizer que ele é objeto de desaprovação e condenação. Ele está exposto à ira de Deus, que é revelada do céu pelo evangelho contra todos os ímpios e injustos (Romanos 1:18). Ele merece a punição; ele está obrigado a satisfazer a justiça de Deus.

A culpa do pecador somente pode ser removida pelo pagamento da pena pelo pecado, que é a morte. A pena pelo pecado pode ser paga pessoalmente pelo pecador sendo destruído na segunda morte, ou pode ser paga vicariamente pelo sacrifício de Cristo.

A primeira morte não remove a culpa do pecador. O pagamento completo pelo salário do pecado será efetuado pelo pecador quando ele for destruído na segunda morte. Ressurgindo para a vida na ressurreição final, os pecadores ainda estarão sob a condenação de Deus e Sua ira. O fato de suas culpas não terá mudado. Eles ainda serão culpados pelos pecados que cometeram nesta vida. Eles serão julgados de acordo com as obras pecaminosas que tiverem cometido hoje. Na segunda morte, a pena pelo pecado será paga, mas o pecador terá sido destruído.

Através do Seu plano de salvação, Deus providenciou um meio pelo qual a pena do pecado pudesse ser paga, e o pecador perdoado pudesse viver pela eternidade. Jesus, o imaculado Filho de Deus, voluntariamente se tornou o substituto do pecador. Sendo sem pecado, Jesus estava sem culpa pessoal. O fato d’Ele ser o perfeito Filho de Deus deu infinito valor ao Seu sacrifício. Sua morte, portanto, poderia ser a substituta não apenas de um pecador, mas de um número infinito de pecadores. Em outras palavras, o Cordeiro de Deus potencialmente suportou a culpa e pagou a pena do pecado de toda a raça humana. Porém, na realidade, os benefícios de Seu sacrifício se tornam realmente eficazes na vida do pecador somente quando ele se relaciona adequadamente com Cristo através da conversão. O sacrifício de Cristo providenciou a base pela qual Deus pode remover nossa culpa e nos declarar justificados. Quando nós nos unimos a Cristo, Deus efetivamente remove nossa culpa e imputa sobre nós a justiça de Cristo. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (II Coríntios. 5:21).

O pecado e a culpa imputados a Cristo não eram reatus culpae; mas sim a reatus poenal. A culpa imputada ao nosso Substituto foi a culpa em seu segundo significado. Aquela culpa que refere-se ao fato histórico que o pecador pecou nunca poderá ser transferida para outra pessoa. Fatos são fatos. Mesmo tendo a pessoa pecado ou não. O fato histórico é algo que pode ser lamentado, mas não pode ser mudado. Embora o pecador possa ser perdoado e justificado, o fato de que o pecador efetivamente pecou nunca pode ser alterado. Quando um homem experimenta a salvação, Deus retira a culpa como digna de punição, mas ele não reescreve a biografia do pecador e estabelece que ele nunca pecou. Algumas nações tentam reescrever a história distorcendo fatos, negando a ocorrência de certos eventos e reivindicando a honra que pertence a outros. A salvação pessoal permite que alguém mude as possibilidades do seu futuro, mas não que reescreva fatos históricos da vida, que já aconteceram. Pela eternidade, nada pode mudar o fato de que o crente glorificado um dia foi um pecador.

A culpa que é imputada a Cristo e removida daqueles que estão em Cristo é o que torna alguém obrigado a pagar a pena pelo pecado. Quando alguém está em Cristo, ele não está mais debaixo da desaprovação e da ira de Deus. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).

Todos os homens são pecadores; todos os homens são culpados perante Deus. Ninguém nasce naturalmente como um cristão. Ninguém, exceto Jesus, nasceu justo, sem a culpa do pecado. O mundo todo é culpado diante de Deus. Todo indivíduo nasce no círculo negro do pecado e da condenação. Sem o sacrifício de Cristo, os pecadores estão “sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo” (Efésios 2:12). Os homens permanecem debaixo da condenação e da ira de Deus até que pessoalmente conquistem uma relação redentora com Cristo.


IV. A Negação da Responsabilidade

O pensamento moderno nega a responsabilidade e a culpa humana pelo pecado. Alguns homens afirmam que o pecado não existe. Eles indicam que os padrões da Bíblia para o certo e o errado não possuem autoridade divina, que esses padrões são simples costumes criados pelos homens e tabus que várias sociedades inventaram e transmitiram para as sucessivas gerações. As violações dessas leis, insistem eles, não podem ser rotuladas como pecado.

Alguns homens negam a responsabilidade humana pelo pecado situando o pecado na sociedade, ao invés de situá-lo no indivíduo. Eles declaram que uma pessoa pode ser um pecador, mas ele não é responsável por seus pecados. Sua condição pecaminosa é uma falha da sociedade como um todo. Eles afirmam, portanto, que ninguém terá que responder por qualquer pecado pessoal. De acordo com esse ensinamento, a culpa não é um tema individual; o pecado é meramente uma infeliz condição da sociedade.

A negação da responsabilidade humana pelo pecado é evidenciada quando se considera as muitas falsas definições do pecado. Os homens têm transmitido falsas definições do pecado na tentativa intelectual de satisfazer as acusações de suas consciências.

1. Herdado de um Ancestral Bruto. Muitos evolucionistas declaram que, aquilo que a Bíblia designa como pecado, nada mais é que uma inevitável condição do homem herdada de seus ancestrais animais. Eles dizem que o homem não é responsável por esta infeliz característica que lhe foi imposta pelo processo de evolução. Ensinam que os homens são como tigres e macacos porque têm um ancestral animal. Se há alguma culpa ligada à nossa forma de agir, insistem esses homens, esta deve repousar sobre os ancestrais animais.

Esta falsa teoria define a salvação como obra do processo de evolução dentro da mente humana, pelo qual o homem é transformado da semelhança animal para semelhança de Deus. O pecado de Adão no Jardim do Éden, de acordo com essa visão, não representa uma queda, mas sim uma ascendência. Aqueles que ensinam essa teoria afirmam que quando o homem comeu do fruto proibido, ele subiu mais um degrau na direção da semelhança com Deus. Eles ensinam que naquele dia o homem deixou de ser animal e se tornou um homem. John Fiske escreveu em sua obra Destiny of Man: “O pecado original não é mais nem menos que a herança bruta que todo homem carrega consigo e o processo de evolução é um avanço na direção da verdadeira salvação” (Citado por James Orr, The Christian View of God and the World. Grand Rapids: Eerdmans, 1948, pág. 168, 169).

2. Consequência Natural do Crescimento. Uma outra falsa definição diz que o pecado nada mais é que variações naturais da conduta esperada para acompanhar as várias fases do crescimento humano. Das crianças, eles dizem, espera-se que tropecem no aprendizado de andar. Da mesma forma, espera-se dos homens o pecado, insistem eles, como uma consequência natural do processo de crescimento. De acordo com essa explicação, o pecado é uma condição infeliz, e os pecadores são dignos de pena, mas o pecado em si mesmo é inevitável. Os pecadores, de acordo com esse ponto de vista, estão sem culpa; o pecado é como uma enfermidade adquirida pelos homens, mas pela qual eles não são responsáveis. Essa teoria descreve o pecado como uma tragédia da natureza, e os pecadores como vítimas infelizes.

3. Desajuste Psicológico. Boa parte da psicologia moderna nega a existência do pecado. Sentimentos de culpa são explicados como desajuste psicológico. As acusações da consciência são explicadas como resultado de eventos infelizes que ocorreram durante a infância ou de temores ocultos na mente subconsciente. Um sentimento de culpa, de acordo com alguns psicólogos, resulta não do pecado pessoal, mas de uma condição mental anormal. Eles sugerem que pessoas experimentando esse sentimento de culpa deveriam livrar-se de todas as suas inibições e permitir a livre expressão de sua natureza interior.

4. Uma Ilusão. Muitos cultos modernos explicam o pecado como uma ilusão, uma irrealidade. De acordo com essa teoria, o pecado, juntamente com a doença e morte, não existem realmente. Como fantasmas e duendes, essas coisas são descritas como existentes somente na imaginação do homem. De acordo com essa visão, os homens podem ser salvos dessas ilusões pelo reconhecimento de que elas não existem. Entre os cultos que defendem essa teoria estão a Ciência Cristã, Igreja da Unidade, Igreja da Ciência Divina e o Espiritualismo.

Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã, escreveu: “O homem é incapaz de pecar, adoecer e morrer. Para anular a afirmativa do pecado, você deve detectá-lo, remover sua máscara, eliminar a ilusão e assim obter a vitória sobre o pecado, provando que ele é irreal” (Eddy, Mary Baker. Science and Health With Key to the Scripture. Boston: Allison V. Stewart, 1917, pág. 475, 447 - disponível em português com o título Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras).

5. Pecado Inerente à Matéria. Essa falsa teoria identifica o pecado com a matéria. De acordo com essa teoria, os homens são pecadores porque eles têm corpos materiais, o corpo é a prisão ou sepultura da alma. Escapar do pecado, de acordo com essa visão, somente é possível através da libertação do corpo. Essa teoria dá a entender que o Criador do corpo humano seja o autor do pecado. Essa falsa teoria está na base da teoria de Platão. Ela é encontrada no Budismo e Zoroastrismo, tendo sido ensinada por alguns Gnósticos e Maniqueístas.

Alguns homens declaram: “Não é nossa culpa o fato de pecarmos. Visto que temos corpos mortais, não há como escaparmos do pecado. Não há nada que possamos fazer a respeito”. Porém, a mortalidade em si mesma não é o pecado. O homem peca, não porque ele tem um corpo mortal e material, mas porque ele é governado por si mesmo, ou seja, pela mente carnal. Cristo era mortal antes de sua ressurreição, mas Ele não pecou. A matéria em si não é pecaminosa, ela é neutra.

6. Finitude. Alguns filósofos, incluindo Gottfried Leibnitz, em sua obra Teodiceia, e Benedito Spinoza em sua obra Ética, insistem que o pecado é meramente a ausência da justiça; é uma negação. Deus, que tem justiça ilimitada, é infinito. O homem finito, eles analisam, tem pecado porque é limitado em existência. As limitações do homem são inevitáveis; e o pecado, afirmam eles, é uma consequência necessária dessa limitação. Essa teoria, como outras falsas definições, busca remover o senso de culpa e deixar o homem sem responsabilidade moral. O pecado não resulta das limitações do homem, mas porque ele é um homem caído, dominado por si mesmo ou pela mente carnal.

7. Uma Necessidade. De acordo com uma outra falsa teoria, o pecado é uma necessidade; o pecado condiciona alguém para a justiça. Essa visão foi mantida pelo filósofo George W. F. Hegel. Os homens que creem nessa teoria ensinam que toda vida se desenvolve de acordo com a lei da oposição necessária ou antagonismo. Toda a existência é baseada na lei da ação e reação. Eles consideram que alguém deve ter escuridão para alcançar a luz; alguém deve ter miséria para alcançar felicidade; alguém deve pecar para alcançar a justiça. Um mundo moral sem pecado, dizem eles, é impossível de existir; o pecado deve existir.

Todas essas falsas teorias negam que o homem seja responsável pelo pecado. Elas negam que o homem está diante de Deus como culpado, debaixo de condenação e ira.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Capítulo XXVIII - História da Imortalidade Condicional


Capítulo XXVIII
História da Imortalidade Condicional

A história da imortalidade condicional começa na Bíblia. Os homens que escreveram os livros da Bíblia ensinaram de forma consistente que atualmente o homem não possui a imortalidade. Eles revelaram que o homem é totalmente mortal, que é uma criatura mortal. Imortalidade e vida eterna são retratadas na Bíblia como dádivas de Deus que só podem ser obtidas por meio de Cristo. Sem Cristo não há esperança de vida eterna. Pecado resultará em morte; o ímpio experimentará a destruição definitiva. A imortalidade condicional foi uma crença da Igreja do Novo Testamento. Esse foi o ensino original, oficial e ortodoxo da religião cristã. Qualquer crença contrária resultou de um desvio dessa verdade.


I. Os Pais Ante-Nicenos

Escritos dos primeiros Pais Ante-Nicenos mostram que eles acreditavam na imortalidade condicional. Eles retrataram a esperança do crente com a ressurreição para a imortalidade na segunda vinda de Cristo. Eles descreveram o destino final do ímpio com a destruição. Eles demonstraram a imortalidade como uma dádiva de Deus, ainda a ser recebida.

1. Clemente de Roma. Clemente de Roma, um companheiro de Paulo (Filipenses 4:3), escreveu:

“Meus amados, como são ricos e admiráveis os presentes de Deus! Vida em imortalidade, esplendor em justiça, verdade em liberdade, fé em confiança, continência em santidade! (...) Lutemos assim para sermos contados no número dos que Nele esperam, para nos tornarmos participantes dos seus dons prometidos” (The First Epistle of Clement to the Corinthians. Capítulo XXXV. The Ante-Nicene Fathers. Nova York: Scribners, 1899, Vol. I, p. 14).

2. Inácio. Inácio, e seu amigo Policarpo, um discípulo de João, ensinaram a vida somente em Cristo. Policarpo foi o líder da Igreja de Esmirna na primeira metade do segundo século. Ele foi queimado num poste como mártir no ano de 155. Inácio era o cabeça da Igreja de Antioquia. Lançado aos leões no Coliseu de Roma, ele morreu como um mártir diante de Trajano no ano 107. Inácio escreveu:

“Sê sóbrio como atleta de Deus. O prêmio é a incorruptibilidade e a vida eterna, do que aliás já te convenceste” (Epistle of Ignatius to Policarp. Capítulo II. The Ante-Nicene Fathers. Vol. I, p. 94).

3. Teófilo. Teófilo de Antioquia, bispo da Igreja nesta cidade durante o reino de Marcus Aurélius, escreveu três livros para um amigo idólatra, Autolycus, para convencê-lo da verdade do cristianismo. Theophilus morreu em 181. Ele escreveu:

“Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerá que falastes injustamente contra ele” (To Autolycus. Livro I, Capítulo VII. The Ante-Nicene Fathers. Vol. II, p. 91).

Poder-se-á dizer: “O homem não foi criado mortal por natureza?” De jeito nenhum. “Então foi criado imortal?” Também não dizemos isso. “Então não foi nada?” Também não dizemos isso. O que afirmamos é que por natureza não foi feito nem mortal, nem imortal. Porque se, desde o princípio, o tivesse criado imortal, o teria feito deus; por outro lado, se o tivesse criado mortal, pareceria que Deus é a causa da morte. Portanto, não o fez mortal, nem imortal, mas, como dissemos antes, capaz de uma coisa e de outra. Assim, se o homem se inclinasse para a imortalidade, guardando o mandamento de Deus, receberia de Deus o galardão da imortalidade e chegaria a ser deus; mas se voltasse para as coisas da morte, desobedecendo a Deus, seria a causa da morte para si mesmo, porque Deus fez o homem livre e senhor de seus atos. O que o homem atraiu sobre si mesmo por sua negligência e desobediência, agora Deus o presenteou com isso, através de sua benevolência e misericórdia, contanto que o homem lhe obedeça. Do mesmo modo como o homem, desobedecendo, atrai sobre si a morte, assim também, obedecendo à vontade de Deus, aquele que desejar, pode adquirir para si a vida eterna. De fato, Deus nos deu lei e mandamentos santos, e todo aquele que os cumpre pode salvar-se e, tendo alcançado a ressurreição, herdar a incorruptibilidade” (To Autolycus. Livro II, Capítulo XXVII. The Ante-Nicene Fathers. Vol. II, p. 105).

4. Justino Mártir. Flávio Justino, conhecido como Justino Mártir, nasceu na colônia romana de Flávia Neápolis, em Samaria. Convertido ao cristianismo ainda bem jovem, ele se tornou um cristão apologista e devotou toda sua vida à defesa da fé. Ele foi decapitado como mártir em Roma por volta do ano 166. Ele escreveu:

“Pois estas coisas que existem diante de Deus, ou em qualquer tempo existirão, têm a natureza decaída, e são tais que podem ser apagadas e deixarem de existir; mas Deus unicamente é ingênito (não gerado) e incorruptível, e portanto Ele é Deus, mas todas as outras coisas diante Dele são criadas e corruptíveis. Por essa razão as almas morrem e são punidas” (Dialogue of Justin, Philosopher and Martyr, with Trypho, a Jew. Capítulo V. The Ante-Nicene Fathers. Vol. I, p. 197).

5. Irineu. Irineu, um discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo de João, nasceu na Ásia Menor entre os anos de 115 e 125. Ele morreu em algum tempo próximo do final deste século. Ele serviu como um missionário para o sudoeste de Gaul, onde mais tarde se tornou bispo de Lyon (178). Irineu cria firmemente que o homem é mortal e que a imortalidade é condicional. Ele ansiava pelo retorno pré-milenial de Cristo à Terra. Muitas citações concernentes à imortalidade condicional podem ser feitas a partir dos escritos de Irineu. A seguir temos um exemplo:

O Pai de todas as coisas concede a duração pelos séculos dos séculos aos que são salvos, porque não é nem de nós nem de nossa natureza que vem a vida, mas ela é concedida segundo a graça de Deus. Portanto, quem guardar o dom da vida dando graças àquele que lha deu receberá também a longevidade pelos séculos dos séculos, mas quem a recusar com ingratidão para com o Criador por tê-lo criado, não reconhecendo aquele que lha deu, priva-se por sua conta da duração pelos séculos dos séculos” (Against Heresies. Livro II, Capítulo XXIV, Parágrafo 3. The Ante-Nicene Fathers. Vol. I, PP.  411, 412. Veja também Livro III, Capítulo XIX, Parágrafo 1; Livro III, Capítulo XX, Parágrafo 1, 2 e livro V, Capítulo XIII, Parágrafo 3).

6. Arnóbio. Arnóbio viveu em Sica, a cidade do sudoeste de Cartago, na última parte do terceiro e começo do quarto século. Ele escreveu:

“Você deixará de lado sua habitual arrogância, oh homem, que afirma ter Deus como seu Pai, e sustenta que és imortal, assim como Ele é? Você perguntará, examinará, buscará o que és em si mesmo, de quem você é, de que parentela supõe-se que és, o que você faz no mundo, de que maneira você nasceu, como saltaste para a vida? Você irá, pondo de lado sua indiferença, considerar no silêncio de seus pensamentos que nós somos criaturas exatamente iguais às demais, ou separadas por não grande diferença?” (Against the Heathen. Livro II, Capítulo 16. The Ante-Nicene Fathers. Vol. VI, p. 440).

“Mas, se os homens se conhecessem completamente ou tivessem o menor conhecimento de Deus, jamais reivindicariam como sua própria a natureza divina imortal” (Ibid. Book II, Chapter 19).

“Mas, dizem meus oponentes, se as almas são mortais e de caráter neutro, como elas podem se tornar imortais a partir de suas propriedades neutras? Se disséssemos que não sabemos, e somente acreditamos nisso porque foi dito por Alguém maior do que nós, a nossa prontidão em crer seria errada ao acreditarmos que para o todo poderoso Rei nada é árduo, nada é difícil, e o que é impossível para nós é possível para Ele ao Seu comando?” (Ibid. Livro II, Capítulo 35).

7. Lactâncio. Lactâncio, um aluno de Arnóbio, era um homem de cultura refinada, um retórico famoso, um professor em Nicomédia e tutor do filho mais velho de Constantino. Ele escreveu:

“Pois os outros animais inclinam-se para o chão, porque eles são terrenos e estão inaptos para a imortalidade, que é do céu; mas o homem é vertical, e olha para o céu, porque lhe é proposta a imortalidade; a qual, porém, não vem, a menos que seja dada aos homens por Deus. De outra forma não haveria diferença entre o justo e o injusto, uma vez que cada homem nascido já se tornasse imortal. Imortalidade assim não é a consequência da natureza, mas o galardão e a recompensa da virtude” (The Divine Institutes, Livro VII, Capítulo V. The Ante-Nicene Fathers. Vol. VII, p. 201).


II. A Idade Média

Depois da morte dos apóstolos, a Igreja gradualmente escorregou da luz para a escuridão, da verdade para o erro, e da fé simples na Bíblia para a aceitação das crenças criadas pelos homens. A doutrina bíblica da imortalidade condicional foi sendo gradualmente substituída pela filosofia de Platão da imortalidade natural da alma. Essa influência pode ser observada em muitos homens, como Atenágoras e Tertuliano, sendo encontrada na sua plenitude na teologia de Agostinho. A igreja Católica Romana veio a existir como Igreja interiormente paganizada, e como Cristianismo assumiu um lugar oficial de autoridade no império. O imperador romano Teodósio (378-395) fez do Cristianismo a religião do estado. Como o dia torna-se gradualmente em escuridão, assim a Igreja primitiva foi gradualmente transformada na igreja papal de Roma. Quando a igreja papal adquiriu sua autoridade, toda oposição foi suprimida pela força. Os homens que não se submetiam à autoridade papal nem concordavam com suas crenças feitas por homens, eram tratados como hereges. Durante a Idade Média, homens fiéis continuaram a ensinar a imortalidade condicional e outras doutrinas bíblicas. A informação a respeito desses crentes é limitada, visto que Roma papal queimou os livros escritos por verdadeiros crentes e reprimiu os professores que discordavam de suas doutrinas.

1. Nemésio. Nemésio, bispo de Emesa, na Fenícia, durante o quarto século, escreveu De Natura Hominis (tradução inglesa de G. Wither, Londres, 1636). Esse livro, apoiando a imortalidade condicional, foi amplamente lido e traduzido para muitos idiomas.

2. Sofrônio. Sofrônio, patriarca de Jerusalém no sétimo século, foi listado por Petavel (Problem of Immortality) como um condicionalista. Uma carta sinodal de Sofrônio foi lida no Terceiro Concílio de Constantinopla (680).

3. Teofilacto. Um exegeta bizantino do século onze, Teofilacto foi um destacado defensor da imortalidade condicional. Um nativo de Eubeia, ele foi aluno de Miguel Pselo. Por seu grande aprendizado, Teofilacto foi escolhido como tutor de um jovem príncipe, Constantino Ducas, filho do imperador Miguel VII (1071-1078). Em 1078, Teofilacto foi feito arcebispo de Ocrida no país dos búlgaros (a moderna Ocrida, na Albânia). Suas obras literárias incluem importantes comentários sobre o Velho e Novo Testamento. Sua crença sobre a imortalidade pode ser vista nos comentários ao texto de 1 Timóteo 6:16. Uma edição de “As Obras de Teofilacto”, em grego e latim, foi publicada em quatro volumes na cidade de Venice, entre 1754-1763.

4. João Duns Escoto. Um dos principais filósofos escolásticos da Idade Média (morto em 1308), João Duns Escoto é listado como um condicionalista na Enciclopédia de Religião e Ética, por James Hastings (Nova York: Scribners, 1908, veja o artigo “Imortalidade Condicional”, III, 822-825). Negando a imortalidade natural, o Doutor Sutil, como era conhecido, sustentou “que a imortalidade da alma é incapaz de demonstração”.


III. O Período da Reforma

A tocha da verdade, que quase foi extinta pela igreja Romana na Idade Média, ascendeu brilhantemente outra vez com a chegada da Reforma Protestante. Os homens declararam sua liberdade da autoridade Romana. Pessoas comuns começaram a ler a Bíblia na sua própria língua. Importantes doutrinas bíblicas, como o retorno de Cristo, a futura ressurreição dos crentes e o reino vindouro de Cristo, foram restauradas na teologia da Igreja. A leitura da Bíblia por pessoas comuns, proibida por muitos séculos, fez com que muitos crentes aceitassem o ensinamento da Bíblia a respeito da natureza física do homem, imortalidade condicional e a destruição do ímpio.

1. William Tyndale. William Tyndale (1484-1536), tradutor da Bíblia para a língua inglesa e principal fundador da Reforma na Inglaterra, era um crente inflexível na imortalidade condicional. Sir Thomas More, um estudioso Católico na Inglaterra, escreveu um livro em 1528 no qual ele denuncia os ensinos de Tyndale e Lutero. Num livro no qual ele respondeu a Sir Thomas More, Tyndale escreveu:

“E quando ele prova que os santos estão no céu já em glória com Cristo, dizendo: “Se Deus for o Deus deles, eles estão no céu, pois Ele não é o Deus dos mortos”, ele rouba o argumento de Cristo, por onde ele prova a ressurreição: que Abraão e todos os santos devem ressuscitar, e não que suas almas estavam no céu, doutrina que ainda não estava no mundo. E com essa doutrina ele elimina a ressurreição por completo e assinala o argumento de Cristo como de nenhum efeito. Pois quando Cristo declara pela Escritura que Deus é o Deus de Abraão e adiciona que Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, e assim prova que Abraão deve ressuscitar, eu nego o argumento de Cristo se digo com M. More que Abraão ainda está vivo, não pela ressurreição, mas porque sua alma está no céu. E da mesma forma, o argumento de Paulo aos Coríntios é de valor nulo, pois quando ele disse: “Se não há ressurreição, nós somos os mais miseráveis de todos”, aqui não temos alegria, mas lamento, cuidado e opressão; e portanto, se nós não ressuscitarmos, todo nosso sofrimento será em vão. Não, Paulo, tu és iletrado; vá até o Mestre More e aprenda um novo caminho. “Nós não somos os mais miseráveis, ainda que não levantemos novamente; pois nossas almas vão para o céu assim que morremos, e lá existe uma grande alegria como a de Cristo que ressuscitou.” E eu fico surpreso que Paulo não haja consolado os Tessalonicenses com essa doutrina, se ele sabia disso, que as almas de seus mortos estivavam em alegria; assim como ele sabia da ressurreição, que os seus mortos deveriam ressuscitar. Se as almas estão no céu, em grande glória como os anjos, conforme sua doutrina, você pode me mostrar qual a causa para haver a ressurreição?” (Tyndale. Answer to Sir T. More’s Dialogue. Works, Livro II, Capítulo 8. Parker Society, Impresso na Cambridge University, 1848).

E então, colocando-os no céu, inferno e purgatório, destroem os argumentos com os quais Cristo e Paulo provam a ressurreição. O que Deus fez com elessaberemos quando formos até eles. A verdadeira fé propõe a ressurreição, a qual somos alertados a buscar toda hora. Os filósofos pagãos, negando isso, afirmam que as almas vivem para sempre. E o Papa reuniu a doutrina espiritual de Cristo e a doutrina carnal dos filósofos; fatos tão contrários que não podem chegar a um acordo, não mais do que fazem o Espírito e a carne no homem cristão... E novamente, se as almas estão no céu, me diga porque elas não estão em tão boa situação como os anjos? E quanto à ressurreição, qual é a sua causa de existir? (Ibid)

2. John Frith. John Frith (ou Fryth) (1503-1533), um reformador inglês, era um amigo fiel, companheiro e colega de trabalho de Tyndale. Ele ajudou Tyndale na sua tradução do Novo Testamento. Como Tyndale, Frith foi um mártir pela fé. Frith acreditava que o homem é mortal e que os crentes serão ressuscitados para imortalidade quando Jesus voltar. Ele insistiu que a falsa doutrina, a qual ensina que alguns homens já estão no inferno e alguns no céu, “destrói completamente a ressurreição, e anulam os argumentos pelos quais Cristo e Paulo provam que nós ressuscitaremos”. Seu ponto de vista aparece na obra “A disputa do Purgatório”, de 1530. Esse livro é dividido em três partes: a primeira em resposta a John Rastell, que escreveu um livro ensinando a imortalidade da alma; a segunda ao Sr. Thomas More; a terceira a John Fisher, bispo de Rochester. As obras de Frith estão reimpressas em Works of Tyndade and Frith (Londres, 1831).

3. Pietro Pomponazzi. No princípio do século dezesseis, a questão da natureza do homem era tema de especial interesse nas universidades da Itália. Os averroístas, um grupo que incluía muitos homens instruídos da Itália, negaram a imortalidade da alma. Um líder desse movimento era Pietro Pomponazzi, que foi descrito como “o mais influente professor de filosofia de seu tempo” (Petavel). Pomponazzi escreveu muitos livros contra a imortalidade da alma. Seu famoso livro Tratado da Imortalidade da Alma (Bononiae, 1516) foi publicamente queimado em Veneza. Para uma completa análise das opiniões de Pomponazzi, veja a obra de Ernest Renan Averróis e o Averroísmo (Paris, 1852). As obras de Pomponazzi são listadas por Ezra Abbot em seu livro The Literature of the Doctrine of a Future Life.

São reveladores da influência e da extensão do movimento Averroísta o fato de que o Papa Leão X, em 1513, publicou uma bula contra esse grupo e que a doutrina foi condenada pelo quinto Concílio de Latrão da igreja Católica Romana, ocorrido em Roma (1512-1517). Esse concílio, sob o comando de Leão X, publicou o seguinte decreto: “Considerando que alguns ousaram afirmar com respeito à alma racional, que ela é mortal, nós, com a aprovação do Sagrado Conselho, condenamos e reprovamos todos que afirmam que a alma intelectual é mortal, visto que a alma não é unicamente real, e de si mesma e essencialmente a forma do corpo humano, como está expresso no cânon do Papa Clemente V, mas também imortal; e nós proibimos estritamente tudo que dogmatiza de outra forma; e nós declaramos que todos que aderirem à afirmação errônea será evitado e punido como herege”.

Martinho Lutero protestou contra o edito publicado pelo Papa que enfatizava a crença na imortalidade da alma. Lutero escreveu:

Eu tolero que o Papa estabeleça artigos de fé para seus fiéis seguidores; como o pão e o vinho sendo transmutados no sacramento; a essência Divina não é gerada nem produzida; a alma é a forma substancial do corpo humano: e que ele mesmo é o governador do mundo e Rei do céu e Deus da Terra; e que a alma é imortal, e todos os inumeráveis prodígios do monturo de decretos romanos (Proposição 27 da Defesa de Lutero. Obras, vol. II, folha 107. Citado por Pettingel na obra The Unspeakable Gift, p. 50).

A extensão na crença na imortalidade condicional durante a era da Reforma pode ser vista no fato de que João Calvino, em 1534, escreveu um livro no esforço de refutar a crença que a alma repousa entre a morte e o juízo final. O livro Psychopannychia foi a segunda publicação literária de Calvino.

4. Os Socinianos. À medida que a Reforma progredia durante o século dezesseis, muitos grupos protestantes foram organizados pela Europa. Grupos que criam na imortalidade condicional eram largamente encontrados entre os Anabatistas e os Socinianos. O movimento Sociniano foi assim nomeado por seguirem seus fundadores antitrinitarianos, Lélio Socino (1525-1562) e seu sobrinho Fausto Socino (1539-1604). Lélio Socino foi o reformador e pregador. Fausto Socino foi o teólogo. Ambos nasceram em Siena, Itália. O Socianismo encontrou sua melhor situação na Polônia, onde os seguidores de Socino encontraram refúgio de 1539 a 1658, até que foram expulsos da Polônia pelos Jesuítas. Os escritos dos teólogos que lideraram o movimento estão coletados na obra Bibliotheca Fratrum Polonorum, editada por Andreas Wiszowaty, neto de Fausto Socino. O principal símbolo dos Socinianos é o Catecismo Racoviano, assim chamado por causa da cidade polonesa de Rakow, onde o movimento teve uma casa publicadora, uma escola que chegou a ter 1000 estudantes frequentando as aulas e o local do encontro anual do sínodo geral. A perseguição Católica Romana fez os Socinianos fugirem para a Transilvânia, Alemanha, Holanda, Inglaterra e outras partes da Europa, onde congregações foram organizadas.

Os Socinianos sustentam muitos pontos de vista com os quais não concordamos, por exemplo, a visão humanitária de Cristo e a visão Pelagiana do pecado, mas estavam certos em recusar a doutrina da trindade e a imortalidade da alma. Muitos Socinianos criam na imortalidade condicional da alma.

“No lado positivo, o próprio Fausto Socino pensava que o homem é mortal por natureza e alcança a imortalidade somente pela graça. No lado negativo, seus seguidores (Crell, Schwaltz e especialmente Ernst Sohner) ensinaram abertamente que a segunda morte consiste em aniquilação, a qual terá lugar, entretanto, somente depois da ressurreição geral, no juízo final. Dos Socinianos essa visão geral passou a toda a Inglaterra” (The New Schaff-Herzog Religious Encyclopedia, I, 185).

5. Os Anabatistas. O movimento Anabatista recebeu seu nome (que significa “Rebatizadores”) pelo fato da rejeição do batismo infantil e exigindo o batismo adulto. Originado por volta de 1525, esse movimento inclui muitos grupos protestantes que se espalharam por toda a Europa. Esses Anabatistas diferiam não somente de Calvino e de Lutero, mas também uns dos outros, em muitas doutrinas.

Embora uns poucos grupos fossem dados ao fanatismo, a maioria dos grupos Anabatistas era formado por sóbrios estudantes da Bíblia. Alguns desses grupos acreditavam na segunda vinda de Cristo, no reino de Deus na Terra e na ressurreição dos crentes para a imortalidade. Como Lutero e Calvino, eles criam na autoridade da Bíblia, na justificação pela fé e no sacerdócio dos crentes. Eles reconheciam, porém, que a Reforma doutrinal de Lutero e Calvino eram incompletas. Eles insistiam que todos os falsos ensinos do Catolicismo Romano deveriam ser rejeitados, e que a Reforma deveria ser total e completa. Alguns desses grupos Anabatistas, portanto, defendiam a imortalidade condicional e a vida somente através de Cristo.


IV. Séculos XVII e XVIII

Uma interessante descrição dos livros escritos por autores da imortalidade condicional da alma durante os séculos XVII e XVIII é apresentada por A. J. Mills em seu livro Earlier Life-Truth Exponents (Londres: Elliot Stock, 1925).

1. Escritores do Século XVII. Os autores da imortalidade condicional no século VXII incluem: Joachim Stegmann, um escritor alemão, Brevis Disquisitio (1628); George Wither (1588-1667), The Nature of Man, uma tradução inglesa da obra de Nemesius; Richard Overton, Man’s Mortallitie (1643); John Biddle (1615-1662), A Two-fold Catechism; Mattew Caffyn (1628-1714), The Deceived and Deceiving Quakers Discovered; Samuel Richardson, Of the Torments of Hell (Londres, 1658); Henry Layton (1670-1706), que escreveu pelo menos doze livros a respeito da imortalidade condicional; Isaac Barrow (1630-1677), Sermons and Fragments; John Milton (1608-1674), Treatise of Christian Doctrine; John Locke (1632-1704), Ressurretio et quae sequuntur.

2. Escritores do Século XVIII. Possivelmente o mais importante autor da imortalidade condicional no século XVIII foi Henry Dodwell (1642-1711), professor da cadeira Camden de História na Universidade de Oxford. Suas obras incluem: Letter Concerning the Immortality of the Soul (1703), An Epistolary Discourse (Londres, 1706), A Preliminary Defense of the Epistolary Discourse (Londres, 1707), The Natural Mortality of Human Souls (Londres, 1708) e The Scripture Account of the Eternal Rewards or Punishmenty of all that hear of the Gospel (Londres, 1708).

Um outro escritor britânico condicionalista do século XVIII foi o médico Willian Coward (1656-1725). Educado em Hart Hall e na Faculdade Wadham, Oxford, o doutor Coward praticou medicina em Northampton e Londres. Seus livros incluem: Second Thoughts Concerning Human Soul (Londres, 1702), Further Thoughts Concerning Human Soul (Londres, 1703), The Grand Essay (Londres, 1704) e The Just Scrutiny (Londres, 1706).

William Whiston (1667-1752) é bastante conhecido como o tradutor do livro Obras de Josefo. Educado por seu pai e em Clare Hall, Cambridge (1690), Whiston foi ordenado diácono na Igreja da Inglaterra (1693) e sucedeu Newton como professor lucasiano em Combridge (1703). Como professor, Whiston lecionou matemática e filosofia natural. Whiston rejeitou o trinitarianismo e a imortalidade da alma. Suas obras incluem: Sermons and Essays upon Several Subjects (Londres, 1709) e The Eternity of Hell Torments Considered (Londres,1740).

Francis Blackburne (1705-1787) foi pastor da Igreja da Inglaterra em Richmond, Yorkshire. Sua obra mais conhecida sobre a imortalidade condicional é A ShortHistorical View of the Controversy Concerning the Intermediate State and the Separate Existence of the Soul, between Death and the General Ressurrection (Londres, 1765). Blackburne também escreveu: No Proof in the Scriptures of an Intermediate State of Hapipiness or Misery between Death and the Resurrection (Londres, 1756) e Remarks on the Rev. Dr. Warburton’s Account of the Sentiments of the Early Jews Concerning the Soul (Londres, 1757).

Outros escritores condicionalistas do século XVIII incluem: Joseph Hallet (O Jovem) (1691-1744), que foi um ministro inglês não conformista, ordenado em Exeter em 1715, e que escreveu A Free and Impartial Study of the Holy Seriptures Recommended (Londres, 1729) e A Defense of a Discourse on the Impossibility of Proving a Future State by the Light of Nature (Londres, 1731); Dr. Joseph Nical Scott (1703-1769), médico que escreveu Sermons Preached in Defence of All Religion, Wheter Natural or Revealed, at the French Church, Norwich (Londres, 1743); Dr. Edmund Law (fl. 1745-1785), diretor da Faculdade São Pedro, em Cambridge, Diácono Superior de Straffordshire e bispo de Carlisle, Considerations on the Theory of Religion (1745); John Jackson (fl. 1735-1747), pastor de Roffington, no Condado de York, e Diretor do Hospital Wigston em Leicester, que escreveu A Dissertation on Matter and Spirit (Londres, 1735), The Belief of a Future State (Londres, 1745), A Defence of a Book (Londres, 1746) e A Futher Defence (Londres, 1747); Peter Peckard (1718-1979), pastor da Igreja da Inglaterra e Diretor da Faculdade Magdalene, Cambridge, Observations on the Doctrine of an Intermediate State (Londres, 1756), Further Observations on the Doctrine of an Intermediate State (Londres, 1757) e Observations on Mr. Fleming’s Survey (Londres, 1759); Dr. J. B. Robinson escreveu Philosophical and Scriptural Inquiries Into the Nature and Constitution of Mankind, Considered only as Rational Beings (Londres, 1757).

Ainda outros escritores ingleses condicionalistas do século XVIII incluem: Samuel Bourn (1714-1796), um ministro dissidente de Rivington, Lancashire, que escreveu A Letter to Rev. Samuel Chandler, D. D., concerning the Christian Doctrine of Future Punishment (Londres, 1759) e A Series of Discourses on the Principles and Evidences of Natural Religion and the Christian Revelation, 4 volumes (Londres, 1760); John Alexander (1736-1765), um ministro presbiteriano de Longdon, próximo de Birmingham, e “um dos melhores estudiosos do grego de seu tempo”, escreveu A Paraphrase upon the Fifteenth Chapter of First Epistle to the Corinthians (Londres, 1766); Dr. John Leland (1691-1766), um ministro não conformista e homem de grande conhecimento, escreveu The Advantages and Necessity of the Christian Revelation, 2 volumes (Londres, 1764) e Discourses, 4 volumes (Londres, 1769); Benjamim Dowson, mestre em artes e doutor em leis (1729-1814) foi um ministro presbiteriano e mais tarde pastor da Inglaterra, que publicou várias obras em defesa do pastor Blackburne e do bispo Law, escreveu: Remarks on Mr. Steffe’s Letter concerning the State of the Soul after Death (1757) e An Illustration of several texts of Scripture (1765); Dr. John Tottie, cônego da Igreja de Cristo, Oxford, e diácono superior de Worcester, Sermons preached before the University of Oxford (1772); George Clark, Vindication of the Honour of God, and the Rights of Men (1789) e A Vindication of the Honour of God: In a Scriptural refutation of the doctrines of Eternal Misery, and Universal Salvation (Londres, 1792); John Marsom escreveu The Universal Restoration of Mankind examined and proved to be a Doctrine Inconsistent with itself, 2 volumes (Londres, 1794) e The Scripture Doctrine of Future Pumishment Defended (1795); e Joseph Priestley (1733-1804), cientista e teólogo, que descobriu o gás oxigênio, expressou seus pensamentos sobre a natureza da morte no seu livro Disquisitions Relating to Matter and Spirit (Londres, 1777).

Um escritor da imortalidade condicional na Suíça durante o século XVIII foi Ferdinand Olivier Petitpierre, pastor em Neuchatel, Suíça, que ensinou a destruição do ímpio ao invés da doutrina da tortura eterna. Seus livros incluem: Le plan de Dieu envers les hommes (Hamburgo, 1786) e Thoughts on the Divine Goodness, relative to the Government of Moral Agents (traduzido do francês, Bath, Inglaterra, 1788). Os ensinos de Petitpierre fizeram com que a Companhia de Ministros Veneráveis em Neuchatel apelasse a Frederick o Grande, que replicou: “Se meus honestos e fiéis súditos de Neuchatel insistem em serem eternamente condenados, não me ponho no caminho.” Petitpierre foi forçado ao exílio (Petavel, The Extinction of Evil).
    

Séculos XIX e XX

O principal defensor da imortalidade condicional na Inglaterra durante o século XIX foi Edward White (1819-1888). Educado na universidade de Glasgow, White continuou seus estudos em preparação para o ministério com um clérigo congregacionalista. Depois de realizar o trabalho evangelístico em vários lugares por cerca de dez anos, ele abriu uma igreja independente, Howley Road Chapel, em Londres, onde pregou por trinta e cinco anos (1852-1887) e onde se tornou presidente da união Congregacional. O livro de White, Life in Christ, foi publicado pelo primeira vez em 1846 (Londres). Ele foi revisado e ampliado em 1875. A terceira edição foi publicada em 1878 (Londres: Elliot Stock).

Na América, um importante escritor foi Charles Fred Hudson, muito conhecido como o compilador de uma concordância do grego (Hudson’s Greek-English Concordance). Os principais trabalhos de Hudson sobre a imortalidade foram Debt and Grace, as related to the Doctrine of a Future Life (Boston, 1857) e Christ  Our Life, the Scriptural Argument for Immortality Through Christ  Alone (Boston, 1860). Outras obras neste tema escritas por Hudson incluem: The Parable of the Rich Man and Lazarus (Boston, 1859), The Rights of Wrong: or, Is Evil Eternal? (Boston, 1859) e Human Destiny (Boston, 1860).

Um outro importante escritor da imortalidade condicional durante o século XIX foi John H. Pettingell. O livro mais famoso de Pettingell é The Unspeakable Gift, publicado originalmente em 1884 e reimpresso muitas vezes (Yarmouth, Maine: I. C. Wellcome, 1887). Edward White escreveu a introdução desse livro. Outras obras de Pettingell incluem: The Theological Trilemma (Nova York: Sherwood, 1878); Platomism Versus Christianity (1881); Bible Terminology (1881); The Life Everlasting que inclui as duas obras precedentes e Reviews in Eschatology, o último livro do autor (Yarmouth, Maine: Scriptural Publication Society, 1887).

Um autor britânico do século XIX, cujos livros sobre imortalidade condicional foram amplamente lidos em ambos os lados do Atlântico, foi Henry Constable, Capelão na cidade de Londres para o Hospital e Prebendário de Cork. Seu livro mais famoso é Duraction and Nature of Future Punishment (Londres, 1868). Ele também escreveu Hades, or the Intermediate State of Man.

O teólogo suíço Emamanuel Petavel poderia também ser listado entre os mais importantes escritores condicionalistas do século XIX.

Petavel foi livre docente na Universidade de Genebra, Suíça. Em 1858, ele se tornou pastor de uma congregação suíça em Londres, onde ficou íntimo de Edward White. A obra mais importante de Petavel é The Problem of Immortality (traduzido por Frederick Ash Freer, Londres : Elliot Stock, 1892). Um outro livro de Petavel é The Struggle for Eternal Life. Também conhecido pelo título The Extinction of Evil, essa obra foi traduzida por Charles H. Oliphant (Boston : Charles H. Woodman, 1889).

Na América, Willian Reed Huntington (nascido em 1838), um protestante Episcopal, pregou uma série de sermões sobre “A Hipótese da Imortalidade Condicional” enquanto ele era pastor da All Saint’s Church, em Worcester, estado de Massachusets. Esses sermões foram publicados num livro Conditional Immortality (New York, 1878). Huntington foi educado em Haward. Ele serviu como administrador na Igreja Emmanuel, Boston (1861-1862), clérigo da All Saint’s Church, Worcester (1862-1863) e clérigo da Grace Church, na cidade de Nova York. Em 1892, ele foi editor adjunto com Samuel Hart no Standard Prayer Book. Ele foi secretário do comitê da convenção geral para a melhoria e melhor adaptação às necessidades do público Americano do Livro de Oração Comum (Book of Common Prayer).

Durante oséculo XIX, muitos estudiosos britânicos e líderes na Igreja da Inglaterra defenderam a imortalidade condicional. Richard Whately (1787-1863), arcebispo de Dublin, escreveu A View of the Scriptural Revelations Concerning a Future State (1ª edição 1829? , 3ª ed. 1832, 8ª ed. Revisada, Londres, 1859). O bispo Renn Dickson Hampden (1793-1868), bispo de Hereford, defendeu sua posição em Hampton Lectures, 1832. Henry Alford (1810-1871) Deão de Canterbury, um importante comentarista, e um dos membros originais da comissão de Revisão do Novo Testamento, apoiou a imortalidade condicional. Ele foi o primeiro editor da Contemporary Review (1866-1870). Suas maiores obras incluem Greek Testament (4 vol. 1849-1861) e New Testament for English Readers (4 vol. 1868). Note o comentário de Alford em Gênesis 3 no seu comentário ao Velho Testamento (publicado postumamente, 1872). Dr. John James Stewart Perowne (1823-1904), Bispo de Worcester, foi um dos mais eminentes estudiosos do hebraico de seu tempo. Em seu Hulsean Lectures, 1868, no tópico sobre imortalidade, Perowne escreveu: “A imortalidade da alma não é discutida nem afirmada no Velho Testamento”. John Bickford Heard (nascido em 1828) escreveu The Tripartite Nature of Man (Edimburgo, 1866). Dr. Frederic Willian Farrar (1831-1903), deão de Canterbury e autor da famosa obra Life of Christ (1874), expressou seus pensamentos sobre imortalidade condicional em dois dos muitos volumes de sermões, Eternal Hope (1878) e Mercy and Judgment (1881). Ethelbert W. Bullinger (morto em 1913), clérigo muito conhecido na Igreja da Inglaterra, produziu um Léxico Grego e escreveu muitos livros, incluindo The Companion Bible. William Temple (1881-1944), arcebispo de Canterbury, escreveu sobre a imortalidade condicional no seu Christian Faith and Life. 

A imortalidade condicional foi ensinada por J. M. Deniston em seu The Perishing Soul (2ª edição, Londres, 1874), pelo clérigo C. A. Row, Future Retribution (Londres, 1887) e Samuel Minton-Senhouse, que escreveu: The Glory of Christ (Londres, 1868), The Way Everlasting, The Harmony of Scripture on Future Punishment e A New Bible. Também foi ensinado por W. T. Hobson, em Conditional Immortality, J. W. Barlow, Eternal Punishment (Cambridge, 1865), T. Davis, Endless Suffering Not The Doctrine of Scripture (Londres, 1866), J. F. B. Tinling, The Promise of Life, e o filósofo inglês, James Martineau (1805-1900), A Study of Religion (Oxford, 1888).

William E. Gladstone (1809-1898), distinto primeiro-ministro britânico e autor, defendeu a imortalidade condicional em sua obra Studies Subservient to the Works of Bishop Butler (pp. 184-197). O astrônomo inglês, John Couch Adams (1819-1892), que descobriu o planeta Netuno (1845), e foi professor de astronomia na Universidade Cambridge, foi um crente nessa verdade. Sir George G. Stokes (1819-1903), membro do Parlamento, professor de matemática em Cambridge, secretário (1854-1885) e depois presidente (1885-1890) da Real Sociedade, escreveu em apoio a essa doutrina. Seus escritos nesse tema estão inclusos em Symposium, That Unknown Country, e Immortality, A Clerical Symposium.

H. H. Dobney, um ministro Batista da Inglaterra, ensinou a imortalidade condicional em seu famoso livro Notes of Lectures on Future Punishment (Londres, 1844). A quarta edição Americana, da Segunda Edição de Londres, incluía um apêndice contendo The State of the Dead, por John Milton (Peace Dale, R. I., 1856).

Dr. Richard Francis Weymouth (1822-1902), um inglês batista leigo e tradutor do Novo Testamento, escreveu:

“Minha mente falha em conceber uma completa deturpação da linguagem quando cinco ou seis das palavras mais fortes que a língua grega possui significando “destruir” ou “destruição” sejam explicadas com: ‘mantendo uma existência eterna, mas miserável’ Traduzir preto como o branco é nada perto disso (Citado por Pettingel, The Unspeakable Gigt, p. 322).

John Nelson Darby (1800-1882), um dos fundadores da Igreja dos Irmãos Plymouth na Inglaterra, escreveu em Hopes of the Church:

“Nós gostaríamos de expressar nossa convicção de que a ideia da imortalidade da alma não tem sua fonte no Evangelho; que ela vem, ao contrário, dos Platonistas, e quando a vinda de Cristo foi negada na Igreja, ou ao menos começou-se a perder isso de vista, é que a doutrina da imortalidade da alma veio para substituir a da ressurreição.”

Professores da imortalidade condicional entre os Congregacionalistas ingleses, além de Edward White, incluem o famoso teólogo Robert William Dale (1829-1895). Dr. Dale foi pastor da Igreja Carrs Lane, em Birmingham, por cerca de quarenta anos. Ele foi o presidente da União Congregacional da Inglaterra e País de Gales, e presidente do primeiro Concílio Internacional dos Congregacionalistas, ocorrido em Londres em 1891. Dr. Dale fez sua primeira declaração pública sobre essa verdade perante a União Congregacional da Inglaterra e País de Gales em maio de 1874.

Um outro importante Congregacionalista inglês que acreditava nessa doutrina foi o famoso pregador Dr. Joseph Parker (1830-1902). Vivendo durante a última metade do século XIX, Parker foi um contemporâneo de Spurgeon em Londres. Ambos os homens tinham reputação mundial como grandes oradores; eles atraíram multidões; tinham ampla leitura no campo religioso e secular. Parker, diferente de Spurgeon, porém, ensinou a doutrina bíblica da imortalidade condicional. Ele escreveu: “O Cristianismo trata o homem, não como imortal, mas como um candidato para a imortalidade.” Veja suas considerações sobre a destruição de Sodoma em seu comentário bíblico.

A imortalidade condicional foi ensinada pelo famoso inglês wesleyano Joseph Agar Beet (nascido em 1840) em seus livros The Last Things (Londres, 1897) e The Immortality of the Soul: A Protest (3ª edição, 1901). Beet serviu como pastor (1864-1885) e se tornou professor de teologia sistemática no Colégio Wesleyano, Richmond (1885-1905), também um membro da Faculdade de Teologia na Universidade de Londres (1901-1905).

Os três principais defensores da imortalidade condicional ligados à Escócia foram Stewart D. F. Salmond (1838-1905), John Tulloch (1823-1886) e John Laidlaw. O primeiro, S. D. F. Salmond, foi professor de teologia sistemática e exegese do Novo Testamento, e depois de 1898, diretor da Faculdade da Igreja Livre, em Aberdeen. Ele expressou suas posições na obra The Christian Doctrine of Immortality (Edimburgo, 1895; 4ª edição revisada, 1901). John Tulloch foi diretor da Faculdade de Santa Maria e um dos capelães da rainha para a Escócia. Ele foi dirigente universitário, pregador, ensaísta, historiador e teólogo. O Dr. John Laidlaw escreveu The Bible Doctrine of Man, a qual consistia das Palestras de Cunningham que ele apresentou na Faculdade da Igreja Livre, em Edimburgo em 1877.

Durante o século XIX, muitos teólogos alemães defenderam ou favoreceram a imortalidade condicional. O Dr. Richard Rothe (1799–1867) ensinou esta doutrina em sua Theologische Ethik, 2 vols. (Wittenberg, 1845-1847; 2ª edição, 1867-1872, parágrafos 470-472), e da Dogmatik (Heidelberg, 1870). Rothe escreveu:

“Resta somente uma conclusão. Somos obrigados a admitir que os sofrimentos sofridos no inferno pelo réprobo na verdade acabarão, mas este final consistirá na destruição dos culpados. Esta ideia é muito antiga na igreja... Somente esta opinião parece ser capaz de satisfazer todas as condições. Ela não tem nada a temer da filosofia contemporânea, pois os homens deixaram de sustentar que a alma humana possui uma imortalidade natural” (Dogmatik, III, p. 158).

O Dr. Herman Olshausen (1796-1839), um comentarista alemão do Novo Testamento, escreveu em seus comentários sobre Lucas 16:24-26: “A doutrina da imortalidade da alma não é encontrada na Bíblia, nem mesmo mencionada”. O Dr. Franz Delitzsch (1813-1890), um comentarista alemão do Velho Testamento e um dos melhores estudiosos do Hebraico, escreveu em suas considerações sobre Gênesis 3:22 e Números 23:10: “Não há nada em toda a Bíblia que implique na imortalidade natural. Do ponto de vista bíblico, a alma pode morrer, é mortal”.

Outros estudiosos alemães e suas obras incluem: Dr. Carl Immanuel Nitzsch (nascido em 1789), System of Christian Doctrine; Dr. J. J. Van Oosterzee (1817-1882), professor de teologia na Universidade de Utrecht, The Gospel of Luke na ampla obra de Lange; Isaak August Dorner (1809-1884), System der Christlichen Glaubenslehre (2 vols.; Berlim, 1879-1881; 2ª edição 1886-1887; tradução inglesa, A System of Christian Doctrine, 4 vols., Edimburgo, 1880-1882); C. H. Weisse, Philosophische Dogmatik (Leipsic, 1853-1862); Herman Schultz (1836-1903), Voraussetzungen der Christlichen Lehre der Unsterblichkeit (Gottingen, 1861); Georg August Wilhelm Runze (nascido em 1852), um alemão luterano, Unsterblichkeit und Auferstehung (Berlim, 1894, p. 167, 204); H. Plitt, Evangelische Glaubenslehre (Gotha, 1863); Ludwig Lemme (nascido em 1847), professor de teologia sistemática em Boon e Heidelberg, Endlosigkeit der Verdammnis (Berlim, 1898, pp. 31-33, 60-61); A. Shaffer, Auf der Neige des Lebens (Ghota, 1884) e Was ist Gluck? (1891, pp. 290-294); e o filósofo alemão Rudolf Hermann Lotze (1817-1881).

Os escritores franceses e suíços que apoiaram essa doutrina, além de Emmanuel Petavel, incluem: Charles Byse de Bex (tradutor de Life in Christ, de White); Charles Secretan (1815-1895), o cientista francês; Charles Bernard Renouvier (1815-1903), La Critique Philosophique (1878); J. Rognon, L’Immortalité Native et L’Enseignement Biblique (Paris, 1894); Louis August Sabatier (1839-1901), professor na Universidade de Estrasburgo, L’Origine du peche dans le Systeme Theologique de Paul (Paris, 1887); Armand Sabatier, Essai sur L’ Immortalité au point de vue Naturalisme Evolutionniste (2ª edição, Paris, 1895); A. Bost, Le Sort des Méchants, (1861); C. Ribot, Revue de Theologie et de Philosophie (1885); C. Lambert, Système du Monde Moral (1862); P. Janet, Revue des Deux Mondes (Paris, 1863), e o filósofo e teólogo suíço Jules Ernest Naville (1816-1909), que foi professor na Universidade de Genebra.

Na América, Congregacionalistas que ensinaram a imortalidade condicional incluem: Leonard W. Bacon (1802-1881); Edward Beecher (1803-1895), Doctrine of Scriptural Retribution; Henry Ward Beecher (1813-1887), Sermon on Galatians 6:7-9; Sra. Harriet Beecher Stowe (1812-1896); Dr. Lyman Abbott (1835-1922), The Unknown Country; Horace Bushnell (1802-1876), Forgiveness and Law (Nova York, 1874, p. 147); Charles Monroe Sheldon, autor de In His Steps; e Charles H. Parkhurst (nascido em 1842), pastor congracionalista em Massachusetts e depois de 1880 pastor da Igreja Presbiteriana da Madson Square, na cidade de Nova York.

O Dr. George Dana Boardman (1828-1903), um norte-americano batista da Filadélfia, pastor da Primeira Igreja Batista naquela cidade (1864-1894), e presidente da União Batista Americana (1880-1884), escreveu em apoio a essa doutrina na obra Studies in the Creative Week (Nova York, 1877). O Dr. Boardman escreveu:

“Nem uma única passagem da Escritura Sagrada, desde Gênesis até Apocalipse, ensina, até onde tenho visto, a doutrina da imortalidade natural do homem. Por outro lado, a Escritura Sagrada enfaticamente declara que somente Deus tem a imortalidade” (Citado por Pettingell, Unspeakable Gift, p. 171).

Henry C. Sheldon (nascido em 1845), um Metodista Episcopal e professor da Universidade de Boston, apoiou essa verdade em sua obra System of Christian Doctrine (Cincinnati, 1903, pp. 573 e ss.).

Clement Moore Butler (1810-1890), um Episcopal Americano, foi pastor em várias igrejas, capelão do Senado dos Estados Unidos (1849-1853), capelão da embaixada dos Estados Unidos em Roma (1861-1864) e professor de história da Igreja na Escola Protestante Episcopal de Divindade, na Filadélfia (1864-1884). Ele escreveu:

“Desde que alcancei e descansei na conclusão de que o último destino do ímpio é a morte, e não a vida eterna em agonia, uma grande nuvem negra parece ter saído de diante da face de Deus, e eu O vejo, não somente como meu Pai amado, mas como o Pai de todas as Suas criaturas” (Citado por Petingell, Op. Cit., p. 328).

Um outro Episcopal na América que escreveu em apoio a essa verdade é o Dr. S. D. McConnell, The Evolution of Immortality (Nova York, 1901). McConnell foi pastor da All Souls Church na cidade de Nova York. Ele escreveu:

Dos primeiros cristãos, aqueles que eram gregos trouxeram para a nova religião a ideia Platônica de que a alma é indestrutível, e a influência grega ganhou a dominância na Igreja primitiva. A doutrina Platônica da imortalidade natural veio a ser aceita. A noção foi resistida desde o princípio como sendo subversiva da própria existência do Cristianismo.

Um pregador americano, de quem os sermões sobre a imortalidade condicional exerceu muita influência durante o século XIX, foi George Storrs. Seus livros incluem: Are the Wicked Immortal? (21ª edição, Nova York, 1852) e Six Sermons (Nova York, 1856). Sobre ele, F.L. Piper escreveu:

Durante a última década da primeira metade do século XIX, o Rev. George Storrs, de Nova York, pregou uma série de sermões sobre a natureza e destino do homem, exercendo uma forte influência ao atrair a atenção para esse assunto. Eles foram, em larga escala, responsáveis pela mudança da crença corrente entre os Adventistas americanos e, daquela gradual transição até o presente momento, aquele povo, rejeitando ambas as afirmações do Universalismo e o ensino de um sofrimento eterno para o não salvo, tem se pronunciado como defensores da imortalidade condicional (Op. Cit., p. 210).

Outros escritores condicionalistas dos séculos XIX e XX na América incluem: Horace L. Hastings, Pauline Theology, or the Christian Doctrine of the Future Punishment as Taught in the Epistles of Paul (Providence, 1853); Aaron Ellis, Bible vs. Tradition (5ª edição, Nova York, 1853); Jacob Blain, Death Not Life (Nova York, 1853; 7ª edição, Buffalo, 1857); S. C. Chandler, The Theology of the Bible, With a Key to the Revelation (1853); Zenas Campbell, The Age of Gospel Light or, The Immortality of Man Only Through Jesus Christ (Hartford, 1854); Miles Grant, What is Man? (Boston, 1858), e Positive Theology (Boston, 1895); J. M. Stephenson, God’s Plan of Salvation (Chicago, 1877); John Thomas, fundador do Christadelphians; Robert Roberts; e Eric Lewis, Life and Immortality (Boston, Warren Press, 1949), e Christ, The First Fruits (Boston, 1949).

Uma bibliografia adicional sobre a história da imortalidade condicional pode ser encontrada nos artigos Annihilationism e Conditional Immortality nas seguintes obras: James Hastings, Enciclopaedia of Religion and Ethics (Nova York: Scribners, 1908); M’Clintock e Strong, Cyclopedia of Biblical, Theological, and Ecclesiastical Literature (Nova York: Harpers, 1882); Vergilius Ferm, An Encyclopedia of Religion (Nova York: Philosophical Library, 1945); The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge; e obras similares. Mais informação também pode ser encontrada no livro de William R. Alger, A Critical History of the Doctrine of a Future Life (Filadélfia, 1863). Essa obra contém a bibliografia feita por Ezra Abbott (1819-1884) listando 5.300 títulos. Essa bibliografia foi mais tarde publicada separadamente sob o título: Literature of the Doctrine of a Future Life. Muita informação sobre a história da imortalidade condicional está incluída também nas obras de A. J. Mills, Earlier Life-Truth Exponents, e de F. L. Piper, Condicionalism (Boston, 1904).

O fato de termos listado e citado certos autores neste capítulo não deve ser interpretado como endosso a tudo o que eles defenderam. Este capítulo é necessariamente incompleto. O espaço limitado nos impediu de listar muitos outros autores ou de fazer extensas citações desses que foram listados. Os autores e obras mencionados são poucos em número se comparados aos muitos estudiosos e crentes que defendem a imortalidade condicional durante a era cristã.