quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Capítulo XXXII - O Pecado de Adão e Sua Posteridade

Capítulo XXXII
O Pecado de Adão e Sua Posteridade

Visto que o pecado é universal entre os homens e que ele tem sido uma trágica realidade através da história humana, alguém será induzido a perguntar sobre a origem do pecado e a maneira pela qual os homens se tornaram pecadores.

O pecado teve uma origem definida. Diferente de Deus, o pecado não existe desde a eternidade. Houve um tempo em que não havia pecado. Houve um tempo em que todas as criaturas viviam em perfeita obediência ao Criador. Houve um tempo em que a vontade de Deus era feita “assim na terra, como no céu”.

O pecado teve o seu princípio entre os homens na desobediência do primeiro homem e da primeira mulher. A razão pela qual todos os homens nascem pecadores é que existe uma relação definida entre o pecado de Adão e a sua posteridade.


I. O Pecado do Primeiro Homem

O primeiro pecado humano ocorreu quando Adão e Eva se revoltaram contra Deus. Eles desobedeceram Seu mandamento de que não deveriam comer de determinada árvore localizada no Jardim do Éden.

O comando específico de Deus que Adão desobedeceu está registrado nos seguintes versos: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16, 17).

O relato histórico do primeiro pecado do homem está registrado no terceiro capítulo de Gênesis. “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gênesis 3:1-8).

O teste de Adão e Eva é um evento histórico. É uma história verdadeira; ela realmente aconteceu. Não é mera alegoria, lenda ou fábula. Adão e Eva foram pessoas reais. Eles viveram num jardim de verdade. Eles pecaram comendo do fruto de uma árvore de verdade. O documento do Gênesis descreve uma realidade histórica.


II. O Propósito da Tentação de Adão

Alguém poderia perguntar: “Por que Deus colocou a árvore proibida no jardim? Qual era o seu propósito? Deus queria que Adão pecasse? Deus não foi indiretamente responsável pelo pecado de Adão?”

Deus não foi responsável de maneira nenhuma pelo pecado de Adão. Ele permitiu que isso acontecesse, mas Ele não participou dessa ofensa. Deus não peca, nem tenta o homem a pecar. Deus prova os homens para revelar seu caráter (Gênesis 22:1) e para desenvolver suas virtudes (Tiago 1:2-4), mas Deus não tenta os homens com o fim de atraí-los ao pecado. A indução do homem ao pecado não se originou em Deus. “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta” (Tiago 1:13).

Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim com uma ordem específica de que o homem não deveria comer dela porque o primeiro homem e mulher precisavam ser provados. Tinham que ser colocados na provação. Os recém-criados ancestrais da raça humana precisavam ser colocados numa situação em que sua natureza interior pudesse ser manifestada. Criado à imagem de Deus, o homem tinha a habilidade de escolher. Ele tinha o poder para tomar decisões. Se o homem tivesse sido criado como um robô, ele poderia viver em mecânica obediência a Deus sem fazer qualquer escolha a respeito. Agrada mais a Deus, porém, que o homem voluntariamente escolha amar, adorar e obedecê-Lo. Deus deseja ter a eternidade povoada com uma raça de homens que tenha escolhido voluntariamente viver por Sua glória.

A “inclinação do homem era para Deus, mas visto que ele tinha o poder de fazer a escolha contrária, ele somente poderia confirmar essa inclinação pela escolha deliberada diante da possibilidade de optar pelo oposto” (Thiessen, op. Cit., pág 248).

Deus não quis que Adão pecasse. Ele não quis que ele comesse do fruto da árvore proibida. Ele desejou que o homem voluntariamente escolhesse viver em submissão à Sua autoridade e em obediência à Sua vontade.


III. A Natureza do Primeiro Pecado Humano

Adão teve somente uma tentação. Para que alguém esteja doente basta uma única doença. Adão precisou cometer apenas um pecado para ser um pecador. Uma tentação foi suficiente para revelar o caráter interior do primeiro homem.

A palavra “tentação” possui dois significados. Em primeiro lugar, uma tentação é aquilo que induz ou seduz alguém a pecar prometendo um prazer ou ganho. Em segundo lugar, a tentação é uma prova ou verificação que tem como propósito o desenvolvimento ou a revelação de virtude.

Qualquer objeto, pessoa ou situação que sirva de estímulo para a violação dos padrões de justiça de Deus seria uma tentação. Ser tentado ao pecado não é o próprio pecado. O pecado é o ato ceder à tentação. Alguém peca quando ele se rende, responde, cede e consente em pecar. “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tiago 1:14, 15).

O homem é seduzido a pecar pelas promessas de ganho e prazer. O apelo triplo que a tentação faz para a mente carnal está descrita como “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 João 2:16). Esse triplo apelo foi feito a Eva no Jardim do Éden. A árvore “era boa para se comer” (a cobiça da carne); era “agradável aos olhos” (a cobiça dos olhos) e “desejável para dar entendimento” (o orgulho da vida).

A natureza do pecado de Adão e Eva foi uma revolta contra Deus. Foi uma inclinação interior de suas vontades para longe de Deus. Foi a afirmação do eu em oposição a Deus. Ao leitor é indicado consultar a seção “A Essência do Pecado”, para maiores detalhes a respeito da revolta do homem contra Deus.

É importante notar que o pecado de Adão foi duplo. Houve um aspecto interior e outro exterior. Havia algo que Adão fez e algo no qual ele se tornou. O que ele se tornou foi resultado do que ele fez. Adão pecou interiormente antes de pecar exteriormente. Ele se revoltou contra Deus em sua mente, coração e vontade antes de cometer o ato exterior da desobediência. O ato externo de comer do fruto proibido foi uma revelação de sua revolta interior contra Deus. 


IV. A Imputação do Pecado de Adão

A culpa do pecado de Adão é imputada a todo membro da raça humana. Cada pessoa, portanto, é nascida como um pecador, sob condenação e necessitando de salvação. O pecado que é imputado a toda a raça humana não foi meramente o ato exterior de Adão em comer do fruto proibido. Os atos individuais de pecado exterior não podem ser imputados de uma geração para outra. O pecado de Adão que está sobre todo o homem é a revolta original da raça humana contra Deus. Essa revolta original revelou-se no ato de pecado de Adão. Adão já tinha pecado antes de colocar o fruto em sua boca. Seu ato exterior de comer do fruto proibido foi a revelação da sua natureza interior pecaminosa.

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12). “Pela ofensa de um, morreram muitos” (Romanos 5:15). “Porque o juízo veio de uma só ofensa, para condenação” (Romanos 5:16). “Pela ofensa de um só, a morte reinou” (Romanos 5:17). “Por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação” (Romanos 5:18). “Pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores” (Romanos 5:19).

O pecado de Adão e Eva fez pecadores todos os seus descendentes. Como Levi estava em Abraão e pagou os dízimos a Melquisedeque (Hebreus 7:9, 10), assim todo homem estava em Adão e participou do primeiro pecado humano. Todo homem é acusado da culpa e da pena do pecado original que cometeu em Adão. Portanto, todos os homens nascem pecadores e necessitando de salvação.

Somado à vida física, todo indivíduo recebe duas coisas de Adão. Primeiro, ele herda a natureza pecaminosa transmitida. Ele nasce com uma natureza antideus, egoísta e corrupta. Isso é designado na Bíblia como “mente carnal”, “velho homem” e “a carne”. Isso é a natureza interior que produz os atos de pecado. Daremos atenção adicional a esse tema no próximo capítulo. O segundo fator que todas as pessoas recebem de Adão é a culpa imputada pelo pecado original da raça humana.

O que significa imputação? Imputação pode ser definida como a transferência para a conta de alguém de forma justa através de um procedimento legal. Imputar é computar, contar, creditar ou deixar na responsabilidade de alguém. Paulo ilustrou o significado da imputação quando escreveu para Filemon. Ele disse a Filemon: “Põe isto na minha conta”, caso Onésimo, o escravo convertido, houvesse errado ou lhe devesse alguma coisa (Filemon 18).

Imputação está associada com as três maiores doutrinas da Bíblia. Está envolvida com a doutrina do pecado, do sacrifício de Cristo e da justificação pela fé. O pecado de Adão é imputado à raça humana inteira. O pecado dos crentes é imputado a Cristo, o sacrifício. Como uma base para a justificação, a justiça de Cristo é imputada ao crente.

Como pode Deus imputar de maneira justa o pecado de Adão a toda a raça humana? A. H. Strong responde essa pergunta nas seguintes palavras:

“Deus imputou o pecado de Adão imediatamente a toda a sua posteridade, em virtude desta unidade orgânica da humanidade pela qual a raça humana inteira existiu ao tempo da transgressão de Adão, não individualmente, mas de forma embrionária, tendo ele como o cabeça. Toda a vida da raça humana estava em Adão; a raça que ainda tinha sua existência apenas nele. Sua essência ainda não estava individualizada; suas forças não tinham sido distribuídas; os poderes que hoje existem nos homens separadamente estavam unificados e localizados em Adão; a vontade de Adão ainda era a vontade da espécie. No ato espontâneo de Adão, a vontade da raça revoltou-se contra Deus e a natureza da raça se corrompeu. A natureza que nós possuímos agora é a mesma natureza que se corrompeu em Adão – “não meramente o mesmo tipo, mas o mesmo como se fluísse dele continuamente até nós.”
O pecado de Adão é imputado a nós imediatamente, contudo, não como algo que vem de fora até nós, mas porque isto é nosso (Strong. Op. Cit., pág. 619, 620).

Adão e sua posteridade são um. Existe uma unidade orgânica natural entre Adão e seus descendentes. Adão não foi simplesmente o principal representante da raça humana; ele era a raça humana. A raça humana inteira existiu em Adão, seu cabeça natural.

A justiça de Cristo é imputada ao crente porque o crente se torna um com Cristo através da conversão. Os pecados do crente são imputados a Cristo porque Ele se tornou um com a humanidade. O pecado de Adão é imputado a todos os homens porque todos os homens são um em Adão.

Todo homem nasce pecador. Sua “pecaminosidade” não depende inteiramente de seus atos pessoais de pecado. A Bíblia ensina que uma pessoa é pecadora inclusive antes dela cometer qualquer ato de pecado ou antes mesmo de sua natureza pecadora recebida por herança ter tido a oportunidade de se expressar. Todo homem nasce pecador por causa da sua participação no pecado original da raça humana em Adão.

Para provar que todo homem nasce pecador antes de cometer qualquer ato pessoal de pecado, Paulo faz referência ao período de tempo entre Adão e Moisés. Ele escreveu: “Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” (Romanos 5:13, 14). Os pecados dos homens que viveram entre Adão e Moisés não foram transgressões de uma lei divina externa e positiva, assim como foi dada a Adão. Esses homens não pecaram “à semelhança da transgressão de Adão”. Eles não estavam em Jardins do Éden passando pela provação cada um por si mesmo. “A morte reinou desde Adão até Moisés” porque todos os homens nasciam pecadores carregados da culpa do pecado original de Adão.


V. Teorias Divergentes da Imputação

A explicação que temos apresentado neste capítulo a respeito da imputação do pecado de Adão à sua posteridade é designada algumas vezes como a Teoria do Encabeçamento Natural de Adão. Essa explanação pode ser encontrada nos escritos de Tertuliano (220), Hilário (350) e Ambrósio (374). Ela foi elaborada por Agostinho (353-430) nos seus escritos contra Pelágio. Essa visão foi defendida por Lutero e Calvino ao tempo da Reforma. É apresentada nos escritos de W. G. T. Shedd, A. H. Strong , Samuel J. Baird, Henry C. Thiessen, Lewis Sperry Chafer, e muitos outros.

Somadas a esta explicação estão as cinco maiores falsas teorias sobre o pecado de Adão e a pecaminosidade universal da raça humana. Estas cinco teorias são: 1) A Teoria de Pelágio; 2) A Teoria de Armínio; 3) A Teoria da Nova Escola; 4) A Teoria Federal; (5) A Teoria Placeana.

As três primeiras teorias negam que exista qualquer conexão definida entre o pecado de Adão e a pecaminosidade da raça humana. As duas últimas teorias declaram que existe uma conexão definida entre Adão e a culpa e degradação de seus descendentes, e eles buscam explicar a relação entre esses dois pensamentos. As primeiras três teorias insistem que o homem não herda condenação por causa do pecado de Adão. As duas últimas afirmam que o homem herda condenação.

1. A Teoria Pelagiana. Esta teoria pode ser intitulada de “Inocência Natural do Homem”. Pelágio, um monge Britânico, nasceu por volta de 370 d.C. Ele ensinou suas doutrinas em Roma no ano 409. Foi condenado pelo Concílio de Cartago em 418. Associados com ele estavam Celéstio, um professor e jurista, e Julian, um bispo italiano de Eclanum. A teologia geral de Pelágio foi defendida pelos Socinianos no tempo da reforma e pelo Unitarismo nos tempos modernos.

Pelágio ensinou que os homens nascem no mesmo estado em que Adão foi criado, que eles são inocentes, livres de tendências depravadas e não possuem a herança do pecado original. De acordo com ele, não existe o tal pecado original. Ele ensina que o pecado de Adão atingiu somente a ele mesmo e que esse pecado não foi imputado a seus filhos. Ele afirma que o único efeito do pecado de Adão sobre sua posteridade foi o mau exemplo. De acordo com esta teoria, cada homem encara uma provação para si mesmo; o pecado consiste apenas na escolha deliberada pelo mal; o homem tem a habilidade natural para obedecer a lei de Deus. “Se eu deveria, eu posso.” Pelágio insistiu que é possível ao homem viver sem pecado. Ele disse que os homens podem ser salvos sem o evangelho; o evangelho, no entanto, torna a obediência a Deus mais fácil. Ele ensinou que Adão teria morrido de qualquer maneira e que a morte física não tem relação com o pecado. A teoria de Pelágio é falsa. Ela não tem apoio nos ensinamentos da Bíblia.

2. A Teoria Arminiana. Esta teoria pode ser intitulada “Depravação Voluntariamente Apropriada”. A Teoria Arminiana é também conhecida como Semipelagianismo porque ela ocupa uma posição intermediária entre Pelágio e Agostinho. Ela foi advogada no quinto século por João Cassiano em Marselha, França, e por Fausto, bispo de Riez, na França. Ela foi elaborada por Armínio (1560-1609), um professor na Universidade de Leida, na Holanda; pelo jurista, Grócio; e pela Igreja Metodista.

De acordo com esta teoria, os homens são naturalmente desprovidos da justiça original, e pela fraqueza herdada de Adão, os homens estão inaptos, sem o auxílio de Deus, a obedecê-Lo e a obter a vida eterna. Defensores desta teoria afirmam que o homem herda esta inaptidão natural e assim não são responsáveis por isso; não há culpa relacionada a essa inaptidão. Eles ensinam que, por uma questão de justiça, Deus dá a cada criança recém-nascida uma influência especial do Espírito Santo de forma a neutralizar o poder da corrupção herdada e tornar a obediência possível. De acordo com eles, quando o indivíduo voluntária e conscientemente se apropria e ratifica suas tendências inatas para o pecado, Deus o acusa de pecado.

3. A Teoria da Nova Escola. Esta teoria tem sido intitulada “Viciosidade Não Condenável”. A Teoria da Nova Escola tem sido defendida por Hopkins, Emmons, Dwight e Finney. Foi desenvolvida pela Nova Escola dos Presbiterianos e Congregacionalistas. De acordo com esta teoria, o homem nasce com uma tendência hereditária ao pecado, e na realidade todos os homens pecam na medida em que atingem a consciência moral. Aqueles que ensinam esta teoria afirmam que a tendência herdada ao pecado não é imputada ao homem como pecado em si. Eles ensinam que Deus não imputa o pecado de Adão ao homem; Deus imputa ao homem somente seus próprios atos de transgressão pessoal e voluntária da lei conhecida.

4. A Teoria Federal. Pode-se chamar esta teoria de “Condenação por Pacto”. A Teoria Federal tem sido uma doutrina na Igreja Reformada. A teoria teve origem com Cocceius (1603-1669), um professor em Leida, na Holanda, e foi elaborada por Turretini (1623-1687). Esta teoria foi defendida por Charles Hodge e Louis Berkhof, entre outros.

De acordo com esta teoria, Deus fez de Adão o representante de toda a raça humana e celebrou um pacto com ele. Os termos do pacto eram que Deus prometia dar a vida eterna a Adão e sua posteridade se ele, o cabeça federal, obedecesse a Deus. Se Adão, como cabeça federal da raça humana, desobedecesse a Deus, corrupção e morte seriam infligidas como punição sobre ele e sua posteridade. De acordo com esta teoria, Deus contabiliza todos os descendentes de Adão como pecadores e os condena pelo pecado de Adão porque Adão agiu como representante deles neste pacto. Esta teoria é falsa. Não há menção deste pacto na Bíblia. Adão, contudo, não era simplesmente o representante legal de sua posteridade; ele era o cabeça natural da raça humana. Os homens são constituídos pecadores, não porque eram representados por Adão, mas porque eles estavam nele e são organicamente unidos a ele.

5. A Teoria Placeana. Esta teoria pode ser descrita como “Condenação pela Depravação”. A Teoria Placeana recebeu seu nome de Placeus (1606-1655), um professor de teologia em Saummur, na França. Alguns dos que defendem esta teoria tem sido H. B. Smith e E. G. Robinson. De acordo com esta teoria, a pecaminosidade nata é a consequência, mas não a pena pelo pecado de Adão. O homem herda uma corrupção física e moral de Adão. Esta depravação nata, de acordo com a teoria, é a única coisa que Deus imputa ao homem. Aqueles que sustentam esta teoria ensinam que o homem nasce pecador, não porque ele estava em Adão ou representado por Adão, mas porque ele tem uma natureza corrupta.


A verdadeira explicação da imputação do pecado é que toda a raça humana existiu em Adão, seu cabeça natural. Todos os homens, portanto, participaram do pecado original de Adão. Eles compartilham sua culpa e estão sujeitos às suas penas.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Capítulo XXXI - O Governo Moral de Deus


Capítulo XXXI
O Governo Moral de Deus
                      
Quando estudamos sobre o homem como um pecador, nós o contemplamos em sua relação com o governo moral de Deus. Deus é o Governante do universo. Ele é Rei, Legislador e Juiz (Isaías 33:22). “O seu reino domina sobre tudo” (Salmos 103:19). Toda criatura existe dentro do círculo de Seu domínio. Cada pessoa é responsável perante Ele. Deus não apenas criou todas as coisas, como também governa sobre todas as coisas.

O pecador é um cidadão do universo moral de Deus, sobre o qual Deus é o Governante. Para entender a natureza do pecado é importante compreendermos as leis morais que o pecador tem transgredido.

I. As Leis Morais de Deus

Deus governa o universo com base em leis. Em toda parte da natureza, desde a estrutura dos átomos até o movimento das estrelas, pode-se observar ordem, precisão, regularidade, planejamento. Deus estabeleceu regulamentos ou padrões definidos de comportamento segundo o qual Sua criação deve funcionar.

As leis que governam o universo material, como o crescimento das plantas, as forças da gravidade, eletricidade, correntes de ar e o movimento do sistema solar, são chamadas de leis naturais. As leis que governam o universo moral, como a relação do homem para com Deus, seu próximo e consigo mesmo, são chamadas de leis morais.

As ciências naturais, como a astronomia, geologia, física, química e biologia, tratam do estudo das leis naturais. A teologia bíblica inclui o estudo das leis morais.

As leis naturais e morais são igualmente eficazes. O Deus da natureza e o Deus da Bíblia são um. O Criador também é o Governante moral. As leis morais e naturais, ambas originaram-se em Deus. Não é mais seguro transgredir as leis morais do que seria transgredindo as leis naturais. A transgressão resulta em destruição definitiva. Ignorando Deus, odiando seu próximo e egocentrismo resultará em desastre tão certo quanto quem cai de um penhasco, segura num fio de alta tensão ou toma um veneno. Aquele que vive contrariamente aos princípios morais de Deus está viajando pela contramão, numa estrada de mão única. Ele está rumando para um desastre. Como alguém observou, o mal é a vida soletrada de trás pra frente.
(* nota do tradutor: jogo de palavras na língua inglesa em que a palavra live – que significa vida, quando soletrada de trás pra frente se transforma em evil, que tem o significado de mal).

Paulo advertiu: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção, mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gálatas 6:7, 8).

As leis naturais e as leis morais estão relacionadas com os atributos morais e naturais de Deus. As leis naturais do universo físico revelam em alguma extensão os atributos naturais de Deus. Os atributos naturais de Deus referem-se ao fato de que Ele é infinito, eterno, imortal, imutável, perfeito em conhecimento, onipresente e todo poderoso. As leis morais governando o homem expressam os atributos morais de Deus. Seus atributos morais são santidade, amor e verdade.

II. O Padrão de Justiça

O que faz o certo estar certo? O que faz o erro estar errado? O que existe na natureza do pecado que o faz pecaminoso? Em outras palavras, qual é o padrão de justiça de Deus? O próprio Deus é o padrão do certo e do errado. As leis morais do universo são determinadas pelo Seu caráter. Elas são expressões de Seus próprios atributos morais. Todas as exigências morais de Deus para o homem podem ser resumidas em Seus próprios atributos morais: santidade, amor e verdade. O caráter de Deus é a medida da justiça.

Deus disse: “Sede santos, porque Eu sou santo” (I Pedro 1:16). Quando o crente está em Cristo, ele adquire um padrão de santidade no terreno sagrado diante de Deus. Seu caráter é transformado pelo Espírito Santo; sua conduta resulta numa caminhada santa. Assim, o crente reflete em miniatura a santidade de Deus.

O amor resume os mandamentos de Deus (Mateus 22:33-40; Romanos 13:8-10; Gálatas 5:14). Amor é um dos atributos morais de Deus. João escreveu: “Deus é amor” (1 João 4:8). A vida do crente em amor reflete o caráter moral de Deus e anuncia ao mundo que Deus é amor.

A santidade pode ser definida como a semelhança de Deus. Ser santo é ser semelhante a Deus no caráter e na conduta. Quando o crente é transformado de acordo com os planos de Deus para ele, ele se torna o reflexo do caráter de Deus e de Seu Filho, Jesus Cristo. Deus deseja que os homens se tornem como Ele mesmo é. Ele quer que suas vidas sejam cheias de santidade, amor e verdade.

Atualmente é impossível para o homem se tornar como Deus em Seus atributos naturais. Hoje os homens não podem ser como Deus na Sua infinitude, imutabilidade, onisciência, onipresença e onipotência. Até certo grau, porém, os homens de hoje podem ser como Deus em Seus atributos morais: santidade, amor e verdade.

Alguém poderia perguntar: “Por que Deus não pode mudar Seus padrões morais? Visto que todos os homens violaram Suas leis, por que Ele não muda Suas leis para estarem em conformidade com a vida dos homens? Não seria mais fácil do que tentar mudar os homens? Por que Deus, como Legislador, não elabora novas leis, fazendo com que a conduta conhecida agora como pecado seja correta e normal? Visto que todos os homens estão indo na contramão de uma estrada de mão única, por que não mudar a estrutura da estrada e permitir que o tráfego flua normalmente na direção oposta? Os legisladores humanos mudam as leis, por que não Deus? Ele não é Deus? Ele não é Supremo? Ele não pode fazer todas as Suas vontades?”

As leis morais de Deus não são arbitrárias. Elas não resultaram da vontade arbitrária ou um capricho divino. As leis de Deus não expressam apenas a Sua vontade, mas também o Seu santo caráter. Deus não poderia mudar Seus padrões morais sem mudar Seu próprio caráter. Os padrões morais eternos de Deus são imutáveis porque Deus é imutável.

III. Por que o Pecado Deve Resultar em Morte

O pecado é antideus. O pecado viola não somente a vontade de Deus, como também o caráter de Deus. O pecado é contrário não somente à obra de Deus, como também à natureza interior de Deus.

A santidade, retidão e justiça de Deus demandam que o pecado resulte em morte. O pecado é antideus. Deus é vida; pecado, portanto, é antivida. O resultado do pecado deve ser a morte e a destruição. “O salário do pecado é a morte.” Esse não é um arranjo divino arbitrário; o universo é construído sobre esse princípio. Ou Deus condena o pecado ou viola Seu próprio caráter. Deus não pode mudar Seu caráter porque Ele é imutável. O pecado deve ser condenado à destruição.

A penalidade para todo pecado cometido no universo deve ser paga. Os pecadores pagarão a pena por seus próprios pecados sendo destruídos na eterna segunda morte. A pena para os pecados dos crentes foi paga por Jesus que era sem pecado em Sua morte sacrificial.

Quando Deus perdoa o crente pecador que está adequadamente relacionado a Cristo pela conversão, Ele não age de forma contrária ao Seu próprio santo caráter. O salário do pecado foi atendido pelo sacrifício de Cristo, o Substituto do pecador (Romanos 3:24-26). Deus pode prosseguir sendo santo e justo enquanto Ele perdoa e justifica o crente pecador porque a demanda de Sua santa natureza foi satisfeita na cruz.

IV. A Retidão que Importa para Deus

O homem, por seus próprios esforços, não pode obedecer as leis morais de Deus e atingir Sua perfeita justiça. “Não há um justo, nem um sequer.” Os homens naturalmente são pecadores. A bondade natural do homem não possui méritos aos olhos de Deus. “Todas as nossas justiças são como trapos de imundície” (Isaías 64:6). A justiça produzida pelo eu ou pela carne é justiça própria e obra da carne.

A justiça que importa para Deus não pode ser adquirida pela obediência à Lei Mosaica. A lei foi entregue para definir e revelar o pecado (Romanos 3:19, 20; 7:7). Não foi concebida para ser um meio pelo qual o homem pudesse ser salvo (Gálatas 3:21; Romanos 8:3). Foi projetada para mostrar aos homens a sua necessidade de um Salvador (Gálatas 3:24).
Jesus foi a única pessoa que guardou a lei com perfeição. Ele obedeceu os preceitos da lei com perfeição em Sua vida sem mácula e então pagou a pena da lei em Sua morte sacrificial. Através da morte de Cristo, o crente tem sido redimido da lei (Romanos 7:4; Efésios 2:14, 15; Colossenses 2:14, 20). Os cristãos não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça (Romanos 6:14; 7:6; Gálatas 4:30; 5:18). Os cristãos são advertidos a: “Estais, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão” (Gálatas 5:1). Paulo declarou: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gálatas 5:4).

A fim de adquirir a justiça que conta para Deus, o crente deve estar adequadamente relacionado a Cristo. Quando o crente se rende a Cristo, o Sacrifício, o seu pecado é imputado a Cristo, e a justiça de Cristo é imputada ao crente (2 Coríntios 5:21). Com base nessa justiça imputada, Deus declara que o crente está justificado. A justiça imputada ao crente na conversão é efetivamente transmitida ao crente de forma gradual, à medida que é permitido a Cristo exercer influência em sua vida. O fruto do Espírito (Gálatas 5:22, 23) é justiça transmitida. É a justiça de Cristo produzida no interior da vida de um crente que se rendeu. O fruto do Espírito não é justiça própria ou obra da carne. É produzido pela habitação de Cristo.