terça-feira, 29 de março de 2016

Capítulo VIII - A Personalidade de Deus

Capítulo VIII
A Personalidade de Deus

Deus é uma pessoa viva. Ele possui vida, autoexistência e caráter. Os três elementos da personalidade são inteligência, sensibilidade e vontade. Sendo uma pessoa, Ele tem habilidade para pensar, sentir e escolher. A Bíblia prova que Deus é uma pessoa atribuindo a Ele características da personalidade. Deus tem a habilidade de pensar, sentir e escolher. Ele vê, ouve, sabe, fala, ama, deseja e trabalha.
A verdadeira religião é possível porque Deus é uma pessoa a quem o crente pode amar, adorar, conhecer e obedecer. Um relacionamento pessoal entre Deus e o homem torna-se possível porque Deus é uma pessoa e o homem foi criado à Sua imagem. Quando o crente ora, ele sabe que Deus o vê, vai ouvir e responder. A salvação é o processo mediante o qual os pecadores são conduzidos a um relacionamento redentor com esta pessoa divina através da obra mediadora de Jesus Cristo.

I. Uma Pessoa Viva
Ele que criou, sustenta e governa o universo é uma pessoa viva. “e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra, e o mar, e tudo quanto há neles”(Atos 14:15). O Criador é maior que a criatura. O Autor da vida deve ter a vida em Si mesmo de maneira que possa doar vida a Suas criaturas.
Os homens possuem vida e personalidade. Eles tem o poder de autoconsciência e autodeterminação. Visto que Deus é maior que o homem, Deus deve ser uma pessoa viva. Paulo usou um argumento similar quando ele tratava com os filósofos em Atenas. “Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós pois geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou a prata, ou a pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.” (Atos 17:28,29).
Em todo lugar na Bíblia, Deus é revelado como uma pessoa que está viva e ativa. Ele revelou a Si mesmo para Moisés com “EU SOU O QUE SOU”(Êxodo 3: 14). Ele é chamado do “o Deus vivo” pelo menos trinta vezes na Bíblia. O Pai do Senhor Jesus Cristo é o Deus vivo (Mateus 16:16)

II. Autoexistência
O Deus vivo e pessoal é autoexistente. A fonte de Sua existência está contida n’Ele. Todos os homens e criaturas no universo são dependentes de Deus para a vida. Eles receberam sua existência de Deus. Se não fosse por Deus, eles não poderiam viver. Deus, por outro lado, possui vida em Si mesmo. Ele existe independente de Suas obras. Deus vive desde antes da criação do universo. O universo depende de Deus, mas Deus não depende do universo para existir.

III- Negação da Personalidade de Deus

1. Idolatria. Os homens que adoram ídolos negam a personalidade de Deus. Denunciando a idolatria que prevalecia nas antigas nações, os profetas bíblicos fortemente enfatizaram a verdade de que Deus uma pessoa viva. Eles mostraram que aqueles ídolos eram inanimados, sem vida, impessoais. “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Teem boca, mas não falam, teem olhos, mas não vêem; teem ouvidos, mas não ouvem; narizes teem, mas não cheiram: teem mãos, mas não apalpam; teem pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem, e todos os que neles confiam. Confia, ó Israel, no Senhor; ele é seu auxílio e seu escudo.” (Salmos 115:4 a 9). Descrevendo Deus, em contraste com os ídolos, Jeremias declarou, “Mas o Senhor Deus é a verdade, Ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno”. (Jeremias 10:10). Os profetas bíblicos mostraram a superioridade de Deus sobre os ídolos afirmando que os ídolos são coisas enquanto Deus é uma pessoa. Os homens fazem ídolos, mas Deus fez os homens. Se os construtores de ídolos são pessoas, quanto mais é verdade que Deus é uma pessoa!

2. Materialismo. Muitas filosofias modernas negam a personalidade de Deus. Muitos homens referem-se a Deus como uma Força ou Lei impessoal. Eles O comparam com a eletricidade, a gravidade ou a energia atômica. Descrevem Deus como um poder infinito e impessoal. Outros homens pensam em Deus meramente como um ideal. Eles dizem que Deus é somente outro nome para bondade, verdade ou beleza. Este pensamento é frequentemente expresso na literatura.

3. Panteísmo. O panteísmo nega a personalidade de Deus. O panteísmo identifica Deus com a sua criação. Ensina que Deus é tudo e tudo é Deus. Deus não teria uma existência à parte de Suas criaturas. Afirmam que se o universo deixasse de existir, Deus deixaria de ser. Por vezes Ele é descrito como a “Alma do Mundo”,  “Pensamento Universal” ou “Princípio Divino”.
Muitos cultos religiosos modernos incorporaram o panteísmo. Alguns destes cultos que negam a personalidade de Deus são a Ciência Cristã, Igreja da Unidade, Ciência Divina, Teosofia e Espiritualismo.
Os cristãos bíblicos rejeitam o panteísmo. Eles afirmam crer em Deus que é uma pessoa viva e amorosa. Junto com Paulo eles declaram: “esperamos no Deus vivo.” ( I Tim. 4:10).


IV. Natureza Física de Deus

Qual a natureza física de Deus? Ele possui um corpo como os homens também possuem? Deus é orgânico ou inorgânico? Ele é material ou imaterial? Existem duas teorias sobre a natureza física de Deus: (1) a Teoria Imaterialista e (2) a Teoria Antropomórfica.

1. A Teoria Imaterialista. Alguns homens acreditam que Deus é uma pessoa mas que Ele não tem um corpo físico material. A Confissão de Fé de Westminster declara: “Há somente um Deus, vivo e verdadeiro, o qual é infinito em Seu ser e perfeição, um espírito puríssimo, invisível, sem corpo ou membros, ou paixões.” De acordo com esta teoria, Deus criou o homem em Sua imagem moral e intelectual, mas não em Sua imagem física. As escrituras que mencionam que Deus tem uma cabeça, cabelo, mente, face, olhos, ouvidos, narinas, boca, voz, braços, mãos, pés e habitando lugares são explicados como sendo meras expressões humanas utilizadas pelos escritores da Bíblia para demonstras o infinito de forma compreensível aos homens finitos. Os homens que acreditam que Deus é imaterial geralmente chamam suas teorias de “a espiritualidade de Deus”. Para provar sua teoria, eles citam João 4:24, “Deus é Espírito.”


2. A Teoria Antropomórfica. Outros homens creem que Deus tem um corpo físico material, real e literal. Esta teoria afirma que Deus criou o homem à Sua imagem física assim como em Sua imagem intelectual e moral. Os homens que acreditam que Deus tem uma natureza material aceitam literalmente as escrituras que descrevem Deus como tendo corpo físico. Os que aceitam esta fé explicam que o verso “Deus é Espírito” (João 4:24), não tem a intenção de descrever Deus em contraste com a matéria, mas sim que Deus pode ser encontrado onde quer que o coração humano O busque.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Capítulo VII - A Autorrevelação de Deus


CAPÍTULO VII
A Autorrevelação de Deus

Agnósticos e céticos afirmam que o homem não pode saber se Deus existe ou não. Eles insistem que, se Deus existe, é impossível ao homem conhecer qualquer coisa sobre Ele. De acordo com eles, Deus esconde a Si mesmo na escuridão e o homem deve permanecer em perpétua ignorância quanto à Sua natureza.

O teísmo cristão, por outro lado, afirma categoricamente que a existência de Deus é certa, e que os homens podem conhecer muito sobre Deus. A autorrevelação de Deus é o antídoto para o agnosticismo.

I. Deus Pode Ser Conhecido
Os homens podem adquirir um conhecimento decisivo com respeito à existência de Deus, Sua natureza, atributos, obras e planos para o futuro. Ainda que nós não possamos saber tudo a respeito de Deus em Sua infinita perfeição e não podemos saber tudo o que Deus sabe, nós podemos conhecer muito sobre Deus porque Ele tem Se revelado ao homem.

O conhecimento humano sobre Deus resulta da resposta do homem para a autorrevelação de Deus. Em todas as coisas Deus toma a iniciativa; Ele é sempre o primeiro. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro. Nós abrimos a porta do nosso coração para Ele porque primeiro Ele esteve à porta e bateu, buscando entrar. O pecador busca a Deus porque Deus buscou primeiro pelo pecador. O homem adquire conhecimento sobre Deus porque primeiro Deus revelou a Si mesmo para o homem. O que o homem descobre é baseado naquilo que Deus revela. O que o homem adquire é possibilitado pelo que Deus concede. Deus fala, o homem ouve. Deus revela, o homem contempla. Deus revela a Si mesmo, o homem aprende sobre Ele.

Certamente, nós nunca conheceríamos a Deus se Ele não tivesse revelado a Si mesmo. Mas o que nós queremos dizer com “revelação”? Nós entendemos por revelação aquele ato de Deus pelo qual ele Se descobre e comunica uma verdade para a mente; quando Ele manifesta a Suas criaturas algo que não poderia ser conhecido de outra maneira. A revelação pode ocorrer num ato único e instantâneo ou pode se estender por longo período de tempo; e esta comunicação de Si mesmo e Sua verdade pode ser percebida pela mente humana em vários níveis de plenitude (Thiessen. Op. cit. p. 31).


II. Como Deus Tem Se Revelado
Deus tem revelado a Si mesmo de uma forma geral para a humanidade como um todo. Ele tem Se revelado de maneira especial para os crentes. De maneira geral, Deus tem Se revelado através das obras da criação, da consciência do homem e Sua intervenção na história das nações. De maneira especial, Deus tem se revelado através da Bíblia e da vida de Jesus Cristo.

A revelação geral de Deus tem a intenção de demonstrar a Sua existência, a culpa do homem pelo pecado e sua necessidade de salvação. A revelação especial de Deus tem a intenção não apenas de revelar a natureza de Deus e a necessidade humana de salvação, mas também mostrar a providência de Deus para salvação através de Sua graça e da morte sacrificial de Cristo.

1. Revelação Geral de Deus. Os homens podem aprender alguns fatos sobre Deus pela observância das coisas que Deus criou. Num certo grau, a criatura revela o Criador. “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Romanos 1:20). “E contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os vossos corações” (Atos 14:17).

Deus tem Se revelado como Legislador moral e santo Juiz pela consciência do homem. Paulo disse, “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei, os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Romanos 2:14,15).

Depois, Deus tem Se revelado para a humanidade através de Seu trabalho providencial na história das nações. Os juízos divinos históricos – o dilúvio, dispersão das nações da Torre de Babel, destruição de Sodoma e Gomorra, as pragas sobre o Egito, o cativeiro de Israel, etc. – foram revelações de Deus. Previsões de Deus que se cumpriram sobre as nações antigas foram autorrevelações divinas. Em Sua providência, Deus usou uma nação para punir outra nação e colocou Suas mãos para guiar o destino de nações (Leia Habacuque). De acordo com Ezequiel, o reconhecimento da obra de Deus entre as nações será o principal resultado do cumprimento das profecias futuras. A frase chave de Ezequiel é “e eles saberão que Eu sou Deus”.

2. Revelação Especial de Deus. A grande mensagem de Deus para a humanidade está gravada nas Escrituras. A Bíblia é o principal meio através do qual Deus tem se revelado para a raça humana. “A escritura do Antigo e Novo Testamento são os únicos órgãos mediante os quais, durante a presente dispensação, Deus transmite a nós o conhecimento de sua vontade sobre o que devemos crer a respeito d’Ele mesmo, e quais obrigações Ele requer de nós” (Hodge, A.ª Op. cit., p. 82). Para aprender sobre Deus, a pessoa deve estudar e meditar sobre a Sua Palavra.

A Bíblia registra a revelação que Deus faz de Si mesmo através do Seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Em sua vida imaculada, Jesus refletiu o caráter santo de Deus. Em Seus ensinos e milagres, Jesus revelou a vontade de Deus e a Sua mensagem para o homem. Em Sua morte sacrificial, Jesus revelou o amor infinito de Deus e a providência para a salvação. Em sua gloriosa ressurreição para a imortalidade, Jesus revelou o poder infinito de Deus e a promessa da futura ressurreição para os crentes. “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de várias maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (Hebreus 1:1,2). Jesus é uma janela aberta através da qual alguém pode ver claramente a autorrevelação de Deus. O estudo da inspirada Palavra de Deus, certamente, é um requisito para alguém aprender sobre a autorrevelação de Deus através de Cristo.

III. Inspiração da Bíblia
Os sessenta e seis livros da Bíblia constituem a inspirada Palavra de Deus. Não é que a Bíblia contenha a Palavra de Deus, a Bíblia é a Palavra de Deus.

A Bíblia é genuína. Os livros da Bíblia são autênticos. Eles não são falsificações. Os livros realmente foram escritos pelos homens a quem são atribuídos. Por exemplo, o evangelho de Marcos foi escrito por Marcos, a Epístola aos Romanos foi escrita por Paulo e o Apocalipse foi escrito por João. Eles não são espúrios. Eles não foram escritos por homens em séculos posteriores. Eles são genuínos.

A Bíblia é confiável. Os livros da Bíblia relatam eventos que realmente aconteceram e descreve homens que de fato viveram. Os ensinos doutrinários gravados na Bíblia são verdadeiros. Os homens que escreveram a Bíblia eram honestos. Seus escritos harmonizam entre si perfeitamente. A história e a arqueologia confirmam a veracidade da Bíblia. Estes mostram que a Bíblia não é ficcional, mas confiável.

Os sessenta e seis livros da Bíblia são canônicos e constituem o cânon completo das Sagradas Escrituras. Eles são os únicos livros que se qualificam como os que incorporam com autoridade a divina revelação.

A Bíblia é inspirada. Ela teve uma origem sobrenatural. Ela é a Palavra de Deus, a mensagem de Deus para o homem. “Pois toda Escritura Sagrada é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16 NTLH). “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).

Pela inspiração verbal entende-se que nos escritos originais o espírito guiou a escolha das palavras utilizadas. Entretanto, a autoria humana foi respeitada na medida em que as características dos escritores foram preservadas e seus estilos e vocabulários eram empregados, mas sem a intromissão do erro.
Pela inspiração plena entende-se que a precisão assegurada pela inspiração verbal é extensiva à toda parte da Bíblia, de forma que todas as partes são ao mesmo tempo infalíveis quanto à verdade e definitivas como inspiração divina (Chafer. Op. cit., Vol. I., p. 71).

A inspiração da Bíblia é evidenciada pelo fato da própria Bíblia afirmar que é a inspirada Palavra de Deus. Os escritores do Velho Testamento, por exemplo, usaram muitas colocações como “assim disse o Senhor” mais de 3800 vezes. Jesus e os apóstolos reconheceram o Antigo Testamento como sendo inspirado e confiável. Os apóstolos declararam ter recebido o Espírito e falado sob Sua influência e autoridade.

A surpreendente unidade da Bíblia escrita por mais de quarenta homens durante um período de tempo de mais de dezesseis séculos mostra sua origem divina.

O exato cumprimento das profecias, o alto padrão de conduta exigido dos homens, a tremenda influência que tem exercido na vida humana, o fato de ter sobrevivido a séculos de oposição e sua confirmação pela arqueologia, história, e verdadeira ciência são algumas entre tantas evidências da inspiração da Bíblia.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Capítulo VI - A Existência de Deus


Capítulo VI
A Existência de Deus

Tendo exposto o ensinamento bíblico a respeito da doutrina de Deus e tendo investigado algumas teorias antiteístas, devemos agora considerar a existência de Deus. Antes de estudarmos os argumentos clássicos sobre a existência de Deus, é importante reconhecermos que a existência de Deus é assumida pela Bíblia como uma verdade e a crença em Sua existência é encontrada em todas as nações.

I. Assumido como Verdade pelas Escrituras
A existência de Deus é reconhecida como um fato pelos escritores da Bíblia. É considerada como uma realidade que não exige provas. As primeiras palavras da Bíblia anunciam o fato e a existência de Deus: “No princípio, criou Deus” (Gênesis 1:1).

Crer na existência de Deus é um fato assumido pela fé Cristã. Os cristãos declaram: “Eu acredito em Deus”. Sem sombra de dúvida, os crentes afirmam que Deus é. O escritor de Hebreus insiste “porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:6).

Dr. William Newton Clarke escreveu:

A doutrina cristã sobre Deus não inicia com uma prova, inicia com um anúncio que é feito pela fé Cristã de acordo com a revelação Cristã. A fé não é exercitada para encontrar um Deus desconhecido, ou para certificar-se de que Deus existe: é ouvir a Sua voz e iniciar-se com confiança em Sua realidade. É assumir a existência de Deus como a primeira certeza, e prosseguir em aprender sobre Ele tudo o que puder ser aprendido... Talvez existam outras maneiras de se chegar ao conhecimento de Deus, mas a maneira Cristã é o caminho do reconhecimento em vez da demonstração (Clarke, William Newton. The Christian Doctrine of God. New York : Scribners, 1909, p. 56).

Capítulos inteiros da Bíblia são dedicados a assuntos específicos, como a segunda vinda de Cristo (1Tessalonicenses 4; Mateus 25, etc.), sacrifício de Cristo (Isaías 53), a ressurreição (1Coríntios 15), fé (Hebreus 11), amor (1 Coríntios 13) e os atributos de Deus (Salmos 139). Mas não existem capítulos, no entanto, que são inteiramente devotados a provar que Deus existe. Os autores das Escrituras reconheceram a existência de Deus como um fato tão evidente em si mesmo que não requer provas.

Na lógica formal, alguém argumenta a partir do conhecido para o desconhecido e do mais aparente para o menos aparente. William G. T. Shedd explica que a Bíblia não busca provar a existência de Deus porque este é um dos fatos mais óbvios. Ele escreveu:

A razão pela qual as Escrituras não fornecem argumentos contra o ateísmo especulativo por meio de uma explicação lógica é que o silogismo inicia com uma premissa que é mais óbvia e certa do que a conclusão extraída dali, e as Escrituras não admitem que qualquer premissa seja necessária para se chegar à conclusão de que existe um Ser supremo, isto é mais intuitivamente certo do que a conclusão em si (Shedd, W. G. T. Dogmatic Theology. Grand Rapids : Zondervan Publishing House, 1953, Vol. I. p. 196).

II. Os Homens Normalmente Acreditam em Deus
Deus criou o homem com uma habilidade natural para reconhecer Sua existência. Quando o homem em condições normais pensa seriamente sobre o universo, o reconhecimento da existência de Deus surge naturalmente em sua mente. Quando uma criança é ensinada que Deus existe, ela espontaneamente percebe que isto é uma verdade. O homem foi criado para ser naturalmente religioso. É natural para o homem acreditar em Deus; é anormal para ele ser um ateu.

Ninguém se surpreende ao descobrir, portanto, que a fé na existência de um ser supremo ou mais de um é encontrada em todo homem. O paganismo corrompeu a glória de Deus em idolatria e a verdade de Deus em mitologia, mas o reconhecimento da Sua existência ainda está presente. A falsificação prova a realidade da verdade. Em todas as raças e tribos da terra e em todas as civilizações da história, a existência de uma ou mais divindades foi reconhecida pelos homens. Este fato surpreendente é um testemunho da existência de Deus. Um missionário que serviu na África escreveu:

Antes de tudo, todos os pagãos sabem que existe um Deus. Não há ateus entre as tribos pagãs. Quão tola é a fé ateísta reservada para homens em terras onde a cultura “professa que eles mesmos são sábios”. Nunca foi descoberto sobre a face da terra uma tribo de pessoas, ainda que pequena ou depravada, que não acredite em algum tipo de deus ou não tenha algum sistema de adoração. Não importa quão ignorante ou degradada, toda tribo e raça humana tem alguma religião (Weiss, G. Christian. “They Know More Than You Think”, Christian Life, October 1950, p. 13).

João Calvino menciona uma observação similar de Cícero, de que a fé num ser supremo ou divindades era encontrada em todos os homens (Calvin. Institutes of the Christian Religion. Grands Rapids : Eerdmans, 1949, Vol. I, p. 54).

A existência de Deus é conhecida como uma verdade primária. É uma intuição racional. Um fato que não requer provas. É como um axioma de geometria. Este fato, assim como a existência do espaço e do tempo, deve ser assumido na mente para formar a base de toda observação e pensamento (Strong, A. H. Systematic Theology. Philadelphia : Judson Press, 1907, pp. 52-54).

III. Argumentos Clássicos da Existência de Deus
Existem três argumentos clássicos sobre a existência de Deus. Estes argumentos, derivados da observação humana sobre a natureza e seu raciocínio a respeito de Deus, têm sido utilizados pelos pensadores da religião desde os tempos antigos. Eles são o argumento Cosmológico, o argumento Teleológico e o argumento Antropológico.

O argumento Cosmológico infere a existência de Deus como a Primeira Causa. A palavra cosmológico é derivada da palavra grega kosmos, mundo ou organizado ordenadamente.

O argumento Teleológico infere a existência de Deus como o Grande Projetista. A palavra teleológico é derivada da palavra grega telos, projeto ou fim.

O argumento Antropológico infere a existência de Deus como um Legislador Moral e Juiz. A palavra antropológico é derivada da palavra grega anthropos, homem.

Estes três argumentos estão inter-relacionados e complementam um ao outro. Cada sucessivo argumento confirma a conclusão anterior e fornece informação adicional a respeito de Deus.

O argumento Cosmológico revela Deus como a Primeira Causa eterna e autoexistente. O argumento Teleológico revela que esta grande Primeira Causa possui inteligência e vontade. O argumento Antropológico nos leva um passo a mais. Ele revela esta Primeira Causa inteligente e pessoal como alguém que possui santidade, justiça e verdade.

Estes três argumentos são, na verdade, três partes de um argumento maior. Cada argumento considerado isoladamente é incompleto. Considerados juntos, eles formam um valioso argumento para a existência de Deus.

1. O Argumento Cosmológico. A existência de criaturas requer a existência de um Criador. Todo efeito tem que ter uma causa adequada. O universo nem sempre existiu. Houve um tempo em que o universo não existia. O universo tem que ter uma origem. O Originador, a Fonte, a Primeira Causa de toda a existência é Deus. Entre tudo o que existe, somente Deus não tem causa, não tem um princípio. Antes de Deus criar o universo, Ele existia sozinho. Deus é a Primeira Causa do universo.

O escritor de Hebreus usa este argumento quando diz: “Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus” (Hebreus 3:4).

Archibald Alexander Hodge, professor do Seminário Teológico de Princeton (1877-1886), utilizou o Argumento Cosmológico na forma de silogismo:

Premissa Maior: Toda nova existência ou mudança em algo previamente existente deve ter uma causa preexistente e adequada.
Premissa Menor: O universo como um todo e em todas as suas partes constitui um sistema de mudanças.
Conclusão: Portanto, o universo deve ter uma causa exterior a si mesmo, e a causa final e absoluta deve ser eterna, sem origem e imutável (Op. cit. p. 33).

Então o universo é eterno ou não eterno. Ele existe desde a eternidade ou ele teve uma origem no tempo. Se o universo teve uma origem, tem que haver um Originador que fez surgir sua existência. O Originador é Deus.

O universo não existe desde sempre. A matéria não é eterna. O universo teve uma origem definida e um Originador. A ciência moderna tem descoberto muitos fatores que provam que o universo teve um início definido no tempo. Um destes fatores é a expansão do universo. O fato de que todas as galáxias estão se distanciando umas das outras através do espaço indica que elas estiveram, em algum momento, num ponto central.

Se alguém assume que todas as galáxias que nós vemos hoje estão viajando para fora através das eras do tempo cósmico, numa mesma direção relativa e numa mesma velocidade relativa – as distantes mais rápido, e as mais próximas numa velocidade menor –, o corolário inicial que emerge disto é que todas começaram do mesmo lugar e ao mesmo tempo.
Cálculos realizados com as medições atuais de sua taxa de distanciamento indicam que sua jornada cósmica teve início a aproximadamente cinco bilhões de anos. O fato extraordinário sobre este cenário é que isto coincide com as recentes descobertas sobre a idade provável de substâncias radioativas encontradas sobre a crosta terrestre, e a idade das mais antigas estrelas segundo as modernas teorias sobre a evolução estelar. Todos os indícios da ciência apontam para um tempo de criação quando o fogo cósmico foi iniciado e o enorme desfile do universo presente veio a existir (Barnett, Lincoln. “The World We Live in: The Starry Universe” Life, Dezembro de 1954, p. 64).

Para uma discussão adicional sobre a cronologia do universo, o leitor é referido a Bernard Ramm’s The Christian View of Science and Scripture, pp. 151-156 (Grands Rapids: Eeardmans, 1954).


3. O Argumento Antropológico. Os dois primeiros argumentos consideram provas derivadas do universo como um todo. O argumento antropológico considera indicações da existência de Deus derivadas do próprio homem.
A consciência humana testifica que existe um Governante Moral, Legislador e Juiz. Sem a existência de Deus, a consciência do homem não pode ser explicada. Augustus H. Strong escreveu:

A natureza moral do homem prova a existência de um santo Legislador e Juiz. Os elementos de prova são: (a) A consciência reconhece a existência de uma lei moral que tem autoridade suprema. (b) Violações conhecidas desta lei moral são seguidas de sentimento de desconforto e temor de juízo. (c) Esta lei moral, visto que não é autoimposta, e estas ameaças de julgamento, visto não serem autoexecutáveis, respectivamente demandam a existência de uma santa vontade que imponha a lei, e um poder punitivo que execute as ameaças da moral natural” (Op. cit., p. 82).

O argumento para a existência de Deus derivado da natureza moral do homem é apresentada em parte em um dos famosos livros de C. S. Lewis, The Case for Christianity (New York: Macmillan, 1951).

A natureza intelectual do homem prova a existência de uma Primeira Causa inteligente. A natureza emocional do homem indica a existência de Alguém que em Si mesmo é o objeto de satisfação da afeição humana. O coração humano não encontra descanso “enquanto não descansar em Deus” (Augustine), porque Deus fez o homem. O poder de escolha do homem pressupõe a existência de um Ser que em Si mesmo é o alvo que atrairá as mais nobres ações do homem e garantirá seus maiores progressos (Strong. Op. cit., pp. 81-83).

4. O Argumento Ontológico. Em adição aos três argumentos mencionados acima, existe mais um argumento clássico para a existência de Deus. É o argumento Ontológico. Este argumento busca provar que Deus é infinito a partir do fato de que o homem, que é finito e imperfeito, tem a ideia de um Ser perfeito e infinito.

O argumento Ontológico foi proposto por Anselmo, Arcebispo de Canterbury (1693-1109), em seu Proslogium, por Descartes (1596-1650), em sua obra Meditations, e por Samuel Clarke (1705), em sua Demonstration of the Being and Atributes of God.


IV. O Testemunho do Sobrenatural
A autorrevelação de Deus para a humanidade através de eventos sobrenaturais constitui uma indicação adicional de Sua existência. Deus deixou testemunhos de Sua existência não apenas no universo material e na natureza moral do homem, mas também na história de vida dos homens. A revelação de Deus sobre Si mesmo através do sobrenatural torna implícita a Sua existência.

A Bíblia, como um livro divino, prova a existência de Deus. Sem a existência de um Autor divino, a Bíblia não pode ser explicada. O fato de este maravilhoso livro existir já prova a existência do Seu autor. A Bíblia registra a autorrevelação de Deus à humanidade. A Bíblia, portanto, é uma fonte autêntica de material para comprovar Sua existência.

O cumprimento de incontáveis profecias bíblicas com detalhes minuciosos prova a existência de Alguém que previu estes eventos (Isaías 45:21; 46:9-11). Milagres que ocorreram na história e foram registrados na Bíblia somente podem ser explicados de forma satisfatória como obra do poder sobrenatural de Deus.

A vida sobrenatural de Cristo, incluindo seu nascimento singular, sua habilidade de realizar milagres e Sua ressurreição para a imortalidade, indica a existência de Deus. Um ateu observou que nem tanto a Bíblia, mas sim o Cristo da Bíblia era o que ele não conseguia explicar.

A conversão cristã e a tremenda influência do cristianismo sobre o mundo só podem ser explicadas pela existência de Deus. O testemunho de milhares de pessoas que têm experimentado notáveis transformações indica a obra sobrenatural de Cristo e a existência de Deus. Assim como se assegura a existência do sol a um homem cego pelo calor de seu brilho, os cristãos asseguram a existência de Deus pelo efeito transformador do Seu poder.