Capítulo VI
A Existência de Deus
Tendo
exposto o ensinamento bíblico a respeito da doutrina de Deus e tendo investigado
algumas teorias antiteístas, devemos agora considerar a existência de Deus.
Antes de estudarmos os argumentos clássicos sobre a existência de Deus, é
importante reconhecermos que a existência de Deus é assumida pela Bíblia como
uma verdade e a crença em Sua existência é encontrada em todas as nações.
I.
Assumido como Verdade pelas Escrituras
A
existência de Deus é reconhecida como um fato pelos escritores da Bíblia. É
considerada como uma realidade que não exige provas. As primeiras palavras da
Bíblia anunciam o fato e a existência de Deus: “No princípio, criou Deus”
(Gênesis 1:1).
Crer
na existência de Deus é um fato assumido pela fé Cristã. Os cristãos declaram:
“Eu acredito em Deus”. Sem sombra de dúvida, os crentes afirmam que Deus é. O escritor de Hebreus insiste “porque é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o
buscam” (Hebreus 11:6).
Dr. William Newton Clarke escreveu:
A doutrina cristã sobre Deus não inicia com uma prova, inicia
com um anúncio que é feito pela fé Cristã de acordo com a revelação Cristã. A
fé não é exercitada para encontrar um Deus desconhecido, ou para certificar-se
de que Deus existe: é ouvir a Sua voz e iniciar-se com confiança em Sua
realidade. É assumir a existência de Deus como a primeira certeza, e prosseguir
em aprender sobre Ele tudo o que puder ser aprendido... Talvez existam outras
maneiras de se chegar ao conhecimento de Deus, mas a maneira Cristã é o caminho
do reconhecimento em vez da demonstração (Clarke, William Newton. The Christian Doctrine of God. New York
: Scribners, 1909, p. 56).
Capítulos
inteiros da Bíblia são dedicados a assuntos específicos, como a segunda vinda de
Cristo (1Tessalonicenses 4; Mateus 25, etc.), sacrifício de Cristo (Isaías 53),
a ressurreição (1Coríntios 15), fé (Hebreus 11), amor (1 Coríntios 13) e os
atributos de Deus (Salmos 139). Mas não existem capítulos, no entanto, que são
inteiramente devotados a provar que Deus existe. Os autores das Escrituras
reconheceram a existência de Deus como um fato tão evidente em si mesmo que não
requer provas.
Na
lógica formal, alguém argumenta a partir do conhecido para o desconhecido e do
mais aparente para o menos aparente. William G. T. Shedd explica que a Bíblia
não busca provar a existência de Deus porque este é um dos fatos mais óbvios.
Ele escreveu:
A razão pela qual as Escrituras não fornecem argumentos contra
o ateísmo especulativo por meio de uma explicação lógica é que o silogismo
inicia com uma premissa que é mais óbvia e certa do que a conclusão extraída
dali, e as Escrituras não admitem que qualquer premissa seja necessária para se
chegar à conclusão de que existe um Ser supremo, isto é mais intuitivamente certo
do que a conclusão em si (Shedd, W. G. T. Dogmatic
Theology. Grand Rapids : Zondervan Publishing House, 1953, Vol. I. p. 196).
II. Os Homens Normalmente Acreditam em Deus
Deus
criou o homem com uma habilidade natural para reconhecer Sua existência. Quando
o homem em condições normais pensa seriamente sobre o universo, o
reconhecimento da existência de Deus surge naturalmente em sua mente. Quando
uma criança é ensinada que Deus existe, ela espontaneamente percebe que isto é
uma verdade. O homem foi criado para ser naturalmente religioso. É natural para
o homem acreditar em Deus; é anormal para ele ser um ateu.
Ninguém
se surpreende ao descobrir, portanto, que a fé na existência de um ser supremo
ou mais de um é encontrada em todo homem. O paganismo corrompeu a glória de
Deus em idolatria e a verdade de Deus em mitologia, mas o reconhecimento da Sua
existência ainda está presente. A falsificação prova a realidade da verdade. Em
todas as raças e tribos da terra e em todas as civilizações da história, a existência
de uma ou mais divindades foi reconhecida pelos homens. Este fato surpreendente
é um testemunho da existência de Deus. Um missionário que serviu na África
escreveu:
Antes de tudo, todos os pagãos sabem que existe um Deus. Não
há ateus entre as tribos pagãs. Quão tola é a fé ateísta reservada para homens
em terras onde a cultura “professa que eles mesmos são sábios”. Nunca foi
descoberto sobre a face da terra uma tribo de pessoas, ainda que pequena ou
depravada, que não acredite em algum tipo de deus ou não tenha algum sistema de
adoração. Não importa quão ignorante ou degradada, toda tribo e raça humana tem
alguma religião (Weiss, G. Christian. “They Know More Than You Think”, Christian
Life, October 1950, p. 13).
João
Calvino menciona uma observação similar de Cícero, de que a fé num ser supremo
ou divindades era encontrada em todos os homens (Calvin. Institutes of the
Christian Religion.
Grands Rapids : Eerdmans, 1949, Vol. I, p. 54).
A
existência de Deus é conhecida como uma verdade primária. É uma intuição
racional. Um fato que não requer provas. É como um axioma de geometria. Este
fato, assim como a existência do espaço e do tempo, deve ser assumido na mente
para formar a base de toda observação e pensamento (Strong, A. H. Systematic Theology. Philadelphia :
Judson Press, 1907, pp. 52-54).
III.
Argumentos Clássicos da Existência de Deus
Existem
três argumentos clássicos sobre a existência de Deus. Estes argumentos,
derivados da observação humana sobre a natureza e seu raciocínio a respeito de
Deus, têm sido utilizados pelos pensadores da religião desde os tempos antigos.
Eles são o argumento Cosmológico, o argumento Teleológico e o argumento
Antropológico.
O
argumento Cosmológico infere a existência de Deus como a Primeira Causa. A
palavra cosmológico é derivada da
palavra grega kosmos, mundo ou
organizado ordenadamente.
O
argumento Teleológico infere a existência de Deus como o Grande Projetista. A
palavra teleológico é derivada da palavra grega telos, projeto ou fim.
O
argumento Antropológico infere a existência de Deus como um Legislador Moral e
Juiz. A palavra antropológico é derivada da palavra grega anthropos, homem.
Estes
três argumentos estão inter-relacionados e complementam um ao outro. Cada
sucessivo argumento confirma a conclusão anterior e fornece informação
adicional a respeito de Deus.
O
argumento Cosmológico revela Deus como a Primeira Causa eterna e autoexistente.
O argumento Teleológico revela que esta grande Primeira Causa possui
inteligência e vontade. O argumento Antropológico nos leva um passo a mais. Ele
revela esta Primeira Causa inteligente e pessoal como alguém que possui
santidade, justiça e verdade.
Estes
três argumentos são, na verdade, três partes de um argumento maior. Cada
argumento considerado isoladamente é incompleto. Considerados juntos, eles
formam um valioso argumento para a existência de Deus.
1. O Argumento Cosmológico. A existência
de criaturas requer a existência de um Criador. Todo efeito tem que ter uma
causa adequada. O universo nem sempre existiu. Houve um tempo em que o universo
não existia. O universo tem que ter uma origem. O Originador, a Fonte, a
Primeira Causa de toda a existência é Deus. Entre tudo o que existe, somente
Deus não tem causa, não tem um princípio. Antes de Deus criar o universo, Ele existia
sozinho. Deus é a Primeira Causa do universo.
O
escritor de Hebreus usa este argumento quando diz: “Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou
todas as coisas é Deus” (Hebreus 3:4).
Archibald Alexander Hodge,
professor do Seminário Teológico de Princeton (1877-1886), utilizou o Argumento
Cosmológico na forma de silogismo:
Premissa Maior: Toda nova existência ou
mudança em algo previamente existente deve ter uma causa preexistente e
adequada.
Premissa Menor: O universo como um todo
e em todas as suas partes constitui um sistema de mudanças.
Conclusão: Portanto, o universo deve ter
uma causa exterior a si mesmo, e a causa final e absoluta deve ser eterna, sem
origem e imutável (Op. cit. p. 33).
Então
o universo é eterno ou não eterno. Ele existe desde a eternidade ou ele teve
uma origem no tempo. Se o universo teve uma origem, tem que haver um Originador
que fez surgir sua existência. O Originador é Deus.
O
universo não existe desde sempre. A matéria não é eterna. O universo teve uma origem
definida e um Originador. A ciência moderna tem descoberto muitos fatores que
provam que o universo teve um início definido no tempo. Um destes fatores é a
expansão do universo. O fato de que todas as galáxias estão se distanciando
umas das outras através do espaço indica que elas estiveram, em algum momento,
num ponto central.
Se alguém assume que todas as galáxias que nós vemos hoje
estão viajando para fora através das eras do tempo cósmico, numa mesma direção
relativa e numa mesma velocidade relativa – as distantes mais rápido, e as mais
próximas numa velocidade menor –, o corolário inicial que emerge disto é que
todas começaram do mesmo lugar e ao mesmo tempo.
Cálculos realizados com as medições atuais de sua taxa de
distanciamento indicam que sua jornada cósmica teve início a aproximadamente
cinco bilhões de anos. O fato extraordinário sobre este cenário é que isto
coincide com as recentes descobertas sobre a idade provável de substâncias
radioativas encontradas sobre a crosta terrestre, e a idade das mais antigas
estrelas segundo as modernas teorias sobre a evolução estelar. Todos os
indícios da ciência apontam para um tempo de criação quando o fogo cósmico foi
iniciado e o enorme desfile do universo presente veio a existir (Barnett,
Lincoln. “The World We Live
in: The Starry Universe” Life, Dezembro de 1954, p. 64).
Para
uma discussão adicional sobre a cronologia do universo, o leitor é referido a
Bernard Ramm’s The Christian View of
Science and Scripture, pp. 151-156 (Grands Rapids: Eeardmans, 1954).
3.
O Argumento Antropológico.
Os dois primeiros argumentos consideram provas derivadas do universo como um
todo. O argumento antropológico considera indicações da existência de Deus
derivadas do próprio homem.
A consciência humana testifica que existe um
Governante Moral, Legislador e Juiz. Sem a existência de Deus, a consciência do
homem não pode ser explicada. Augustus H. Strong escreveu:
A natureza
moral do homem prova a existência de um santo Legislador e Juiz. Os elementos
de prova são: (a) A consciência reconhece a existência de uma lei moral que tem
autoridade suprema. (b) Violações conhecidas desta lei moral são seguidas de
sentimento de desconforto e temor de juízo. (c) Esta lei moral, visto que não é
autoimposta, e estas ameaças de julgamento, visto não serem autoexecutáveis,
respectivamente demandam a existência de uma santa vontade que imponha a lei, e
um poder punitivo que execute as ameaças da moral natural” (Op. cit., p. 82).
O argumento para a existência de Deus
derivado da natureza moral do homem é apresentada em parte em um dos famosos
livros de C. S. Lewis, The Case for
Christianity (New York: Macmillan, 1951).
A natureza intelectual do homem prova a
existência de uma Primeira Causa inteligente. A natureza emocional do homem
indica a existência de Alguém que em Si mesmo é o objeto de satisfação da
afeição humana. O coração humano não encontra descanso “enquanto não descansar
em Deus” (Augustine), porque Deus fez o homem. O poder de escolha do homem
pressupõe a existência de um Ser que em Si mesmo é o alvo que atrairá as mais
nobres ações do homem e garantirá seus maiores progressos (Strong. Op. cit.,
pp. 81-83).
4.
O Argumento Ontológico.
Em adição aos três argumentos mencionados acima, existe mais um argumento
clássico para a existência de Deus. É o argumento Ontológico. Este argumento
busca provar que Deus é infinito a partir do fato de que o homem, que é finito
e imperfeito, tem a ideia de um Ser perfeito e infinito.
O argumento Ontológico foi proposto por Anselmo, Arcebispo de Canterbury (1693-1109), em seu Proslogium, por Descartes (1596-1650), em sua obra Meditations, e por Samuel Clarke (1705), em sua Demonstration of the Being and Atributes of God.
IV.
O Testemunho do Sobrenatural
A
autorrevelação de Deus para a humanidade através de eventos sobrenaturais
constitui uma indicação adicional de Sua existência. Deus deixou testemunhos de
Sua existência não apenas no universo material e na natureza moral do homem,
mas também na história de vida dos homens. A revelação de Deus sobre Si mesmo
através do sobrenatural torna implícita a Sua existência.
A Bíblia, como um livro divino, prova a
existência de Deus. Sem a existência de um Autor divino, a Bíblia não pode ser
explicada. O fato de este maravilhoso livro existir já prova a existência do
Seu autor. A Bíblia registra a autorrevelação de Deus à humanidade. A Bíblia,
portanto, é uma fonte autêntica de material para comprovar Sua existência.
O cumprimento de incontáveis profecias
bíblicas com detalhes minuciosos prova a existência de Alguém que previu estes
eventos (Isaías 45:21; 46:9-11). Milagres que ocorreram na história e foram
registrados na Bíblia somente podem ser explicados de forma satisfatória como
obra do poder sobrenatural de Deus.
A vida sobrenatural de Cristo, incluindo seu
nascimento singular, sua habilidade de realizar milagres e Sua ressurreição
para a imortalidade, indica a existência de Deus. Um ateu observou que nem
tanto a Bíblia, mas sim o Cristo da Bíblia era o que ele não conseguia
explicar.
A conversão cristã e a tremenda influência do cristianismo sobre o mundo
só podem ser explicadas pela existência de Deus. O testemunho de milhares de
pessoas que têm experimentado notáveis transformações indica a obra
sobrenatural de Cristo e a existência de Deus. Assim como se assegura a
existência do sol a um homem cego pelo calor de seu brilho, os cristãos
asseguram a existência de Deus pelo efeito transformador do Seu poder.
Pensando na forma como fomos formados, já é algo espantoso e maravilhosa. Não há como negar a existência de Deus.
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