Parte Três
HAMARTIOLOGIA
Capítulo XXIX
A Doutrina do Pecado
A terceira divisão da Teologia Sistemática é a Hamartiologia, a
doutrina do pecado. Essa divisão recebeu seu nome científico de hamartia, a palavra grega para pecado.
A doutrina do pecado segue naturalmente a doutrina de Deus e a
doutrina do homem. As duas primeiras formam o alicerce para a terceira. Deus,
homem, pecado - essa é a ordem lógica. Essa progressão de pensamento pode ser
encontrada nos temas dos três primeiros capítulos da Bíblia. Gênesis 1 diz
respeito a Deus, o Criador; Gênesis 2 descreve a formação do homem; Gênesis 3
relata a origem do pecado.
A Teologia revela Deus como Criador. A Antropologia revela o homem
como criatura de Deus. A Hamartiologia mostra a raça humana se revoltando
contra o único Deus. O pecado designa o rompimento da relação entre a criatura
e o Criador, homem e Deus.
Antropologia e Hamartiologia estão conectadas. Em Antropologia nós
estudamos a natureza física do homem; em Hamartiologia nós estudaremos a
natureza moral do homem. A Antropologia mostrou a relação do homem para com
Deus, o doador da vida; a Hamartiologia mostrará a sua relação com o Rei,
Legislador e Juiz. A anterior figura o homem como mortal; a última o representa
como pecador. Como mortal, o homem precisa de Cristo como a Ressurreição e a
Vida. Como pecador, o homem precisa de Cristo como Sacrifício e Senhor. A
Antropologia mostra a necessidade da ressurreição de Cristo para a
imortalidade. A Hamartiologia mostra a necessidade da morte de Cristo como o
Sacrifício pelo pecador.
A doutrina do pecado está intimamente associada à doutrina da
salvação. Salvação é o processo mediante o qual Deus salva o homem do pecado e
seus resultados. Pecado é a doença; salvação é o remédio. Pecado é o problema;
salvação é a solução. Pecado é a pergunta; salvação é a resposta. Foi o homem
que pecou; é Deus quem salva. Hamartiologia mostra a necessidade de salvação do
homem; Soteriologia revela a providência de Deus para a salvação através de
Cristo.
I. A Realidade do Pecado
O pecado é uma realidade trágica. Ele não é uma ilusão; ele
realmente existe. Esse fato é reconhecido pela Bíblia, consciência, religiões
da humanidade, histórias das nações, governos e literatura.
A Bíblia é um livro escrito em grande parte sobre pecadores. Ela
relata a história do pecado do primeiro homem, a terrível consequência do
pecado na história humana e o triunfo final sobre o pecado e sua remoção do
universo. A Bíblia descreve o homem como indivíduo, e a totalidade da raça humana
como estando em pecado e sob condenação.
Algumas vezes os fotógrafos retocam fotografias para remover
marcas, manchas e verrugas, mas a Bíblia mostra o homem como ele é. Ela não se
empenha em ocultar as falhas de seus heróis. Ela registra a embriagues de Noé,
a mentira de Abraão, o assassinato e adultério de Davi, a negação de Pedro. Ela
mostra os homens assim como eles são.
A Bíblia é um livro escrito para pecadores. A mensagem do
evangelho para arrependimento e salvação é endereçada aos pecadores. Ela direciona
os homens para o Cordeiro de Deus, que Se entregou para salvar o perdido. A
Bíblia em todo lugar mostra o pecado como real e trágico.
O fato de que o pecado é uma realidade é reconhecido pelo
testemunho da consciência e do julgamento geral da humanidade. Muitas pessoas
compreendem que elas não são o que deveriam ser. Em momentos de completa
honestidade, eles se reconhecem como pecadores. Julgando a si mesmo, o homem
encontra culpa e condenação.
As religiões da humanidade pressupõem a existência do pecado. Essa
verdade pode ser vista pelo fato de que os sacrifícios com sangue, sacerdócios
e penitências sempre foram fatores importantes nas maiores religiões do mundo.
O reconhecimento do pecado pode explicar o grande sentimento de tristeza que caracteriza
as religiões pagãs. Os pagãos conhecem o pecado, mas não o seu remédio.
O pecado é algo real? Perguntam os historiadores. A história das
nações é, em grade parte, um registro da impiedade humana e da espantosa
consequência do pecado. O fato de que uma guerra existiu, em tudo indica que
alguém pecou. Se alguém removesse dos relatos históricos todos os incidentes
que de alguma forma estão relacionados ao pecado humano, pouca história restaria.
Os governos humanos sabem que o pecado existe. Eles reconhecem a
natureza pecaminosa do homem. Sendo assim, eles editam leis e impõem
penalidades no esforço de coibir a influência do pecado nas relações sociais.
Se não houvesse pecado, não haveria a necessidade de leis, algemas, polícias e
prisões; não haveria necessidade de proteção pessoal contra o crime.
A literatura descreve o pecado como realidade. O pecado geral da
humanidade é retratado na ficção e não ficção, poesia e prosa. Algum pecado
humano está associado ao enredo de quase todo drama ou história. Pode ser a
ganância ou a inveja. Pode ser o assassinato ou a luxúria. Pode ser o egoísmo
ou a vingança. O pecado como um fato está reconhecido por todo tipo de
literatura, seja na mitologia grega, Shakespeare ou na ficção moderna.
Além disso, a realidade do pecado é um fato observado na vida
diária. Podemos observar em quase todos os lugares, em qualquer tempo, e ver
alguma evidência ou resultado do pecado. O pecado é uma trágica realidade.
II. A Universalidade do Pecado
O pecado é universal. Todos os homens são pecadores; tudo no homem
é pecaminoso. O pecado é universal entre os homens; ele é pleno dentro do
homem. Se alguém desenhasse um círculo para indicar os justos, o círculo
deveria ficar vazio. Todos estariam excluídos. Se alguém desenhasse um círculo
para indicar os pecadores, ele estaria cheio. Todos deveriam ser incluídos.
A universalidade do pecado é claramente ensinada por posições
diretas na Bíblia. Todos os homens por nascimento natural são pecadores.
Nota-se, é claro, que Jesus é uma exceção. “Mas todos nós somos como o imundo,
e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a
folha; e as nossas culpas como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64:6). “Todo o
mundo está no maligno” (1 João 5:19).
1 Reis 8:46 Não
há homem que não peque
Salmos 14:2,3 Não há quem faça o bem
Salmos 53:1-3 Não há
ninguém que faça o bem
Salmos 130:3 Quem
subsistirá?
Salmos 143:2 Justo
nenhum vivente
Provérbios 20:9 Quem
poderá dizer, limpo estou do meu pecado?
Eclesiastes 7:20 Não
há homem justo sobre a terra
Isaías 53:6 Todos
nós andávamos desgarrados como ovelhas
Romanos 3:9 Todos
estão debaixo do pecado
Romanos 3:10 Não há
um justo
Romanos 3:12 Não há
quem faça o bem
Romanos 3:19 Toda
boca esteja fechada, todo mundo seja condenável
Romanos 3:23 Todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus
Romanos 5:12 Todos
pecaram
Gálatas 3:22 Tudo
debaixo do pecado
Tiago 3:2 Porque
todos tropeçamos em muitas coisas
1 João 1:8,10 Se
dissermos que não temos pecado
O fato de que o pecado é universal está implícito no ensinamento
bíblico de que todos os homens sem Cristo estão sob condenação e ira. “Aquele
que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”
(João 3:36). “Éramos por natureza filhos
da ira, assim como os outros” (Efésios 2:3). “Portanto és inexcusável quando
julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em
que julgas o outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo” (Romanos 2:1). Todos os
homens estão debaixo de condenação perante Deus, pois todos os homens são
pecadores.
A necessidade de arrependimento é universal porque o pecado é
universal entre todos os homens. “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da
ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se
arrependam” (Atos 17:30). O fato de
que Deus ordena a todos os homens o arrependimento revela que todos os homens
são pecadores.
A verdade de que Cristo morreu por todos os homens mostra que
todos os homens são pecadores e necessitam da expiação que Ele providenciou.
Jesus é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29). “Ele é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos
de todo o mundo” (1 João 2:2). “O qual se deu a si mesmo em preço de redenção
por todos” (1 Timóteo 2:6). O fato de que o evangelho deveria ser pregado a
“toda criatura” (Marcos 16:15) mostra que todos os homens são pecadores e
necessitam ouvir o evangelho.
III. A Culpa do Pecado
O pecado envolve culpa. Como pecadores, todos os homens são
culpados diante de Deus. O pecado é um fator em suas vidas, pelo qual são
responsáveis e culpados. Eles merecem condenação e punição. Eles são “dignos de
morte” (Romanos 1:32).
A culpa tem duplo significado: 1) A culpa refere-se ao fato de que
o pecador realmente peca. Ele é um pecador pelo que ele é e pelo que tem feito.
Ele não é inocente; ele é culpado. 2) A culpa significa que a pessoa que comete
pecado merece punição. Ele é obrigado a satisfazer os requisitos da justiça de
Deus pelo pagamento da penalidade do pecado.
O primeiro significado da culpa é designado em Teologia como reatus culpae; o segundo significado,
como reatus poenae. É com o segundo
significado que a Teologia mais se ocupa.
Quando a Bíblia explica que a lei foi dada para que “toda boca
esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus” (Romanos 3:19),
ela se refere ao segundo significado de culpa.
A culpa, portanto, designa a relação do transgressor com o governo
moral de Deus. Ela se refere à condição e posição do pecador tendo em vista o
fato de que ele tem violado os padrões morais de Deus. As leis morais são
expressões dos atributos morais característicos de Deus: santidade, amor e
verdade. O pecado contradiz a própria natureza de Deus. A atitude divina em
relação ao pecado deve ser condenação e ira. O santo governo de Deus sobre o
universo, portanto, requer a morte como pena para o pecado.
Dizer que o pecador é culpado diante de Deus é dizer que ele é
objeto de desaprovação e condenação. Ele está exposto à ira de Deus, que é
revelada do céu pelo evangelho contra todos os ímpios e injustos (Romanos
1:18). Ele merece a punição; ele está obrigado a satisfazer a justiça de Deus.
A culpa do pecador somente pode ser removida pelo pagamento da
pena pelo pecado, que é a morte. A pena pelo pecado pode ser paga pessoalmente pelo pecador sendo
destruído na segunda morte, ou pode ser paga vicariamente pelo sacrifício de Cristo.
A primeira morte não remove a culpa do pecador. O pagamento
completo pelo salário do pecado será efetuado pelo pecador quando ele for
destruído na segunda morte. Ressurgindo para a vida na ressurreição final, os
pecadores ainda estarão sob a condenação de Deus e Sua ira. O fato de suas
culpas não terá mudado. Eles ainda serão culpados pelos pecados que cometeram
nesta vida. Eles serão julgados de acordo com as obras pecaminosas que tiverem
cometido hoje. Na segunda morte, a pena pelo pecado será paga, mas o pecador
terá sido destruído.
Através do Seu plano de salvação, Deus providenciou um meio pelo
qual a pena do pecado pudesse ser paga, e o pecador perdoado pudesse viver pela
eternidade. Jesus, o imaculado Filho de Deus, voluntariamente se tornou o
substituto do pecador. Sendo sem pecado, Jesus estava sem culpa pessoal. O fato
d’Ele ser o perfeito Filho de Deus deu infinito valor ao Seu sacrifício. Sua
morte, portanto, poderia ser a substituta não apenas de um pecador, mas de um
número infinito de pecadores. Em outras palavras, o Cordeiro de Deus potencialmente suportou a culpa e pagou
a pena do pecado de toda a raça humana. Porém, na realidade, os benefícios de
Seu sacrifício se tornam realmente eficazes
na vida do pecador somente quando ele se relaciona adequadamente com Cristo
através da conversão. O sacrifício de Cristo providenciou a base pela qual Deus
pode remover nossa culpa e nos declarar justificados. Quando nós nos unimos a
Cristo, Deus efetivamente remove nossa culpa e imputa sobre nós a justiça de
Cristo. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nEle,
fôssemos feitos justiça de Deus” (II Coríntios. 5:21).
O pecado e a culpa imputados a Cristo não eram reatus culpae; mas sim a reatus poenal. A culpa imputada ao nosso
Substituto foi a culpa em seu segundo significado. Aquela culpa que refere-se
ao fato histórico que o pecador pecou nunca poderá ser transferida para outra
pessoa. Fatos são fatos. Mesmo tendo a pessoa pecado ou não. O fato histórico é
algo que pode ser lamentado, mas não pode ser mudado. Embora o pecador possa
ser perdoado e justificado, o fato de que o pecador efetivamente pecou nunca
pode ser alterado. Quando um homem experimenta a salvação, Deus retira a culpa
como digna de punição, mas ele não reescreve a biografia do pecador e
estabelece que ele nunca pecou. Algumas nações tentam reescrever a história
distorcendo fatos, negando a ocorrência de certos eventos e reivindicando a
honra que pertence a outros. A salvação pessoal permite que alguém mude as
possibilidades do seu futuro, mas não que reescreva fatos históricos da vida,
que já aconteceram. Pela eternidade, nada pode mudar o fato de que o crente
glorificado um dia foi um pecador.
A culpa que é imputada a Cristo e removida daqueles que estão em
Cristo é o que torna alguém obrigado a pagar a pena pelo pecado. Quando alguém
está em Cristo, ele não está mais debaixo da desaprovação e da ira de Deus.
“Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”
(Romanos 8:1).
Todos os homens são pecadores; todos os homens são culpados
perante Deus. Ninguém nasce naturalmente como um cristão. Ninguém, exceto
Jesus, nasceu justo, sem a culpa do pecado. O mundo todo é culpado diante de
Deus. Todo indivíduo nasce no círculo negro do pecado e da condenação. Sem o
sacrifício de Cristo, os pecadores estão “sem Cristo, separados da comunidade
de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus
no mundo” (Efésios 2:12). Os homens permanecem debaixo da condenação e da ira
de Deus até que pessoalmente conquistem uma relação redentora com Cristo.
IV. A Negação da Responsabilidade
O pensamento moderno nega a responsabilidade e a culpa humana pelo
pecado. Alguns homens afirmam que o pecado não existe. Eles indicam que os
padrões da Bíblia para o certo e o errado não possuem autoridade divina, que
esses padrões são simples costumes criados pelos homens e tabus que várias
sociedades inventaram e transmitiram para as sucessivas gerações. As violações
dessas leis, insistem eles, não podem ser rotuladas como pecado.
Alguns homens negam a responsabilidade humana pelo pecado situando
o pecado na sociedade, ao invés de situá-lo no indivíduo. Eles declaram que uma
pessoa pode ser um pecador, mas ele não é responsável por seus pecados. Sua condição
pecaminosa é uma falha da sociedade como um todo. Eles afirmam, portanto, que
ninguém terá que responder por qualquer pecado pessoal. De acordo com esse
ensinamento, a culpa não é um tema individual; o pecado é meramente uma infeliz
condição da sociedade.
A negação da responsabilidade humana pelo pecado é evidenciada
quando se considera as muitas falsas definições do pecado. Os homens têm
transmitido falsas definições do pecado na tentativa intelectual de satisfazer
as acusações de suas consciências.
1. Herdado de um Ancestral Bruto. Muitos evolucionistas declaram que, aquilo que a Bíblia designa
como pecado, nada mais é que uma inevitável condição do homem herdada de seus
ancestrais animais. Eles dizem que o homem não é responsável por esta infeliz característica
que lhe foi imposta pelo processo de evolução. Ensinam que os homens são como
tigres e macacos porque têm um ancestral animal. Se há alguma culpa ligada à
nossa forma de agir, insistem esses homens, esta deve repousar sobre os
ancestrais animais.
Esta falsa teoria define a salvação como obra do processo de
evolução dentro da mente humana, pelo qual o homem é transformado da semelhança
animal para semelhança de Deus. O pecado de Adão no Jardim do Éden, de acordo
com essa visão, não representa uma queda, mas sim uma ascendência. Aqueles que
ensinam essa teoria afirmam que quando o homem comeu do fruto proibido, ele
subiu mais um degrau na direção da semelhança com Deus. Eles ensinam que
naquele dia o homem deixou de ser animal e se tornou um homem. John Fiske
escreveu em sua obra Destiny of Man:
“O pecado original não é mais nem menos que a herança bruta que todo homem
carrega consigo e o processo de evolução é um avanço na direção da verdadeira
salvação” (Citado por James Orr, The
Christian View of God and the World. Grand Rapids: Eerdmans, 1948, pág.
168, 169).
2. Consequência Natural do
Crescimento. Uma outra falsa definição diz
que o pecado nada mais é que variações naturais da conduta esperada para
acompanhar as várias fases do crescimento humano. Das crianças, eles dizem,
espera-se que tropecem no aprendizado de andar. Da mesma forma, espera-se dos
homens o pecado, insistem eles, como uma consequência natural do processo de
crescimento. De acordo com essa explicação, o pecado é uma condição infeliz, e
os pecadores são dignos de pena, mas o pecado em si mesmo é inevitável. Os
pecadores, de acordo com esse ponto de vista, estão sem culpa; o pecado é como
uma enfermidade adquirida pelos homens, mas pela qual eles não são
responsáveis. Essa teoria descreve o pecado como uma tragédia da natureza, e os
pecadores como vítimas infelizes.
3. Desajuste Psicológico. Boa parte da psicologia moderna nega a existência do pecado.
Sentimentos de culpa são explicados como desajuste psicológico. As acusações da
consciência são explicadas como resultado de eventos infelizes que ocorreram
durante a infância ou de temores ocultos na mente subconsciente. Um sentimento
de culpa, de acordo com alguns psicólogos, resulta não do pecado pessoal, mas
de uma condição mental anormal. Eles sugerem que pessoas experimentando esse
sentimento de culpa deveriam livrar-se de todas as suas inibições e permitir a
livre expressão de sua natureza interior.
4. Uma Ilusão. Muitos cultos modernos explicam o pecado como uma ilusão, uma
irrealidade. De acordo com essa teoria, o pecado, juntamente com a doença e
morte, não existem realmente. Como fantasmas e duendes, essas coisas são
descritas como existentes somente na imaginação do homem. De acordo com essa
visão, os homens podem ser salvos dessas ilusões pelo reconhecimento de que
elas não existem. Entre os cultos que defendem essa teoria estão a Ciência
Cristã, Igreja da Unidade, Igreja da Ciência Divina e o Espiritualismo.
Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã, escreveu: “O homem é
incapaz de pecar, adoecer e morrer. Para anular a afirmativa do pecado, você
deve detectá-lo, remover sua máscara, eliminar a ilusão e assim obter a vitória
sobre o pecado, provando que ele é irreal” (Eddy, Mary Baker. Science and Health With Key to the Scripture.
Boston: Allison V. Stewart, 1917, pág. 475, 447 - disponível em português com o
título Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras).
5. Pecado Inerente à Matéria. Essa falsa teoria identifica o pecado com a matéria. De acordo
com essa teoria, os homens são pecadores porque eles têm corpos materiais, o
corpo é a prisão ou sepultura da alma. Escapar do pecado, de acordo com essa
visão, somente é possível através da libertação do corpo. Essa teoria dá a
entender que o Criador do corpo humano seja o autor do pecado. Essa falsa
teoria está na base da teoria de Platão. Ela é encontrada no Budismo e Zoroastrismo,
tendo sido ensinada por alguns Gnósticos e Maniqueístas.
Alguns homens declaram: “Não é nossa culpa o fato de pecarmos.
Visto que temos corpos mortais, não há como escaparmos do pecado. Não há nada
que possamos fazer a respeito”. Porém, a mortalidade em si mesma não é o
pecado. O homem peca, não porque ele tem um corpo mortal e material, mas porque
ele é governado por si mesmo, ou seja, pela mente carnal. Cristo era mortal
antes de sua ressurreição, mas Ele não pecou. A matéria em si não é pecaminosa,
ela é neutra.
6. Finitude. Alguns filósofos, incluindo
Gottfried Leibnitz, em sua obra Teodiceia,
e Benedito Spinoza em sua obra Ética,
insistem que o pecado é meramente a ausência da justiça; é uma negação. Deus,
que tem justiça ilimitada, é infinito. O homem finito, eles analisam, tem
pecado porque é limitado em existência. As limitações do homem são inevitáveis;
e o pecado, afirmam eles, é uma consequência necessária dessa limitação. Essa
teoria, como outras falsas definições, busca remover o senso de culpa e deixar
o homem sem responsabilidade moral. O pecado não resulta das limitações do
homem, mas porque ele é um homem caído, dominado por si mesmo ou pela mente
carnal.
7. Uma Necessidade. De acordo com uma outra falsa teoria, o pecado é uma necessidade;
o pecado condiciona alguém para a justiça. Essa visão foi mantida pelo filósofo
George W. F. Hegel. Os homens que creem nessa teoria ensinam que toda vida se
desenvolve de acordo com a lei da oposição necessária ou antagonismo. Toda a
existência é baseada na lei da ação e reação. Eles consideram que alguém deve
ter escuridão para alcançar a luz; alguém deve ter miséria para alcançar
felicidade; alguém deve pecar para alcançar a justiça. Um mundo moral sem
pecado, dizem eles, é impossível de existir; o pecado deve existir.
Todas essas falsas teorias negam que o homem seja responsável pelo
pecado. Elas negam que o homem está diante de Deus como culpado, debaixo de
condenação e ira.
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