segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Capítulo LXX - As Ordenanças da Igreja


Capítulo LXX

As Ordenanças da Igreja

As ordenanças da Igreja são aqueles rituais simbólicos que Cristo instruiu a Igreja a observar perpetuamente e universalmente durante a Era da Igreja. As duas ordenanças da Igreja, batismo e Santa Ceia, são estabelecidas como verdades centrais da fé cristã. Os rituais simbólicos são válidos e eficazes somente quando trazem significado para aquele que participa deles. O batismo e a Santa Ceia não são obras de magia; são cerimônias externas revelando a realidade espiritual interior. Uma ordenança é aquilo que foi “ordenado ou apontado”. Batismo e Santa Ceia são ordenanças porque Cristo ordenou ou mandou que esses ritos fossem observados na Igreja.

Quakers, Unitarianos e alguns outros grupos não aceitam ordenanças ou sacramentos. Católicos Romanos, Católicos Ortodoxos do Oriente e muitos Episcopais, por outro lado, observam sete sacramentos: batismo, comunhão, confirmação, penitência, extrema unção, matrimônio e ordenação. Eles ensinam que esses sacramentos contêm e conferem a graça e que eles têm uma virtude inerente em si mesmos, independente do caráter daquele que administra ou recebe esses sacramentos. Entretanto, de acordo com a Bíblia, existem somente duas ordenanças instituídas por Cristo: batismo e Santa Ceia. Essas ordenanças foram dadas por comando específico de nosso Senhor, e devem ser observadas universalmente em todas as congregações locais e perpetuamente até que Cristo volte.

Batismo e Santa Ceia revelam a relação espiritual entre o crente e Cristo. Denotam identificação, união e amizade. Elas retratam as ricas bênçãos espirituais que resultam da relação redentora do crente com Cristo. O batismo, se aplicado de forma correta, é ministrado ao crente uma única vez. É eternamente eficaz; nunca tem a necessidade de ser repetido, isto é, se o crente foi batizado segundo as escrituras. A Santa Ceia, por outro lado, deve ser repetida; deve ser observada frequentemente. “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26). O batismo figura o estabelecimento desta relação de redenção. A Santa Ceia figura a continuação desta relação redentora. De certa forma, o que começa no batismo é continuado na comunhão. O batismo retrata a entrada do crente em Cristo (Gálatas 3:27); Santa Ceia retrata a entrada de Cristo no crente.

O batismo e a Santa Ceia empregam fatores externos, visíveis e tangíveis. O batismo requer água; a Santa Ceia requer pão e o fruto da videira. O batismo envolve a imersão do crente na água. A Santa Ceia ou comunhão envolve a ação do crente em comer um pedaço do pão e beber o conteúdo do copo. O crente se submete ao batismo; ele toma e come, e toma e bebe da Santa Ceia. Os fatores externos, visíveis e tangíveis dessas duas ordenanças da Igreja revelam as realidades interiores, invisíveis e espirituais. A imersão do crente na água demonstra sua identificação com a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo. O comer do pão e o beber do cálice demonstram a lembrança do crente da morte de Cristo e da sua presente união com Ele.


I. O Batismo

Batismo é a imersão do crente na água. Ele simboliza sua crença de que Cristo morreu por seus pecados, foi sepultado e novamente levantou. Ele indica que o crente entrou numa relação pessoal e vital com Cristo, e que tomou posse para si mesmo dos benefícios da morte sacrificial de Cristo. O batismo é o ritual simbólico onde o crente retrata o fato de que a velha vida foi dada como morta e sepultada, e que ele se levanta para a novidade de vida em Cristo. Somente a imersão, única forma válida de batismo, retrata o que o batismo simboliza. Para uma consideração detalhada do assunto “Batismo” veja o Capítulo LVI.


II. A Santa Ceia

A Santa Ceia é o rito simbólico da Igreja onde o crente participa do partir do pão e do cálice em lembrança da morte sacrificial de Cristo. O pão representa o corpo de Cristo; o fruto da vide no cálice representa o sangue de Cristo. A comunhão (1 Coríntios 10:16) é também conhecida como a mesa do Senhor (1 Coríntios 10:21), a Ceia do Senhor (1 Coríntios 11:20) e o Cálice de Bênção (1 Coríntios 10:16). A palavra “comunhão” é utilizada diversas vezes no Novo Testamento. Comunhão significa “união comum”. Embora tenha sido instituída no tempo da Festa da Páscoa, a Santa Ceia não é a Páscoa Judaica. Cristo instituiu a Santa Ceia na noite anterior à sua crucificação (Mateus 26:26-30; Marcos 14:22-26; Lucas 22:19,20). Paulo explicou o significado da Santa Ceia (1 Coríntios 11:23-26) e a maneira apropriada de participar dela (1 Coríntios 11:27-34).

A Santa Ceia está relacionada ao tríplice ministério de Cristo: Seu ministério terreno no passado, Seu ministério celestial no presente e Seu novo ministério terreno no futuro. Os crentes participam da Santa Ceia, antes de tudo, em memória da morte sacrificial de Cristo. Ele disse: “Fazei isto em memória de mim” (1 Coríntios 11:24,25). Os redimidos sempre se lembrarão de que eles são somente pecadores salvos pela graça de Deus e pelo sangue de Cristo. A Santa Ceia também é um testemunho do ministério celestial de Cristo. Participando do pão e do cálice, o crente testifica da constante amizade que mantém, ou gostaria de manter, com o seu vivo Senhor. O cálice representa o sangue de Cristo como poder de vida concedido, o qual os cristãos recebem momento após momento do seu Senhor ressuscitado. A vida está no sangue (Levítico 17:11). Momento após momento, o poder da vida concedido por Cristo flui de Seu coração para a vida do cristão. O crente tem novidade de vida e poder para o serviço porque Cristo constantemente o supre com estas bênçãos. O pedaço de pão revela que o crente é parte da Igreja, o corpo de Cristo. O cálice mostra que ele recebe novidade de vida do Cristo vivo. A Santa Ceia é também profético do novo ministério terreno de Cristo. Jesus disse: “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele Dia em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai” (Mateus 26:29). Paulo escreveu: “todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha” (1 Coríntios 11:26).


III. Teorias a Respeito da Comunhão

1. Transubstanciação. A Igreja Católica Romana ensina que, durante a missa, o pão é transformado no verdadeiro corpo de Cristo e que o vinho é transformado no verdadeiro sangue de Cristo. Aqueles que acreditam nesta teoria da transubstanciação sustentam que essa mudança é produzida através das palavras do sacerdote no ato da consagração. De acordo com essa visão, o pão e o vinho retêm suas propriedades físicas enquanto a substância é transformada no corpo e no sangue reais de Jesus. Os Católicos Romanos afirmam que cada missa é uma nova oferta do sacrifício de Cristo “sem sangue”, e que participando do “sacrifício da missa”, os que comungam recebem a graça salvadora de Deus. Somente o sacerdote oficiante bebe o vinho; os que comungam recebem somente o pão. A transubstanciação foi declarada como um artigo de fé na Igreja Romana pelo Papa Inocente III e pelo quarto Concílio de Latão, em 1215 d.C.

2. Consubstanciação. A Igreja Luterana defende a teoria da consubstanciação. De acordo com essa visão, o crente participa do verdadeiro corpo e sangue de Cristo na Ceia do Senhor; o pão e o vinho são imutáveis, mas o corpo de Cristo é real, bem como Seu sangue estão presentes “em, com e sob” o pão e vinho. Os defensores dessa teoria explicam que a pessoa inteira, o corpo e o sangue de Cristo, estão fisicamente presentes em, com e sob o pão e o vinho porque o Cristo glorificado é onipresente. Eles ensinam que o corpo e sangue reais de Cristo são recebidos através da boca do que comunga, sendo ele crente ou não; o descrente os recebe para sua própria condenação. Contrários à Igreja Romana, eles ensinam que a presença de Cristo nos emblemas da Santa Ceia não é permanente, mas cessa quando finda o sacramento.

3. A Visão de Zwingli. Zwingli, como um reformador ativo na Suíça durante os anos de 1518-1531, ensinou que o pão e o vinho na Ceia do Senhor são meramente memoriais do Cristo ausente. Os elementos da comunhão comemoram o sacrifício de Cristo e simbolizam a fé do crente. Cristo está presente no culto somente como está presente na mente dos adoradores. Nos anos posteriores, Zwingli mudou seu ponto de vista e ensinou que Cristo está presente de uma maneira espiritual na Ceia do Senhor.

4. A Visão Reformada. A teoria reformada da Ceia do Senhor parece ser a visão evangélica geralmente aceita pela Igreja Protestante. Essa visão rejeita o ensino Católico Romano da transubstanciação, isto é, que a substância do pão e do vinho seja transformada no verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Quando Jesus disse: “Este é o meu corpo”, ensina a visão reformada, Ele ensinou que o pão representa Seu corpo. A visão reformada também rejeita o ensino Luterano que prega a consubstanciação, isto é, que o verdadeiro corpo e sangue de Cristo estejam juntamente presentes em, com e sob o pão e o vinho. A visão reformada insiste que não existe o partilhar físico de Cristo através da boca do crente. Contrária à visão primária de Zwingli, a visão reformada sustenta que a Ceia do Senhor é mais do que uma festa memorial. Cristo está presente na Santa Ceia através do Seu poder, o Espírito. No partilhar do pão e do vinho mediante a fé, o crente figura não somente a lembrança do sacrifício de Cristo e sua dívida impagável para com Ele, mas também que Cristo lhe deu novidade de vida, força espiritual e bênçãos. De acordo com essa visão, a Ceia do Senhor é um meio de graça. Como a oração e o estudo da Bíblia, a Santa Ceia provê uma via pela qual Deus pode conceder bênçãos espirituais e graça sobre o coração do crente. Porém, receber força espiritual, “alimento” de Cristo e participar dos benefícios do sacrifício de Cristo não estão limitados ao culto de Santa Ceia. Essas bênçãos têm lugar momento após momento na vida do crente através do poder de Cristo.

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