CAPÍTULO XVII
O Governo de Deus sobre o Universo
O Governo de Deus sobre o Universo
Deus não é só a fonte da existência, mas Ele é também o
governador do universo. Todas as coisas criadas estão sujeitas ao governo de
Deus.
Existem três ramificações ou funções de governo. São elas a
executiva, legislativa e judiciária. O ramo executivo do governo cumpre a lei,
o legislativo cria a lei; e o judiciário interpreta a lei.
No governo dos Estados Unidos, a função executiva do
governo está investida na presidência; a função legislativa está investida no
congresso; e a função judiciária está investida na Suprema Corte.
De forma semelhante, o governo de Deus sobre o universo
inclui estes três ramos de administração. “Porque o Senhor é nosso Juiz; o
Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei; ele nos salvará”. ( Isa.
33:22 ). Este é o verso chave deste capítulo.
No estudo do governo de Deus sobre o universo, nós vamos
considerar as posições e obras de Deus como Rei, Legislador e Juiz. A posição
de Deus como Rei refere-se à função de governo executiva; Sua posição como
legislador refere-se à função legislativa; Sua posição como Juiz refere-se a
função judicial. Portanto, o governo de Deus sobre o universo é completo.
I. Rei
Deus é o Rei do universo. “O seu reino domina sobre tudo”.
Toda criatura existe dentro dos limites de Seu governo. Toda pessoa deve viver
em obediência a Ele.
Os governantes terrenos têm o direito de governar somente
porque Deus como Rei lhes outorgou este privilégio. Os governantes terrenos na sua
totalidade têm falhado em reconhecer o supremo reinado de Deus. Eles provaram-se
indignos de governar. Deus autorizou Seu filho, Jesus Cristo, a ser o Rei
eterno na terra. Quando Cristo retornar à terra, os governos humanos serão
compelidos a se submeter ao Seu governo. Ele será reconhecido como Rei dos reis
e Senhor do senhores.
1 Timóteo 1:17 Ao
Rei dos séculos, imortal
1 Timóteo 6:15 Bem
aventurado e único poderoso Senhor
Atos 17:24 Senhor
do céu e da terra
1 Crônicas 29:10-13 Teu
é, Senhor, o reino
Apocalipse 19:6 O
Senhor, Deus Todo-Poderoso, reina
Êxodo 15:18 O
Senhor reinará eterna e perpetuamente
Salmos 10:16 O
Senhor é Rei eterno
Salmos 22:28 Ele
domina entre as nações
Salmos 29:10 O
Senhor se assenta como Rei perpetuamente
Salmos 47:2,7,8 Rei
grande sobre toda a terra
Salmos 93:1,2 Vestido
de majestade
Salmos 96: 10 O
Senhor reina!
Salmos 97:1 O
Senhor reina. Regozije-se a terra
Salmos 99:1 O
Senhor reina; tremam as nações
Salmos 103:19 O
seu reino domina sobre tudo
Salmos 145:11-13 O
teu domínio estende-se a todas as gerações
Isaias 6:5 O
Rei, o Senhor dos Exércitos
Isaias 43:15 O
Criador de Israel, vosso Rei
Jeremias 46:18 Cujo
nome é o Senhor dos Exércitos
Jeremias 10:10 O
Rei eterno
Daniel 4:3 O
seu reino é um reino sempiterno
Daniel 4:17,25,32 Tem
domínio sobre os reinos dos homens
Daniel 5:21 Tem
domínio sobre os reinos dos homens
Daniel 4: 34, 35, 37 Cujo
reino é de geração em geração
Daniel 6:26 O
seu reino não se pode destruir
Daniel 7: 14,18,27 Deu
o reino ao Seu filho
1 Coríntios 15: 28 Deus
será tudo em todos
II. Legislador
Deus governa o universo de acordo com princípios, padrões e
leis não escritas. Podemos observar um padrão ordenado através da natureza,
desde a estrutura dos átomos até o movimento das estrelas. “O Senhor é o nosso
Legislador”. (Isa. 33:22). Ele estabeleceu regulamentos de acordo com os quais
Sua criação deve funcionar.
As leis que governam o universo material, como o
crescimento das plantas, a gravidade, a eletricidade, correntes de ar e o movimento
do sistema solar, são chamadas de leis
naturais. As leis que governam o universo moral, como a relação do homem
com Deus, com seu vizinho e consigo mesmo, são chamadas de leis morais. As ciências naturais, como a astronomia, geologia,
física, química e biologia, tratam do estudo das leis naturais. A teologia
bíblica trata do estudo das leis morais.
As leis naturais e morais são igualmente eficazes. O Deus
da natureza e o Deus da Bíblia são um. O Criador também é também o governador
moral. A lei natural e a lei moral originam-se em Deus. Ele é o legislador de
ambas. Ninguém pode violar com segurança as leis morais tanto quanto não se pode
violar as leis naturais do universo. A violação resulta em destruição final.
As leis naturais e morais estão relacionadas aos atributos
morais e naturais de Deus. As leis naturais do universo físico revelam em
alguma extensão os atributos naturais de Deus. As leis morais governando o
homem expressam os atributos morais de Deus.
Os princípios morais de Deus expressam Seu caráter moral.
Deus não poderia alterar Seu padrão moral sem mudar Seu próprio caráter. O
pecado é a falha em se conformar às leis morais de Deus. O pecado é contrario
ao próprio Deus; portanto, Deus deve desaprovar o pecado, e o resultado do
pecado deve ser a destruição. Esta não é uma lei arbitrária de Deus; a vida foi
feita desta forma. O homem em pecado está fora de sintonia com o caráter de
Deus.
A. H. Strong observou que a lei implica oito elementos: (1)
um legislador, ou vontade autoritária; (2) objetos ou seres sobre os quais esta
vontade se encerra; (3) um comando geral, ou expressão desta vontade; (4) poder
para impor o comando; (5) dever ou obrigação
a obedecer; (6) sanções, sofrimento ou penalidade pela desobediência;
(7) que a lei seja uma expressão da
natureza do legislador, e (8) que a lei estabeleça a condição ou conduta dos
sujeitos, aos quais é requisito de harmonia com aquela natureza. (Op. cit., pp.
533-549).
Através de seus próprios esforços o homem não pode ser
conforme as leis morais de Deus e acatar Sua perfeita retidão. “Não há um
justo, nem um sequer”. Os homens são naturalmente pecadores. Jesus Cristo,
porém, obedeceu perfeitamente as leis morais de Deus. Sua vida refletiu com
perfeição os atributos morais de Deus: santidade, amor e verdade. Ele era sem
pecado. Ele teve a retidão perfeita.
Quando o crente se rende ao Cordeiro de Deus, o pecado do
crente é imputado a Cristo e a retidão de Cristo é imputada ao crente. (2 Cor.
5:21). Com base na justiça imputada, Deus declara que o crente está
justificado. A justiça imputada ao crente na conversão é na verdade transmitida
ao crente gradualmente na medida em que Cristo tem permissão para exercer
influência na sua vida. O fruto do Espírito (Gal. 5:22,23) é a retidão transmitida.
É a retidão de Cristo produzida na vida do crente que se entregou.
Nenhum homem pode ser salvo pela guarda da lei. Ele só pode
ser salvo ao se tornar apropriadamente ligado a Cristo, o Salvador. A retidão
que conta para Deus é a retidão de Cristo imputada ao crente e transmitida para
dentro do crente. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem
de vós; é dom de Deus. Não vem das obras,
para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua”. (Efe. 2:8-10).
III. Juiz
A terceira função do governo de Deus é a judicial. Em Seu
relacionamento executivo, Deus é Rei; no Seu relacionamento legislativo, Deus é
Legislador; em Seu relacionamento judicial, Deus é Juiz. “O Senhor é o nosso
Juiz”. (Isa. 33:22).
Gên. 18:25 O
Juiz de toda a terra
Salmos 50:3-6 Deus
é o próprio juiz
Salmos 94:2 És
juiz da terra
Hebreus 12:23 Deus,
o Juiz de todos
A palavra julgamento
é usada de muitas maneiras. Existem muitos aspectos da obra de julgamento.
Julgamento pode significar (1) determinar a culpa ou inocência, (2) pronunciar
o veredicto de condenação ou absolvição, (3) separar os homens em grupos, ou
(4) executar a pena sobre o culpado e conceder a recompensa ao justo.
1. Base para o julgamento.
A santidade e a justiça de Deus constituem a base para o julgamento divino.
Porque Deus é Santo, Ele não pode aprovar o pecado. A punição dos pecadores e a
recompensa para o reto são exigências do caráter santo de Deus.
Salmos 89:14 Justiça e
juízo são a base do teu trono
2 Tess. 1:5,6 Justo
diante de Deus
Apocalipse 15:3,4 Justos
e verdadeiros são os teus caminhos
Apocalipse 19:2 Verdadeiros
e justos são os teus juízos
2. Necessidade de julgamento. O salário do pecado deve ser a morte pois o
pecado é anti-Deus . Se Deus pudesse aprovar o pecado, Ele deixaria de ser
Santo. O caráter de Deus não pode mudar; Deus jamais deixará de ser santo. O pecado,
portanto, deve resultar em julgamento e destruição.
Romanos 1: 32 Dignos
de morte
Romanos 2:6 Recompensará
cada um segundo as suas obras
Romanos 6:23 O
salário do pecado é a morte
Romanos 8:6,13 A
mente carnal gera a morte
Gálatas 5: 19-21 Excluídos
do reino de Deus
Gálatas 6:7-9 Nós
colhemos o que semeamos
Apocalipse 21:8 Pecadores
destruídos na segunda morte
3. Certeza de
julgamento. O fato de que Deus não faz cair mortos os pecadores hoje no ato
do pecado não é uma indicação de que o pecado nunca será punido. O julgamento
futuro é certo. Algum dia a era da graça será sucedida pela era do julgamento.
Pecadores serão julgados e punidos; o justo será recompensado.
Salmos 103:8,9 Não
repreenderá perpetuamente
Eclesiastes 8:11-13 Como
se não executa logo o juízo
Eclesiastes 11:9 Te
trará Deus a juízo
Eclesiastes 12:14 Deus
há de trazer a juízo toda a obra
Mateus 12:36,37 As
palavras como base do julgamento
Atos 17:30,31 Um
dia determinado
Romanos 2:2-11 Não
faz acepção de pessoas
Romanos 14:10,12 Dará
conta de si mesmo a Deus
1 Cor. 4:5 Trará
à luz as coisas ocultas
2 Cor. 5:10 Porque
todos devemos comparecer
Hebreus 9:27 Vindo,
depois disto, o juízo
1 Pedro 4:5 Os
quais hão de dar conta
4. A ira de Deus.
A ira de Deus é seu desprezo pelo pecado. É sua santa atitude em relação ao
ímpio. O juízo divino revela sua ira.
Romanos 1:18 A
ira revelada através do evangelho
Salmos 2:5 Falará
na sua ira
João 3:18-21 Quem
não crê já está condenado
João 3:36 A
ira de Deus sobre o infiel
Efésios 2;3 Filhos
da ira
Colossensses 3:6 Ira de Deus sobre os filhos da
desobediência
Apocalipse 6:12-17 É
vindo o grande dia da sua ira
Apocalipse 11:17,18 E
veio a tua ira
Apocalipse 14:7 Porque
vinda é a hora do seu juízo
Apocalipse 14:18-20 Grande
lagar da ira de Deus
5. Julgamentos Divino
históricos. Embora o julgamento final e a punição dos pecadores não ocorra
até a Última Ressurreição e a segunda morte, Deus visitou a terra com
julgamento em várias ocasiões. A expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden foi
um julgamento divino. O dilúvio durante a vida de Noé revelou a ira de Deus
contra o pecado. A dispersão das nações e a confusão das línguas na Torre de
Babel também foi um julgamento divino. A destruição de Sodoma e Gomorra, as
pragas contra o Egito, e o cativeiro de Israel foram julgamentos históricos de
Deus. Os profetas profetizaram e escreveram juízos de Deus contra várias nações
antigas. A morte de Cristo pelos pecadores (João 12:31,32) revelou o juízo de
Deus contra o pecado. O Calvário é o tribunal do pecado e o propiciatório para
os pecadores.
6. Deus julgará os
homens através de Seu Filho. Deus fará a obra de julgamento através de Seu
Filho, Jesus Cristo. Como Deus, o Rei do universo, governará através do reinado
de Cristo, o Rei dos reis, e como Deus, o Salvador, realiza toda a Sua obra de
salvação por meio de Jesus, o Salvador; assim também Deus, o Juiz , cumprirá a
Sua obra de julgamento através de Cristo, futuro Juiz da terra.
João 5:22-30 Deus
deu ao filho todo juízo
Atos 17:31 Julgar
o mundo, por meio do varão que destinou
Romanos 2:16 Julgará
os segredos dos homens, por Jesus Cristo
Apocalipse 5:1-9 Digno
é o Cordeiro de julgar
7. Justificação, uma
Obra Judicial de Deus. Quando os crentes aceitam a Jesus como Substituto e
passam a estar unidos a Ele, Deus imputa sobre eles a justiça de Cristo. Então
como juiz, Deus anuncia que eles não são culpados. Ele declara que não estão debaixo
de condenação. Consequentemente eles são justificados. Justificação, o oposto
da condenação, é uma obra judicial de Deus através de Cristo.
8. Julgamentos
Futuros. Os julgamentos divinos futuros incluem a recompensa dos crentes quando Jesus vier, julgamento de
Israel e as nações sobreviventes, julgamento da Babilônia, da Besta e do Falso
Profeta, julgamento de Satanás, e o juízo final e destruição dos ímpios mortos.
Para uma consideração detalhada dos julgamentos futuros o leitor é remetido à
Escatologia, a sétima divisão da Teologia Sistemática.
IV. Trabalho de Redenção de Deus
O verso chave de nosso estudo sobre o governo de Deus sobre
o universo tem sido Isaias 33:22. Leia este verso novamente e note a última
frase. “Porque o Senhor é nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é
o nosso rei; Ele nos salvará”. Ele nos
salvará! Não somente Deus governa, faz leis, pune e recompensa, mas Ele também
redime e salva. Em Sua obra de dar existência ao universo, Deus é o Criador,
Mantenedor e Pai. Em Sua obra de governar o universo, Deus é Rei, Legislador e
Juiz. Na Sua obra de redenção e salvação, Deus é Redentor e Salvador.
A salvação
origina-se em Deus. É proporcionada pelo Seu amor, planejada pela Sua
sabedoria, e executada através do Seu poder. A meta da salvação é trazer homens
a Deus. Deus realiza Sua obra de salvação através de nosso Salvador, Jesus
Cristo. A Bíblia está cheia de referencias a Deus como Redentor e Salvador. Pode
parecer confuso para alguns perceberem que ambos, Deus e Seu Filho, ocupem a
posição de Salvador. Não precisa perplexidade, este fato é uma verdade
gloriosa. Deus executa Sua obra de salvação através de Seu Filho. Jesus é o
único Mediador entre Deus e a raça humana. Deus, o Salvador, trabalha através
do Salvador, Jesus Cristo. A graça de Deus é a origem da salvação e a morte
sacrificial de Cristo é a base da salvação. O homem não pode experimentar a salvação
sem Cristo.
Deus sustenta uma dupla relação com a humanidade: um
relacionamento criado ou providenciado e um relacionamento redentivo. O
relacionamento providencial é efetivo para com todos os homens. É exercitado tendo
em vista o fato de que todos os homens são criaturas de Deus e estão sujeitos
ao Seu governo universal. Todos os homens estão sujeitos às leis naturais do
universo. A relação redentiva de Deus é efetiva para com os homens que cumprem Seus
requisitos redentivos. É exercitado tendo em vista o fato de que os crentes passaram
a se relacionar com Deus de uma maneira especial através do Seu Filho.
Através da criação, Deus é Pai de todos os homens; através
da redenção Ele é o Pai somente dos crentes. Todos os homens, portanto, são
filhos criados por Deus, mas somente os crentes são filhos redimidos de Deus.
Assim também, todos os homens são irmãos através de Adão enquanto que somente os
Cristãos são irmãos por meio de Cristo.
Todas as criaturas têm o Espírito de Deus ou poder ( Salmos
104:30 ) na forma como Deus usa este poder para dar-lhes vida. Somente os
cristãos, porém, têm o Espírito de Deus (Rom. 8:9 ) na forma como Deus usa este
poder para dar aos homens a salvação. O Espírito de Deus na sua obra de dar
vida natural pode ser contatado diretamente por todos os homens. O Espírito
redentor de Deus porém, só pode ser contatado pelos crentes através de Cristo.
A realeza de
Deus também é dupla. Deus é o Rei do universo, exercendo ambas, a majestade
providencial e a redentiva. Através da Sua majestade providencial, Deus é Soberano;
através de Sua majestade redentiva, Ele é Salvador. A majestade providencial de
Deus refere-se ao Seu governo sobre Sua criação natural; Sua majestade
redentiva refere-se ao Seu governo sobre os redimidos. Todo homem entra no
reino providencial universal de Deus através do nascimento no mundo. Porém somente
os redimidos podem entrar no reino redentivo de Deus através de Seu plano de
salvação.
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