terça-feira, 6 de setembro de 2016

Capítulo XVIII - A Adoração a Deus

CAPÍTULO XVIII
A Adoração a Deus

Havendo considerado o ensinamento bíblico a respeito de Deus em sua existência, natureza, atributos e obras, nós agora avançamos para meditar sobre a adoração a Deus.

I. Adoração, obediência e amor
O tríplice dever do homem para com Deus é adoração, obediência e amor. Os homens adoram a Deus por causa de Seus atributos e obras. Eles O obedecem porque Ele é Rei, Legislador e Juiz. Eles O amam porque Ele tem revelado Seu amor para com eles na Sua obra de criação, preservação e redenção.

Nesta tríplice obrigação para com Deus, os homens devem responder com todo seu ser. Eles devem adorar a Deus com todo seu interior. (Salmos 103:1 ) Eles devem obedecer a Deus por completo em todas as esferas da vida. Eles devem amar a Deus de todo o coração, alma e mente. (Mat. 22:37) Os homens encontram unidade de personalidade e propósito na lealdade total a um Deus supremo.

A adoração, obediência e amor do homem a Deus não são opcionais; são requisitos divinos. Deus tem o direito de receber a adoração do homem, a submissão da vontade e o coração amoroso. Os homens pertencem a Deus. Eles são a obra de Suas mãos. Ele tem completa autoridade sobre eles. Deus não tem dívida com os homens; os homens têm dívida para com Deus. Deus não deve obrigação aos homens, os homens devem tudo a Deus. Quando o homem adora, obedece e ama o Seu Criador, Soberano e Redentor, ele está fazendo um serviço racional e esperado.

Os homens foram criados para adorar a Deus. Deus fez o homem de forma que fique incompleto até que esteja centrado em Deus. Agostinho disse: “Fizeste-nos Senhor para Ti, e o nosso coração anda inquieto, enquanto não repousar em Ti”. O homem é naturalmente  religioso. Seu coração já nasce faminto por Deus.

Porém, habitando na escuridão separado de Deus, o homem caído se distorce e é pervertido. Ao invés de centrarem-se em Deus, os pecadores estão centralizados em si mesmos. Ao invés de adorar o Criador, ele adoram a criatura e a obra de suas próprias mãos. Ao invés de obedecer a vontade de Deus, eles declaram sua independência de Deus e caminharam em seus próprios caminhos. Ao invés de estarem cheios do amor de Deus, seus corações estão cheios do amor egoísta.

O homem pecador não pode adorar, obedecer e amar a Deus de forma aceitável até que seja apropriadamente vinculado a Deus pela obra mediadora de Jesus Cristo. O pecador deve dar as costas ao pecado em arrependimento, antes de levantar o rosto em adoração a Deus. Deve exercer a confiança em Cristo como Sacrifício antes que possa render-Lhe a obediência apropriada como Senhor. Ele deve se entregar à graça salvadora de Deus e ao poder transformador, antes que ele possa ser cheio da justiça imputada por Cristo que é o amor. Portanto, somente através da redenção feita por Jesus Cristo, pode o homem preencher satisfatoriamente sua tríplice responsabilidade de adorar, obedecer e amar.

II. O significado de adorar

Adoração a Deus é reverência. É reconhecer o que Deus é e o que Ele tem feito. Reverenciar é reconhecer o mérito. A adoração do crente revela o quanto Deus é valioso para ele. A adoração é o coração do homem curvando-se diante de Deus em contemplação. Os homens são redimidos não apenas para servir a Deus, mas também para reverenciar e adorar. A conversão não é o fim da experiência cristã. Ela é a abertura da porta para uma vida de comunhão com Deus.

Alguém observou que a teologia é uma ciência, religião é uma vida; moralidade é uma lei ; adorar é uma arte.

Os seguintes parágrafos foram retirados do artigo escrito por Robert W. Battles. O título do artigo é: “A arte perdida da adoração e como encontrá-la novamente”. (The lost art of worship and how to find it again) O artigo apareceu na revista The Alliance Weekey, em 22 de agosto 22 de 1951.

Adoração é aquele ato e atitude do povo de Deus no qual e pelo qual eles reconhecem a Sua supremacia, buscando render-Lhe a homenagem e a reverência que Lhe é devida, reconhecendo suas faltas para com Ele e agradecendo por Suas misericórdias, e logo ficam em silêncio para ouvir a Sua voz. A adoração atinge o seu mais alto grau quando nós estamos tão submetidos ao sentido da glória transcendental de  Deus que ficamos “perdidos em maravilha, amor e louvor”.
Frequentemente a adoração assume a forma espontânea, uma resposta não premeditada que vem quando as janelas da alma foram violentamente abertas, e a luz do sorriso de Deus e o calor, o doce sopro do Seu Espírito vêm sobre nós.
Adoração é uma arte amplamente perdida em nossos dias, porque a carência de uma pregação bíblica tem feito com que o povo de Deus tenha uma concepção de Deus muito aquém daquilo que Deus realmente é. Uma concepção inadequada de Deus não produz a adoração.
As maravilhas de Deus precisam ser vistas como transcendentes. Precisamos reconhecer o quanto Deus é digno. Nossas vontades precisam ser rendidas. Sem estes três elementos a adoração é impossível.
A maravilhosa transcendência de Deus sobrevém quando nós vemos o que Ele é. A dignidade de Deus é reconhecida quando nós vemos o que Ele tem feito. E a renúncia de nossa vontade nos alcança num relacionamento que se torna possível por conta do que Ele é, e do que Ele tem feito. 

III. Cinco Elementos da Oração

A adoração é um dos cinco elementos da oração. Os cinco elementos ou tipos de oração são: adoração (veneração), confissão, gratidão, petição ( súplica) e intercessão. Na confissão a pessoa está preocupada com os seus pecados. Na gratidão está envolvida com as bênçãos. A petição tem relação com as necessidades desta pessoa. Na intercessão ela se preocupa com as necessidades dos outros. Na adoração ou veneração, porém, a pessoa que ora está envolvida com o próprio Deus. A adoração é a mais elevada forma de oração.

Adoração                              O próprio Deus
Confissão                              Nossos pecados
Gratidão                                Nossas bênçãos
Petição                                  Nossas necessidades
Intercessão                            Outros  

Muitas orações e hinos da bíblia e do cristianismo podem ser classificados de acordo com sua ênfase num destes cinco aspectos. Exemplos são listados a seguir.

Orações de adoração na Bíblia: 1 Crônicas 29:10-13; Salmos 72:18,19; Salmos 103; Apocalipse 5:13; Orações de confissão: Lucas 18:13; Daniel 9: 4-19; Salmos 6; 32; 38; 51; 102; 130; 143. Orações de gratidão: Salmos 107; João 11: 41,42;  Orações de petição: 1 Samuel 1:11; Salmos 13. Orações de intercessão: Êxodo 32:31,32; Números 14:17-20; João 17.

Seguem algumas orações famosas e hinos ilustrando estas cinco classificações.

Adoração

Bendito és Tu, Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eternidade em eternidade. Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos como chefe. E riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e dar força a tudo. Agora, pois, ó Deus nosso, graças te damos e louvamos o nome da tua glória. ( 1 Crônicas 29: 10-19 )

Santo, Santo, Santo, Senhor Deus todo poderoso, que eras, que é, e que hás de vir. (Apocalipse 4:8 )

Glória a Deus nas alturas, paz na terra e boa vontade entre os homens. Nós te louvamos, bendizemos, adoramos, glorificamos e te damos graças por Tua grande glória. Ó Senhor Deus, Rei do céu, Deus Pai onipotente. ( De um hino antigo: Gloria in Excelsis)

Confissão

Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. (Salmos 51: 1, 2 )

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, dai-nos a paz. (Agnus Dei)

Pai poderoso e misericordioso; Nós temos errado, e nos desviado de teus caminhos como ovelhas perdidas. Nós temos seguido os desígnios e desejos de nossos próprios corações. Nós temos ofendido Tuas santas leis. Nós não temos feito aquelas coisas que devíamos fazer; E temo feito aquelas coisas que nós não devíamos fazer. Nós não estamos limpos. Mas Tu, ó Senhor, tem misericórdia  de nós, ofensores miseráveis. Tem misericórdia daqueles, ó Deus, que confessam suas faltas. Tu restauras aqueles que são penitentes; De acordo com Tua promessa declarada para a humanidade em Cristo Jesus nosso Senhor. E concede, ó tão misericordioso Pai, por causa dele; Que nós possamos no porvir viver uma vida agradável, reta e sensata. Para a glória do Teu Santo nome. Amém. (Livro de Oração Comum)

Gratidão

Pai misericordioso e todo-poderoso; de quem procede toda boa dádiva e todo dom perfeito; Nós damos a Ti louvor e gratidão de coração por todas as tuas misericórdias; Pois pela tua bondade nos criaste, Tua generosidade nos tem sustentado; Tua disciplina Paternal nos tem corrigido; Tua paciência que tens tido para conosco, e Teu amor que nos tem redimido.
Concede-nos por Teus dons um coração que Te ame; e nos habilita a mostrar nossa gratidão por todos os Teus benefícios; dando nós a Ti culto, e regozijando em todas as coisas para fazer Tua bendita vontade; Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém. (Livro de Oração Comum)

Petição

Deus todo poderoso, a quem todos os corações estão descobertos, todos os desejos são conhecidos, e de quem os segredos não estão escondidos: Limpa os pensamentos de nossos corações pela inspiração do Teu Santo Espírito, de forma que possamos amar perfeitamente a Ti, e dignamente magnificar Teu Santo nome; Por Cristo nosso Senhor. Amém. ( Uma coletânea antiga)

Intercessão

Perdoa, pois, a iniquidade deste povo, segundo a grandeza da Tua benignidade. ( Números 14:19 )

Ó Deus, eu me levanto para a luz do Teu amor, este que tens derramado em meu coração, N........., sabendo que Tu farás por ele coisas melhores do que eu possa pensar ou pedir. Querido Pai, eu o coloco em Tuas mãos, corpo, mente e alma, em nome de Cristo. Amém. ( Garret, Constance. Growth in Prayer. New York: Macmillan, 1950, p.82).

IV. Adoração e atributos de Deus

Os homens se tornam parecidos com a divindade que adoram. Eles são transformados à imagem daquilo que adoram. Assim como as flores crescem belas ao olharem para o sol, os homens se tornam religiosos pela adoração de Deus em toda a Sua glória. Os crentes experimentariam um enriquecimento em sua vida espiritual se gastassem vários minutos a cada dia adorando a Deus em Seus atributos e obras.

Os atributos naturais de Deus, os atributos morais e Suas relações com o universo constituem a estrutura para a adoração. Quando nós mencionamos os seis atributos naturais de Deus, nós indicamos que Ele é infinito, eterno e imortal, imutável, perfeito em conhecimento, onipresente e todo-poderoso. Os três atributos morais de Deus são santidade, amor e verdade. As sete posições relativas de Deus: Criador, Mantenedor, Pai, Rei, Legislador, Juiz e Redentor.

Com um coração cheio de amor o crente pode adorar a Deus em cada um de Seus atributos. Ele pode orar: “Infinito Deus eu Te adoro. Deus Eterno e imortal, eu Te adoro. Imutável Deus, eu Te adoro. Tu que és perfeito em sabedoria, eu me ponho em reverência diante de Ti. Tu que és onipresente, meu coração busca por Ti. Tu que és todo-poderoso, eu Te adoro. Ó Deus que és santo, santo, santo, eu Te adoro. Ó Deus, cujo coração é amor, eu Te adoro. Ó Deus, que és verdade, eu Te adoro.”

O cristão pode adorar a Deus tendo em vista Suas sete posições relativas ao universo. Cada obra divina de Deus revela Seu glorioso merecimento e clama pela adoração do crente. O crente pode orar : “Criador de toda existência, eu te adoro. Mantenedor e Preservador de todas as coisas que fizeste, eu te adoro. Pai amoroso, que fizeste o homem e lhe deste vida, eu Te adoro. Exaltado Rei do universo, meu coração se dobra ante a Ti. Legislador que formulaste as leis da natureza e os padrões de conduta para o homem, eu exalto Teu nome. Santo juiz de toda a terra, eu Te adoro. Benigno Redentor que por meio de Jesus Cristo redime o homem pecador, meu coração Te adora em amor”.

Na adoração a Deus, o crente reconhecerá que sua própria natureza se opõe aos atributos de Deus. Deus é infinito; ele é finito. Deus é perfeito; ele é imperfeito. Deus é de eternidade em eternidade; a vida do homem é um sopro, transitória. Deus é imortal; ele é mortal, etc...

Quando o crente vê a sua vida em contraste com os atributos de Deus, ele rogará para que Deus, em Sua perfeita vontade possa vir de encontro com suas necessidades e transforme sua vida. Por exemplo, ele orará a Deus, que é perfeito em conhecimento, que o conduza nos caminhos da verdade. Ele orará para que o Deus imutável transforme seu coração e sua vida à semelhança de Seu Filho. E pedirá a Deus, que é amor, para remover todo o orgulho de seu coração, preenchendo-o totalmente com o Seu amor.

A adoração a Deus é uma prática que deveria ser cultivada por todo cristão. A adorar e a oração estão alicerçadas na obra sacrificial de Cristo. Jesus é uma janela aberta pela qual Deus pode ser visto em toda Sua beleza. Jesus é uma porta aberta, pela qual nós podemos entrar numa bendita amizade com Seu Pai. Ele é o nosso templo vivo, nosso eterno Sumo Sacerdote e nosso sacrifício absolutamente suficiente. Ao iniciarmos uma relação redentora com Cristo formamos a base da adoração que o fiel presta a Deus.


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